Onde nasce a criatividade
Austin está emergindo como o próximo polo tecnológico dos Estados Unidos
A corrida pelo novo Vale do Silício ganhou um competidor de peso no fim de julho. Elon Musk, o extravagante fundador da Tesla e um dos empresários mais barulhentos do mundo, informou que escolheu Austin, no Texas, para receber uma fábrica de 1,1 bilhão de dólares da Tesla. A unidade deverá empregar pelo menos 5 000 pessoas e servir de base para a produção de veículos elétricos. Por que Austin? Além dos 60 milhões de dólares concedidos em benefícios fiscais, Musk está de olho no efervescente ecossistema de fornecedores da região, formado por desenvolvedores de softwares, empresas de dados e fabricantes de sistemas de inteligência artificial. Austin está emergindo como o próximo polo tecnológico dos Estados Unidos. A disponibilidade de mão de obra qualificada, o ambiente fiscal favorável e os custos operacionais mais baixos dos que os vigentes no Vale do Silício tornaram o município texano mais amigável para empresas e profissionais ligados à área de inovação. Nos últimos anos, gigantes como Apple, eBay e Dell estabeleceram bases em Austin, o que acabou atraindo um enorme contingente de startups. Não à toa, ela é hoje uma das cidades mais jovens dos Estados Unidos. Segundo o censo de 2018, 25,5% de sua população tem entre 20 e 34 anos. No Vale do Silício, o índice é de 20,7%.
Austin, porém, não é única candidata a rivalizar com a cidade de Cupertino e arredores. Detroit, a decadente capital americana da indústria automobilística, passa por um notável processo de reinvenção. Como as montadoras se movem em direção aos veículos autônomos, surgiram inúmeros laboratórios de inovação na cidade, que não só rejuvenesceu como passou a servir de base para profissionais forjados na nova era tecnológica. Até Orlando, uma das cidades americanas preferidas pelos brasileiros, também entrou na onda e passou a rivalizar com o Vale do Silício ao oferecer programas de financiamento para startups. A tendência é que, em um cenário pulverizado, não haverá um único grande centro de inovação mundial, mas várias regiões destinadas a abrigar empresas de tecnologia.
Publicado em VEJA de 26 de agosto de 2020, edição nº 2701