Países fecham pacto climático, mas resultado é visto como fraco
Alguns países e grupos de ativistas criticaram a falta de ambição do acordo pois acreditam que não foi suficiente para conter a alta das temperaturas
Aproximadamente 200 países superaram divisões políticas na noite de sábado para chegar a um acordo sobre regras para a implementação de um marcante pacto global sobre a mudança climática, mas críticos dizem que ele não é ambicioso o bastante para evitar os perigosos efeitos do aquecimento global.
Após duas semanas de conversas na cidade polonesa de Katowice, os países finalmente atingiram um consenso sobre um regulamento mais detalhado para o Acordo de Paris de 2015, que tem como objetivo limitar a alta nas temperaturas médias globais a “bem abaixo” de 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais.
“Não é fácil chegar a um acordo sobre um pacto tão específico e técnico. Por meio desse pacote, vocês deram milhares de pequenos passos para a frente. Vocês podem ficar orgulhosos”, disse aos participantes o presidente polonês das negociações Michal Kurtyka.
Após ele bater o martelo para sinalizar que o acordo havia sido alcançado, os ministros se juntaram a ele no palco, abraçando e rindo em sinais de alívio após a maratona.
Antes do início das conversas, muitos esperavam que o acordo não seria tão robusto quanto necessário. A unidade que sustentou as negociações de Paris se fragmentou, e o presidente dos EUA, Donald Trump, pretende retirar do pacto seu país – um dos maiores emissores do mundo.
Após 11 horas, os ministros conseguiram romper um impasse entre o Brasil e outros países sobre regras contábeis para o monitoramento de créditos de carbono, adiando a maior parte dessa discussão para o próximo ano, mas perdendo uma oportunidade de enviar um sinal às empresas para que acelerem suas ações.
Ainda assim, o exausto grupo de ministros reunidos para as conversas conseguiu superar uma série de divisões para produzir um livro de regras de 156 páginas – que é dividido em temas que vão de como os países irão relatar e monitorar suas promessas de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e atualizar seus planos de emissões.
Nem todos ficaram felizes com a totalidade do acordo, mas o processo segue em curso e é algo a ser construído, disseram diversos ministros.
“Embora alguns elementos do livro de regras ainda precisem ser aprofundados, é uma fundação para fortalecer o Acordo de Paris e pode ajudar a facilitar a reentrada no Acordo de Paris por uma futura administração presidencial”, disse Alden Meyer, da União de Cientistas Preocupados.
Ambição
Alguns países e grupos de ecologistas criticaram o resultado por falhar em pedir que os crescentemente ambiciosos cortes de emissões fossem suficientes para conter a alta das temperaturas.
Países mais pobres vulneráveis à mudança climática também queriam mais clareza sobre como um financiamento climático já acordado de 100 bilhões de dólares por ano até 2020 será fornecido e sobre os esforços para aumentar ainda mais essa quantia a partir do final da década.
Um comunicado do secretário-geral da ONU, António Gutierres, que deixou as negociações na quinta-feira, destacou a necessidade de mais trabalho.
“De agora em diante, minhas cinco prioridades serão: ambição, ambição, ambição, ambição e ambição”, disse ele.
“E a ambição deve guiar todos Estados membros conforme eles preparam (seus planos de cortes de emissões) para 2020 para reverter a atual tendência em que a mudança climática ainda corre mais rápido que nós.”
Um relatório encomendado pela ONU ao IPCC em outubro alertou que conter a alta da temperatura da Terra em 1,5 graus Celsius exigiria “mudanças sem precedentes” em todos os aspectos da sociedade.
Na semana passada, a Arábia Saudita, os Estados Unidos, a Rússia e o Kuweit recusaram-se a usar a palavra “bem-vindo” em associação com as conclusões do relatório.
O texto da decisão agora apenas expressa gratidão pelo trabalho no relatório, agradece sua conclusão no prazo e convida as partes a usar as informações nele contidas.
A conferência em si foi realizada pela Polônia, que depende do carvão e que tem procurado proteger sua indústria de mineração. O único evento do governo dos EUA em Katowice foi visto como uma tentativa de reapresentar o carvão como uma fonte de energia potencialmente limpa.