Paradoxo: presidente da Cop28 é chefe de uma empresa de petróleo
Decisão deixou diversos ativistas preocupados com possíveis conflitos de interesse
O governo dos Emirados Árabes Unidos disse nesta quinta-feira, 12, que o ministro da Indústria e da Tecnologia Avançada, Sultão Al Jaber, responsável por presidir a cúpula climática das Nações Unidas deste ano, a Cop28, vai manter seu cargo como chefe de uma empresa de petróleo do país.
Diversos ativistas ficaram irritados com a decisão, argumentando que o paradoxo envolve diversos conflitos de interesse. Para alguns, seria o mesmo que nomear o chefe de uma empresa de tabaco para comandar uma campanha antitabagista. Críticos temem que o processo de negociação possa ser comprometido, resultando em uma aceleração no colapso climático.
“Estamos extremamente preocupados que isso abra as comportas para o greenwashing e acordos de petróleo e gás para continuar explorando combustíveis fósseis”, afirmou a chefe da campanha global do grupo pressão 350.org, Zeina Khalil Haji. O anglicismo se refere à apropriação de bandeiras ambientalistas, com técnicas de marketing e relações públicas, para aparentar virtude.
Já a assessora climática da Anistia Internacional, Chiara Ligori, acredita que, com Al Jaber responsável por presidir a Cop28, o uso de combustíveis fósseis vai continuar a ser promovido.
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Al Jaber é presidente-executivo da Abu Dhabi National Oil Company (ADNOC), uma das maiores produtoras de petróleo do mundo. Os atuais planos da empresa de fazer novas perfurações representam a segunda maior expansão de produção de petróleo e gás do mundo.
Em 2023, os Emirados Árabes Unidos vão sediar a cúpula climática Cop28, que será em Dubai. O evento, que vai durar quinze dias e terá início no dia 30 de novembro, é visto como fundamental para limitar o aquecimento global a 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais, meta que os cientistas já alertaram que pode nunca ser alcançada.
Embora os ativistas não concordem com a posição de Al Jaber, diversos funcionários e autoridades internacionais ficaram satisfeitos com a decisão tomada.
“Para proporcionar uma transição energética justa, é essencial uma compreensão profunda dos sistemas de energia. Sua experiência o posiciona de forma única para ser capaz de convocar tanto o setor público quanto o privado para trazer soluções pragmáticas para alcançar as metas e aspirações do acordo climático de Paris”, disse um porta-voz da Cop28.
Além disso, ele afirmou que o ministro também ajudou a acelerar a “adoção de energias renováveis” quando assumiu o cargo de CEO fundador e presidente da Masdar, a segunda maior empresa de energia renovável do mundo. A Masdar investe em energia limpa em mais de 40 países e opera uma das três maiores e baratas usinas solares.
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“Como CEO da ADNOC, ele liderou investimentos de US$ 15 bilhões ao longo de cinco anos em estratégia de descarbonização e novas soluções de baixo carbono”, completou.
O presidente da Cop desempenha um papel importante nas negociações climáticas anuais. Ele atua como um “intermediário honesto” entre os governos em disputa, para determinar a direção das negociações e quais questões têm prioridade.