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“Por causa da pressão, escapar de um submarino é a última opção”

Especialista em medicina hiperbárica explica que, caso tripulantes houvessem sobrevivido, a única opção teria sido aguardar um resgate

Por Cláudio Rabin, de Mar del Plata
Atualizado em 4 jun 2024, 17h46 - Publicado em 1 dez 2017, 06h30

Até esta quinta-feira, a sociedade argentina parecia viver um transe: apesar de o submarino ARA San Juan haver desaparecido no oceano há quinze dias e de todos os indícios apontarem para uma explosão como a causa do sumiço, poucos no país ousavam em cogitar a possibilidade de que os 44 tripulantes a bordo da embarcação pudessem ter morrido. A fé em um milagre improvável desafiava a racionalidade.

O início do fim para a negação coletiva e a constatação de que provavelmente não se encontrarão sobreviventes veio no início da noite com uma declaração do porta-voz da Marinha argentina, Enrique Balbi, de que o foco das buscas deixaria de ser a busca pelos marujos ainda com vida.

Antes disso, o médico Gustavo Mauvecino, especialista nos efeitos da pressão sobre o corpo humano, conversou com Veja para explicar quais seriam as chances de se escapar de um submarino sob a violenta pressão do oceano a pelo menos 250 metros de profundidade. Ele não chega a dizer abertamente que todos os tripulantes do submarino desaparecido estariam necessariamente mortos. O que ele demonstra cientificamente, porém, é que a sobrevivência dos marinheiros sem um resgate especializado seria quase impossível.

“Com a pressão, não acontece nada com a parte líquida e sólida. O problema é na parte onde tem ar, como ouvidos e pulmões, que vão se contraindo”, diz Mauvecin, que também é diretor do centro de medicina hiperbárica de Mar del Plata e que chegou a ser convocado pelas Forças Armadas nos primeiros dias das buscas.

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Especialista em medicina hiperbárica, Gustavo Mauvecin, explica efeitos da pressão no ccorpo de submarinistas. (Claudio Goldber Rabin/VEJA.com)
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E quanto mais fundo, maior é a força que o peso do oceano, com toda sua pressão, exerce sobre os corpos. Na parte interna do submarino, a pressão é mantida artificialmente no mesmo nível que à superfície. Contudo, uma tentativa de fuga em grande profundidade seria fatal. “Escapar é sempre a última opção. O que os tripulantes fazem é esperar pelo resgate. O trabalho está em conseguir fazer o oxigênio durar mais tempo”. Quando a embarcação desapareceu, o cálculo é que se tinha entre sete e oito dias de ar.

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Área de buscas pelo submarino argentino ARA San Juan (André Fuentes/VEJA.com)

Segundo Mauvecin, que trabalhou por 18 anos na base naval e esteve muitas vezes no ARA San Juan, o maior escape já registrado foi feito por três ingleses a 120 metros abaixo d’água. “E todos saíram com problemas”, lembra.

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Um empecilho adicional: o oxigênio respirado dentro de um submarino é associado a outro gás, o nitrogênio, que se mistura aos tecidos e ao sangue, mas não é processado pelo organismo. “Em um ambiente de alta pressão, o nitrogênio tem no corpo humano efeito similar ao de uma pastilha efervescente”.

Caso a embarcação tenha descido ao fundo do mar com os tripulantes vivos, ainda haveria mais uma adversidade: a hipotermia. “Como a temperatura da água é de 5° C, o metal da embarcação conduz o calor para fora”, diz o médico.

“Não creio que haveria chance de escapar”, resume.

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Efeito da pressão sobre garrafas em câmara hiperbárica. (Claudio Rabin/VEJA.com)
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