Polícia revista escritórios da Jeju Air e proíbe CEO de deixar Coreia do Sul após acidente
Tragédia que matou 179 pessoas na semana passada é investigada internamente e por autoridades americanas

A polícia sul-coreana invadiu escritórios da Jeju Air e da operadora do Aeroporto Internacional de Muan nesta quinta-feira, 2, como parte da investigação sobre o acidente que matou 179 pessoas dias antes. Depois do pior desastre de aviação na Coreia do Sul, o CEO da companhia aérea, Kim E-bae, também foi proibido de deixar o país por ser considerado uma testemunha-chave e possível responsável pela tragédia.
O Jeju Air 7C2216, que partiu da capital tailandesa de Bangkok com destino a Muan, no sudoeste da Coreia do Sul, precisou fazer um pouso forçado no último domingo 29, mas houve uma aparente falha no trem de pouso e a aeronave acabou deslizando pela pista e atingindo uma cerca, quando explodiu em chamas. Apenas duas pessoas, comissários de bordo que estavam sentados na cauda do Boeing 737-800, sobreviveram. Um deles se encontra em estado crítico.
A conversão de dados do gravador de voz da cabine dos pilotos, que podem fornecer informações sobre os minutos finais do voo, foi concluída nesta quinta-feira, afirmou Joo Jong-wan, vice-ministro da Aviação Civil, em uma entrevista coletiva. No entanto, ele disse que pode ser difícil liberar os arquivos para o público, pois eles serão essenciais para as investigações em andamento.
Negligência
Nesta quinta, a polícia sul-coreana fez batidas para revistar os escritórios da operadora do Aeroporto Internacional de Muan, da autoridade de aviação do Ministério dos Transportes na cidade e da Jeju Air, em Seul. O objetivo era apreender documentos e materiais relacionados à operação e manutenção da aeronave, bem como à operação das instalações do aeroporto, segundo a agência de notícias Reuters.
Os agentes também proibiram o CEO da Jeju Air, Kim E-bae, e outro oficial da companhia aérea, que não foi identificado, de deixar o país. Os dois seriam testemunhas-chave da investigação, de acordo com a Reuters, e podem enfrentar a acusação de causar mortes por negligência. O crime é punível com até cinco anos de prisão ou multa de até 20 milhões de wons (quase R$ 85 mil).
O diretor da Jeju Air, Song Kyeong-hoon, afirmou a repórteres que a empresa está cooperando com as autoridades.
Investigação
As perguntas de especialistas em segurança aérea sobre o que levou à tragédia se concentraram no aterro, o muro projetado para sustentar uma antena “localizadora” para guiar pousos. Analistas avaliam que a estrutura do aeroporto de Muan era rígida demais (concreto maciço, ao invés de metal), e muito próxima do final da pista de pouso, o que pode ter provocado o choque intenso que fez o avião explodir.
Joo, o vice-ministro da Aviação Civil, disse que ainda não há detalhes claros sobre por que a atualização do aterro foi adiada. Ele acrescentou que o ministério agora está realizando uma verificação da estrutura em aeroportos em todo o país.
Outra investigação paralela sobre o voo da Jeju Air envolve autoridades sul-coreanas e o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos Estados Unidos, a Administração Federal de Aviação (FAA) americana e a fabricante da aeronave, a Boeing.
Ainda não está claro por que o trem de pouso não foi acionado, nem por que o piloto precisou fazer uma segunda tentativa de pouso após dizer à torre de controle que o avião havia sofrido uma colisão com pássaros. A “caixa preta” da aeronave, que sofreu alguns danos, está sendo levada aos Estados Unidos para análise em cooperação com o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes.
O presidente em exercício da Coreia do Sul, Choi Sang-mok – nomeado ao cargo na semana passada, depois que o presidente interino anterior, o primeiro-ministro Han Duck-soo, sofreu impeachment em meio a uma crise política em andamento no país – disse em uma reunião de gerenciamento de desastres que ações imediatas devem ser tomadas se uma inspeção especial de todas as aeronaves Boeing 737-800 operadas no país encontrar algum problema.
Choi também pediu que nenhum esforço fosse poupado para ajudar as famílias das vítimas durante o processo de liberação dos restos mortais. Ele também pediu à polícia que tome medidas contra qualquer pessoa que publique mensagens “maliciosas” e notícias falsas nas redes sociais relacionadas ao desastre.