Polícia alemã investiga ativistas ambientais como ‘grupo criminoso’
O grupo Last Generation é responsável por diversos protestos contra combustíveis fósseis em cidades alemãs e no exterior
Nesta quarta-feira, 24, a polícia da Alemanha realizou diversas operações em sete estados do país contra ativistas ambientais, sob a acusação de formarem um grupo criminoso. Ao todo, sete pessoas de 22 a 38 anos são suspeitas, mas nenhuma prisão foi feita em conexão com as atividades controversas dos ativistas.
Durante meses, o grupo Last Generation (“Última Geração”, em tradução livre) vem bloqueando vias e realizando atos polêmicos por todo o país, como arremessar purê de batata em uma obra de arte. O chanceler alemão, Olaf Scholz, condenou a campanha como “completamente louca”.
O Parlamento alemão discute se o grupo pode ser legalmente definido como uma organização criminosa. Enquanto os parlamentares conservadores exigem penas duras, incluindo sentenças de prisão, os esquerdistas são contra o que pode se tornar uma perigosa repressão autoritária.
Cerca de 170 policiais participaram das operações desta quarta-feira em prédios residenciais e comerciais em Berlim, Baviera, Dresden, Hamburgo e outras cidades. O site do grupo saiu do ar e duas contas relacionadas foram congeladas.
+ Casa de Hitler na Áustria será usada para treinamento de direitos humanos
Os sete suspeitos são acusados de organizar uma campanha para arrecadar 1,4 milhão de euros, cerca de R$ 7,4 milhões, para financiar “outros atos criminosos”. A polícia e os promotores disseram que as revistas tinham como objetivo fazer um reconhecimento da estrutura e membros do Last Generation.
Em Berlim, os ativistas estão fazendo barulho. Vias bloqueadas se tornaram um evento comum, e não há quem não tenha recebido panfletos sobre eventos e treinamentos do Last Generation. Além disso, dois dos ativistas sob investigação são suspeitos de tentar sabotar, em 2022, um importante oleoduto, que atravessa os Alpes desde a costa italiana de Trieste até Ingolstadt.
Na semana passada, ativistas bloquearam 12 ruas da cidade com carros ou seus próprios corpos. Porém, muitas pessoas ficam apenas indignadas pelo estorvo no trânsito e a maioria dos alemães discorda das táticas do grupo. Em uma pesquisa realizada pela revista alemã Der Spiegel neste mês, 79% dos entrevistados disseram que as ações do grupo estavam erradas, e apenas 16% concordaram com os ativistas.
+ Alemanha condena autores de roubo ‘cinematográfico’ de diamantes em museu
O Last Generation criticou a operação e questionou quando as autoridades vão revistar “estruturas de lobby e confiscar fundos fósseis do governo”. Outro grupo de ação climática, Ende Gelände, reclamou que os ataques tinham como alvo as pessoas que buscavam “soar o alarme sobre a crise climática, e não os responsáveis por ela”.
O grupo teve um papel fundamental nos protestos contra a expansão de uma mina de carvão a céu aberto na vila de Lützerath em janeiro, onde a ativista Greta Thunberg foi brevemente detida.
Em outubro de 2022, dois ativistas também jogaram purê de batata em uma pintura de Claude Monet em um museu em Potsdam, perto de Berlim, e depois se colaram a uma parede, uma ação que imitou protestos no Reino Unido pelo grupo Just Stop Oil.
+ Sessenta anos depois, Alemanha fecha últimas usinas nucleares do país
O movimento não se limita a Alemanha e ao Reino Unido. Nesta quarta-feira, dois ativistas invadiram uma área em frente ao parlamento austríaco em Viena, desafiando a proibição de protestos do lado de fora do prédio.
Na Itália, três ativistas foram levados ao tribunal por se colarem a uma escultura do museu do Vaticano que remonta à época romana. Ativistas pertencentes ao grupo também pintaram a fonte de Trevi, em Roma, com tinta preta, como protesto contra os combustíveis fósseis.