Oásis no deserto: a massiva campanha de Dubai que mira brasileiros
O novo polo de atração dos investimentos em imóveis é muito diferente do que o Ocidente tem a oferecer
Ter um cantinho para chamar de seu ou um bem para fazer o dinheiro render fora do país… Há alguns anos, se perguntassem aos brasileiros com um olho no banco e outro no mercado imobiliário onde investir, certamente apareceriam destinos como Miami e Lisboa. A cidade americana na Flórida, prolífica em empreendimentos à beira-mar e comedida nos impostos, aloja hoje 300 000 cidadãos do Brasil.
Mais recentemente, a capital portuguesa pediu passagem: um local calmo, seguro, com a economia equilibrada e tradições arraigadas. E uma imensa vantagem, claro: o idioma de Pessoa e Drummond. O novo polo de atração dos investimentos em imóveis, no entanto, é muito diferente do que o Ocidente tem a oferecer. A pedida, agora, com o crescimento pujante e o aceno de benefícios a estrangeiros, é um oásis no meio do deserto. Trata-se de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
O movimento, cada vez mais sedutor aos brasileiros, começou com compradores famosos. O jogador de futebol Cristiano Ronaldo adquiriu um terreno de 25 milhões de euros em uma ilha exclusiva da região, que tem o formato de um cavalo-marinho. Há quem diga que ele pretende abrir um spa. A pop star Madonna (leia na pág. 78), que tem casas espalhadas pelo mundo, também tomou posse de um pedaço paradisíaco no emirado do Oriente Médio. Cidade luxuosa levantada em meio às quentes areias das arábias, com prédios dotados de alta tecnologia e arquitetura futurista, Dubai é o local perfeito para construtores expressarem criatividade, sem limites, principalmente de espaço e verba.
No início deste ano, foi anunciado o lançamento do segundo edifício mais alto do planeta — o primeiro, o Burj Khalifa, também está lá. Com um orçamento estimado em 7 bilhões de dólares, o Burj Azizi foi projetado para ter 122 andares e abrigar um hotel sete estrelas. A estrutura conta com recursos de última geração disponíveis para os hóspedes encararem um destino cujas temperaturas chegam a 50 graus e as chuvas ocorrem, se tanto, duas vezes ao ano.
Para atrair investidores e moradores, Dubai tem facilitado o visto de residência a quem comprar um imóvel na região. “O passo inicial é uma entrada de 20% do valor do imóvel”, diz Leo Ickowicz, fundador da Elite International Realty, imobiliária brasileira que atua na Flórida e agora no emirado. “O restante do valor pode ser financiado.” Apartamentos de um único dormitório, com área de 80 metros quadrados, giram em torno de 1 milhão de dólares, praticamente o mesmo preço de um equivalente em Miami. Outro diferencial que a cidade procura ostentar são os empreendimentos de grife.
O estilista italiano Roberto Cavalli é um dos nomes fortes nessa jogada. O empresário tem no local pelo menos dois empreendimentos, o residencial Damac Bay e o Cavalli Tower, uma torre de 70 andares às margens da principal marina de Dubai, área requintada, rodeada de hotéis, butiques, lojas e spas. Mais do que oferecer apartamentos, de um a três dormitórios, as empresas do ramo fisgam os compradores com um pacote de mordomias, como acesso irrestrito ao parque aquático Jungle Bay, inaugurado há três anos, e a vista para um infinito deslumbrante.
Ao contrário de Miami, onde os brasileiros compram imóveis para morar ou investir no curto prazo, em Dubai muitos estão de olho no lucro lá na frente e até numa possível rota de saída fiscal — tendo residência ali, pode-se passar a declarar imposto de renda pelo emirado. Outra prerrogativa explorada pelos corretores é o fato de a cidade, parte de uma monarquia muçulmana que lucra com petróleo, ouro e imóveis, aceitar o pagamento em criptomoedas. Qual a vantagem? “Na verdade, nenhuma. Ao anunciar essa possibilidade, o xeique está dizendo apenas que não se importa com a origem do dinheiro”, afirma Alberto Ajzental, professor de Desenvolvimento de Negócios Imobiliários da FGV.
Quem se interessar pelas oportunidades da nova meca do investimento imobiliário, contudo, deve estar ciente dos riscos. “É preciso avaliar a segurança de uma dívida em dólar, principalmente quando se ganha em real”, diz Ajzental. Caso o investimento seja à vista, a preocupação concentra-se na análise futura: quando não há limite para a incorporação, pode haver encalhe de imóveis. Ao menos, agora que escritórios nacionais estão se especializando nesse negócio das arábias, o comprador ganha certo respaldo para não ver seu aporte virar areia no deserto.
Publicado em VEJA de 13 de setembro de 2024, edição nº 2910