Polônia pede armas nucleares dos EUA para se defender da Rússia
Pedido foi visto como ação simbólica, uma vez que tem pouco sentido estratégico; Casa Branca nega ter recebido qualquer solicitação
O governo da Polônia disse nesta quarta-feira, 5, que pediu para ter armas nucleares dos Estados Unidos em seu território em meio a temores crescentes de que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, possa fazer uso de armamento nuclear na Ucrânia para evitar uma derrota.
O pedido feito pelo presidente Andrzej Duda é visto como totalmente simbólico, uma vez que aproximar ogivas nucleares do território russo as deixariam mais vulneráveis e menos úteis militarmente. Além disso, a Casa Branca disse não ter recebido nenhuma solicitação deste tipo.
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O anúncio do líder polonês, no entanto, é o exemplo mais recente da sinalização militar que voltou a rondar a comunidade internacional após Putin fazer uma ameaça velada durante discurso à nação no final de setembro.
Segundo o governo americano, não há indicações concretas de que o Kremlin esteja planejando utilizar qualquer tipo de arma nuclear, mas alguns países ocidentais como a Ucrânia e a Alemanha demonstraram preocupação ao longo das últimas semanas.
A fala de Duda acontece no mesmo momento em que Belarus fez mudanças em sua Constituição permitindo que a Rússia instale armamentos nucleares em seu território. Desse modo, o presidente polonês disse que havia uma “oportunidade potencial” para a Polônia participar do “compartilhamento nuclear”, programa em que os pilotos da nação anfitriã são treinados para voar em missões carregando bombas nucleares americanas armazenadas em seu país.
“Conversamos com líderes americanos sobre essa possibilidade e a questão está aberta”, disse Duda ao jornal Gazeta Polska.
A ação, no entanto, pode representar uma violação do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, assinado pelos americanos, e da lei de fundação da Otan, na qual a aliança declarou não ter planos de implantar armas nucleares em territórios aliados. Além disso, especialistas acrescentam que faz pouco sentido estratégico realizar esse movimento.
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Todos os números relacionados a esse tipo de armamento são especulativos, mas de acordo com a Federação de Cientistas Americanos (FAS), cerca de 100 armas nucleares americanas ainda estão espalhadas pela Europa após o fim da Guerra Fria. Essas bombas eram até então tidas como obsoletas, mas um serviço de modernização pode torná-las ativas em pouco tempo.
“A razão pela qual eles estão fazendo isso é para proteger essa força contra o que eles consideram a crescente ameaça dos mísseis convencionais da Rússia, então seria um desenvolvimento extraordinariamente estranho se a Otan decidisse mover armas nucleares para mais perto das fronteiras russas”, disse o diretor do projeto de informação nuclear da FAS, Hans Kristensen, ao jornal britânico The Guardian.
A Polônia levantou a questão em um momento de maior tensão sobre o uso de armamento nuclear desde o final da Guerra Fria. Após o discurso de Putin, os Estados Unidos disseram que haverão “consequências catastróficas” caso a ameaça se concretize, embora não tenha entrado em detalhes. Na última semana, o ministro das Relações Exteriores polonês, Zbigniew Rau, disse que a resposta deveria ser devastadora, mas não nuclear.
O cenário ainda é incerto. Especialistas apontam que a Rússia dificilmente irá realizar um ataque nuclear, principalmente pelo fato de que uma demonstração de poder causaria indignação na comunidade internacional e pouco mudaria o curso da guerra. Além disso, uma ofensiva que vise chocar a Ucrânia para forçá-la a se render seria um ato de transgressão muito superior a tudo que vem sendo feito.
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Do lado ocidental, é improvável que haja uma resposta por parte da Otan, uma vez que qualquer movimentação dependeria da aprovação de seus trinta Estados-membros. Outra hipótese seria a de que os Estados Unidos pudessem intervir diretamente no confronto aliado a nações próximas como o Reino Unido, mas isso faria com que a guerra escalasse para um nível que vem sendo evitado há quase 80 anos.