OMS alerta que HIV pode virar ‘ameaça global’ com corte de recursos dos EUA
Saída da organização internacional, anunciada por Trump, reduz acesso a tratamentos que salvam a vida de mais de 30 milhões de pessoas mundo afora

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou na terça-feira 28 que a recente decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de deixar o órgão internacional e suspender o financiamento a programas de combate ao HIV e Aids pode representar uma “ameaça global” para milhões de pessoas que dependem desses serviços.
Segundo a entidade, a medida do governo Trump coloca em risco o acesso a tratamentos de Aids que salvam a vida de mais de 30 milhões de pessoas em todo o mundo, principalmente nos países de baixa e média renda, incluindo o Brasil.
Washington é o maiores doador da OMS e financia 75% do programa da organização para HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis. O corte afeta diretamente o Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para a Luta contra HIV/Aids (PEPFAR, na sigla em inglês), o principal plano global de combate à doença, que possui parceria com mais de 50 países.
“Essas medidas, se prolongadas, podem levar ao aumento de novas infecções e mortes, revertendo décadas de progresso e possivelmente levando o mundo de volta aos anos 1980 e 1990, quando milhões morriam de HIV a cada ano, incluindo muitos nos Estados Unidos”, alertou a OMS em um comunicado oficial.
Em 2020, Trump já havia tentado retirar os Estados Unidos da OMS, mas, como o processo leva um ano, seu sucessor, Joe Biden, conseguiu reverter a situação assim que assumiu o cargo, em janeiro de 2021.
Outros membros podem compensar parte da diferença, como fizeram quando Trump cortou as contribuições americanas durante seu primeiro mandato. Mas os países europeus estão enfrentando outros desafios, como economias estagnadas e pressão para aumentar os gastos com defesa. Fora isso, vozes céticas em relação à OMS também estão se multiplicando dentro da União Europeia e podem ser encorajadas pela decisão de Trump.
Países afetados
Ao assinar um decreto para retirar os Estados Unidos da OMS, Trump determinou que países onde o PEPFAR está presente deixem de distribuir medicamentos contra o HIV com financiamento americano, mesmo que já estejam estocados em clínicas locais. Por isso, a medida já resultou no fechamento de clínicas em diversos países africanos.
Na África do Sul, ONGs que fornecem tratamento para o HIV interromperam suas atividades devido à falta recursos. Na Nigéria, a perda do financiamento anual de US$ 390 milhões (cerca de R$ 1,9 bilhão) deve afetar os serviços de saúde.
“Apelamos ao governo dos Estados Unidos para que permita isenções adicionais para garantir a prestação de tratamento e cuidados vitais para o HIV”, disse a OMS.
O Brasil, onde o PEPFAR financia ações para ampliar o acesso a autotestes de HIV em diversas capitais e promove iniciativas de prevenção e diagnóstico precoce, também será afetado. Segundo o Ministério da Saúde, estima-se que um milhão de pessoas vivem com Aids no país.
O programa do governo americano também colabora com instituições como a Fiocruz para desenvolver projetos de conscientização e ampliar o acesso à profilaxia pré-exposição (PrEP).
Em 2023, foram registrados 46.495 novos casos de HIV no Brasil, um aumento na taxa de infecção. Por outro lado, o número de mortes relacionadas à doença caiu para 10.338, o menor dos últimos dez anos.