O uniforme de ‘protesto’ da Dinamarca na Copa do Mundo do Catar
Federação anunciou nova camisa contra violações de direitos humanos no país anfitrião da competição
A Dinamarca revelou nesta quarta-feira, 28, que fará uma manifestação “informal” durante a Copa do Mundo de futebol deste ano, que começa em novembro no Catar. Em protesto contra violações de direitos humanos no país anfitrião da competição, sua seleção irá usar as tradicionais camisas vermelhas e brancas, embora com algumas leves modificações, mas também terá uma camisa toda preta em homenagem aos trabalhadores migrantes que morreram durante as obras de construção de estádios.
“A cor do luto. A cor perfeita para a terceira camisa da Dinamarca para a Copa do Mundo deste ano”, afirmou o fabricante de uniformes Hummel em post no Instagram. “Embora apoiemos a seleção dinamarquesa o tempo todo, isso não deve ser confundido com o apoio a um torneio que custou a vida de milhares de pessoas. Desejamos fazer uma declaração sobre o histórico de direitos humanos do Catar e seu tratamento aos trabalhadores migrantes que construíram os estádios da Copa do Mundo do país”.
Embora as regras da Fifa proíbam declarações políticas em uniformes, os três designs de camisa da Dinamarca em vermelho, branco e preto não apresentam palavras ou símbolos com declarações explícitas. O escudo da seleção nacional também não mudou, o logotipo da Hummel e as divisas brancas decorativas – característica famosa da camisa da Dinamarca desde a década de 80– são da mesma cor da camisa, mas permanecem visíveis.
Além do protesto contra as violações, a Federação Dinamarquesa também aderiu a uma campanha europeia lançada na semana passada que promove a igualdade e a diversidade sexual, chamada “One Love”. Capitães dos times que apoiam o movimento usarão braçadeiras multicoloridas em formato de coração no país onde a homossexualidade é punível com tortura e morte.
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O Catar tem sido criticado globalmente por acusações envolvendo o tratamento de trabalhadores estrangeiros na preparação para o espetáculo global. Muitos dos imigrantes foram alojados em campos de trabalho precários, tiveram compensação inadequada e foram forçados a permanecer no país por meio de passaportes confiscados.
Em relatório publicado no ano passado, a Anistia Internacional afirma que o Catar falhou em investigar as mortes de dezenas de trabalhadores migrantes na última década. De acordo com a organização de direitos humanos, a maioria das mortes de migrantes no país foi atribuída a “causas naturais”, falhas cardíacas ou respiratórias. As classificações, no entanto, são “sem sentido” quando não há a verdadeira causa da morte explicada, afirma um especialista citado no documento.
Estatísticas oficiais do governo mostram que 15.021 trabalhadores de fora do Catar morreram no país entre 2010 e 2019. Os dados, no entanto, não indicam apenas trabalhadores migrantes que morreram por condições de trabalho, à medida que inclui pessoas de todas as idades, ocupações e causas. Os dados oficiais também não indicam quantos morreram em construções ligadas à Copa do Mundo.
Em fevereiro, o jornal britânico The Guardian revelou que mais de 6.500 migrantes do sul da Ásia morreram no Catar na última década. Ao todo, a força de trabalho do país composta por migrantes chega a 2 milhões de pessoas.
Autoridades nacionais afirmaram que a alta taxa de mortalidade entre migrantes é esperada dado o tamanho da força de trabalho, mas especialistas citados no relatório da Anistia questionam a qualidade baixa de dados disponíveis para chegar a esta conclusão.
Antes do relatório, a Anistia já havia feito um pedido formal à Fifa para melhorar as condições de trabalhadores migrantes no emirado, onde há muitos operários e trabalhadores pobres procedentes do subcontinente indiano.