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Pesquisadores revelam inédita biblioteca perdida de Charles Darwin

Organizada pelo projeto Darwin Online, a vasta coleção inclui parte majoritária de livros, panfletos e periódicos lidos ou citados pelo evolucionista

Por Paula Freitas Atualizado em 7 Maio 2024, 17h19 - Publicado em 13 fev 2024, 11h42

Uma iniciativa internacional lançou nesta segunda-feira, 12, uma reconstituição inédita da impressionante biblioteca do naturalista britânico Charles Darwin, em homenagem ao seu 215º aniversário. Organizada pelo projeto Darwin Online, a vasta coleção inclui parte majoritária de livros, panfletos e periódicos lidos ou citados pelo pesquisador, reunindo 7.400 títulos originais e 13.000 volumes na coletânea. Para facilitar o acesso, o catálogo apresenta 9.300 links de cópias gratuitas disponíveis na internet, de forma a incentivar a leitura das obras.

“Esta visão detalhada sem precedentes da biblioteca completa de Darwin permite apreciar mais do que nunca que ele não era uma figura isolada trabalhando sozinha, mas um especialista de seu tempo, baseado na ciência sofisticada, nos estudos e em outros conhecimentos de milhares de pessoas”, disse o diretor do Darwin Online, John van Wyhe, historiador na Universidade Nacional de Singapura, à emissora americana CNN. “O tamanho e a variedade de obras na biblioteca manifestam a extraordinária extensão da investigação de Darwin no trabalho de outros.”

A meticulosidade do pai da teoria evolucionista auxiliou no processo. Enquanto estava vivo, ele manteve um detalhado registro do que lia no manuscrito “Catálogo da Biblioteca de Charles Darwin”, de 426 páginas. Em uma parcela dos casos, no entanto, os pesquisadores tiveram de realizar um árduo trabalho: o biólogo, ainda que organizado, abreviou ou deixou vaga parte das fontes. Foi preciso, então, analisar cada pedaço de papel, documento, diário, caderno, lista e carta encontrada ao longo da empreitada. Alguns deles, de séculos atrás.

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Em busca dos livros

Embora tenha sido preservado após sua morte, em 1882, o acervo foi desmantelado com o passar dos anos. Duas amplas coleções  ficaram sob domínio da Universidade de Cambridge e da Down House, casa de Darwin na Inglaterra, aberta ao público. Mas, juntas, representam apenas 15% do conjunto original, com 1.480 livros.

Impulsionados por pesquisadores, van Wyhe e seus colegas deram os primeiros passos para a criação da biblioteca virtual em 2007. Para isso, mergulharam de cabeça nas informações disponibilizadas na Down House, na Biblioteca da Universidade de Cambridge e no Christ’s College Cambridge, bem como em coleções privadas. Após dezoito anos de trabalho, os pesquisadores finalmente conseguiram oferecer ao público as obras enfileiradas em estantes e mais estantes do naturalista, tudo a apenas um clique.

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“Os estudiosos pesquisam a vida e a obra de Darwin há mais de um século”, explicou van Wyhe. “Um dos elementos mais importantes para a compreensão das teorias de Darwin são as suas fontes – as publicações de outros que ele usou na sua investigação.”

“Foram cerca de 5.000 pequenas histórias de detetive – tentando descobrir qual autor ou artigo Darwin observou ler –, é uma alegria encontrar ouro e encontrar a fonte exata a que ele estava se referindo”, acrescentou. “Podemos agora mostrar que originalmente ele tinha muito mais em sua impressionante biblioteca.”

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Quais obras Darwin lia?

Entre os encadernados encontrados estão o artigo “Relato dos Hábitos do Urubu”, do ornitólogo John James Audubon, e um exemplar de Explorações e Aventuras na África Equatorial, do zoólogo Paul Du Chaillu, primeiro europeu a descrever gorilas na natureza em expedições à África na década de 1850.

Além de biologia, Darwin tinha particular interesse por filosofia, tendo lido obras de John Stuart Mill e Auguste Comte. Ele também se aventurou em psicologia, religião, arte, história, viagens, agricultura e criação e comportamento animal, tendo escrito trabalhos sobre todos esses temas. Metade da coletânea incluía livros em francês, alemão, italiano, holandês, dinamarquês, latim, espanhol e sueco. Segundo van Wyhe, a pluralidade de idiomas foi uma descoberta e tanto, já que o teórico era conhecido como um linguista pobre.

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Ele também leu diários de viagem de exploradores e missionários para entender quais gestos eram usados ​​por diferentes grupos étnicos. A biblioteca também tinha espaço para romances. Em 2019, uma cópia de Wives and Daughters, de Elizabeth Gaskell, de 1866, foi leiloado com um recado que dizia: “Este livro foi um grande favorito de Charles Darwin e o último livro a ser lido em voz alta para ele”.

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Darwin no Brasil

“A viagem do Beagle foi de longe o acontecimento mais importante em minha vida e determinou toda a minha carreira.” Foi assim que Darwin definiu a excursão que fez por quase todos os continentes, com paradas que incluem o arquipélago de Galápagos e países da América do Sul, incluindo o Brasil. Sua primeira parada em solo tupiniquim foi nos Rochedos de São Paulo, em fevereiro de 1832. Em seguida, desembarcou em Fernando de Noronha e em Salvador, onde conheceu, pela primeira vez, a floresta tropical.

“Deleite é um termo insuficiente para expressar as emoções sentidas por um naturalista que, pela primeira vez, se viu a sós com a natureza no seio de uma floresta brasileira. A elegância da relva, a novidade dos parasitos, a beleza das flores, o verde luzidio das ramagens, e, acima de tudo, a exuberância da vegetação em geral, foram para mim motivos de uma contemplação maravilhada”, escreveu.

Entre abril e julho, esteve no Rio de Janeiro. Ele relatou que recebeu um convite de um inglês para visitá-lo em sua fazenda em Cabo Frio, pedido aceito “de bom grado”. Na obra A Viagem do Beagle (com diferentes traduções), Darwin aproveitou para defender o fim da escravidão, mirando as críticas nos brasileiros.

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