Obama apoia Harvard contra cerco de Trump, enquanto acadêmicos fogem para o Canadá
Casa Branca exigiu redução do poder de alunos e professores, denúncia de estrangeiros em casos de violações e contratação de funcionários externos

O ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, declarou apoio à Universidade Harvard nesta terça-feira, 15, após o governo de Donald Trump cortar US$ 2,3 bilhões em fundos federais à instituição por não ter acatado a uma lista de demandas controversas. Na semana passada, a Casa Branca exigiu que a redução do poder de alunos e professores sobre assuntos internos; a denúncia de alunos estrangeiros que violassem códigos de conduta às autoridades federais e a contratação de funcionários externos para uma “diversidade de pontos de vista”.
No X, antigo Twitter, Obama citou uma publicação feita na véspera, na qual o presidente de Harvard, Alan M. Garber, afirmava que “nenhum governo — independentemente do partido no poder — deve ditar o que as universidades privadas podem ensinar, quem podem admitir e contratar e quais áreas de estudo e investigação podem seguir”.
“Harvard deu o exemplo para outras instituições de ensino superior – rejeitando uma tentativa ilegal e desajeitada de reprimir a liberdade acadêmica, ao mesmo tempo em que toma medidas concretas para garantir que todos os alunos de Harvard possam se beneficiar de um ambiente de investigação intelectual, debate rigoroso e respeito mútuo. Esperemos que outras instituições sigam o exemplo”, escreveu ele.
Além do congelamento bilionário, o governo americano pausou o repasse de US$ 60 milhões em valores de contratos plurianuais para Harvard ao alegar que a instituição não tem feito o suficiente para combater casos de antissemitismo no campus — no ano passado, protestos ruidosos pró-Palestina tomaram conta da universidade.
Ainda em março, o Josh Gruenbaum, alto funcionário da Administração de Serviços Gerais, adiantou que a faculdade estava na mira da administração Trump e afirmou que “embora as ações recentes de Harvard para coibir o antissemitismo institucionalizado — embora já esperadas há muito tempo — sejam bem-vindas, há muito mais que a universidade deve fazer para manter o privilégio de receber o dinheiro suado dos contribuintes federais”.
Na terça-feira, Trump aumentou as ameaças em publicação em sua rede social, a Truth, afirmando que “talvez Harvard devesse perder seu status de isenção fiscal e ser taxada como uma entidade política”. O coro foi reforçado pela secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, que disse que o republicano “quer ver Harvard se desculpar” pelo o que definiu como “antissemitismo flagrante que ocorreu no campus da faculdade”.
Em meio ao cerco de Trump, a Universidade da Colúmbia Britânica (UBC), no cidade canadense de Vancouver, registrou aumento de 27% nas inscrições de pós-graduação até 1º de março de cidadãos americanos para o ano acadêmico de 2025. A Universidade de Toronto, a maior universidade do Canadá, também relatou mais inscrições de estudantes dos EUA até o prazo de janeiro.
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Posicionamentos de Yale e Columbia
Sem citar nominalmente Harvard, uma carta da Universidade de Yale, assinada por 876 professores, apelou à sua liderança que “resista e desafie legalmente quaisquer exigências ilegais que ameacem a liberdade acadêmica e a autogovernança universitária” e a “trabalhar de forma proativa e proativa com outras faculdades e universidades em defesa coletiva”.
“Estamos juntos em uma encruzilhada. As universidades americanas enfrentam ataques extraordinários que ameaçam os princípios fundamentais de uma sociedade democrática, incluindo os direitos de liberdade de expressão, associação e liberdade acadêmica. Escrevemos como um só corpo docente para pedir que vocês se posicionem conosco agora”, salientou o texto.
Em contrapartida, a Universidade Columbia, em Nova York, epicentro de manifestações em apoio à Palestina que insuflam o cerco do governo contra o ensino superior, concordou em atender parcialmente às exigências governo Trump sobre questões relacionadas a protestos e casos de antissemitismo. Em comunicado, a presidente da instituição, Claire Shipman, afirmou que trata-se de “um momento extraordinário e difícil”, na qual a instituição lidava com “pressões sem precedentes, sem respostas fáceis e com muitas incertezas”.
“Como já compartilhamos anteriormente, a universidade tem se envolvido no que continuamos a acreditar serem discussões de boa-fé com a Força-Tarefa Federal de Combate ao Antissemitismo. Buscamos abordar alegações de antissemitismo, assédio e discriminação em nossos campi e fornecer um caminho para o restabelecimento de uma parceria com o governo federal que apoie nossa missão vital de pesquisa, ao mesmo tempo em que proteja a integridade e a independência acadêmica e operacional da Universidade”, explicou Shipman.
“Algumas das solicitações do governo estão alinhadas com políticas e práticas que consideramos importantes para o avanço de nossa missão, especialmente para proporcionar uma comunidade universitária segura e inclusiva”, continuou ela. ” Outras ideias, incluindo solicitações excessivamente prescritivas sobre nossa governança, como conduzimos nosso processo de busca presidencial e como abordar especificamente as questões de diversidade de pontos de vista, não estão sujeitas a negociação.”