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O ‘Trump alemão’: fronteiras fechadas, crucifixos e fantasias de Carnaval

Disfarçado de Shrek ou de cara limpa, o governador da Baviera defende o fechamento da Europa à imigração e quer se reeleger em outubro

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 ago 2018, 16h28 - Publicado em 29 ago 2018, 08h00

Diante da recente dificuldade dos países europeus em chegar a um consenso sobre o acolhimento de dezenas de milhares de imigrantes, uma figura que se apresenta tanto como Marilyn Monroe quanto como um punk vem chamando a atenção do Sudeste da Alemanha por sua visão radical.

Markus Söder, do ultra-conservador União Social-Cristã (CSU), assumiu a liderança do governo da Baviera em março de 2018. Sua ascensão se deu depois da renúncia de seu companheiro de partido, Horst Seehofer, agora um incômodo ministro do Interior no gabinete da primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel.

Por suas convicções anti-imigração e tentativas de manipular a imprensa, o governador barulhento ficou conhecido como o “Trump da Alemanha”.

Mais do que qualquer um, Söder foi responsável por convencer Merkel a rejeitar os imigrantes que chegam à fronteira da Baviera com a Áustria depois de já terem solicitado refúgio em outras nações europeias. A negociação não deve ter sido fácil para Söder — e terá sido difícil para Merkel engoli-la.

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A primeira-ministra é conhecida por sua posição favorável ao acolhimento de estrangeiros na Alemanha e assim se manteve até mesmo durante o massivo ingresso de cidadãos sírios, em 2015. A decisão foi tomada no início de julho, quando Merkel também aceitou construir os chamados “centros de trânsito” na fronteira, para identificar as pessoas que pediram o refúgio em outros países da União Europeia.

O governador de direita afirma querer pôr fim ao que chama de “turismo de refúgio” e, sobretudo, diz defender os valores “tradicionais” da Baviera e do cristianismo. Em junho, ele ordenou que cruzes fossem penduradas em todos os prédios do governo do estado. No passado, ele advogara contra o uso de burcas por mulheres muçulmanas em espaços públicos.

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Sua receita inclui o desrespeito às estatísticas e aos fatos, assim como acontece com o presidente americano. Segundo Söder, a imigração está gerando uma onda de criminalidade na Alemanha — informação repetida publicamente por Trump e rechaçada, em seguida, por Merkel.

Os dados oficiais do governo, no entanto, mostram que a taxa de criminalidade do país está entre as mais baixas dos últimos 25 anos.

Ele também insiste que a crise imigratória na Alemanha está pior em 2018 do que nos anos anteriores, mesmo quando os registros mostram que a média mensal de pedidos de refúgio no país neste ano foi a menor desde 2013, quando o êxodo sírio não havia ainda começado. Foram 15.000 solicitações ao mês, em comparação com 62.000 em 2016.

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Em meados de junho, em uma clara afronta a Merkel, Söder participou de um Conselho de Ministros em Linz, na Áustria, ao lado de uma das vozes mais estridentes em favor de políticas anti-imigração no bloco — o primeiro-ministro conservador austríaco, Sebastian Kurz, cujo governo tem o apoio de um partido fundado por ex-oficiais da SS nazista.

Os dois enfatizaram a importância de fechar a “fronteira externa” da União Europeia. Na ocasião, o governador da Baviera afirmou que a negativa do governo alemão em apoiar a medida representaria “um problema para a democracia”.

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Marketing eleitoral

Tanto o encontro com Kurz como a controversa decisão de pendurar crucifixos em prédios públicos estaduais fazem parte da campanha eleitoral conservadora de Söder. O governador concorrerá à reeleição estadual em outubro.

Para levar adiante suas ambições políticas, ele construiu a imagem de filho de um pedreiro, que entende as ansiedades do cidadão comum. O “humilde” Söder destina algumas horas de seus dias para atender os cidadãos e potenciais eleitores em seu escritório e ouvir suas queixas. O governador menciona com menor frequência seu casamento com Karin Baumüller, filha de um rico empresário da região.

Filiado ao CSU desde os 16 anos, ele trabalhou na televisão antes de ocupar uma série de ministérios estaduais na Baviera, apesar de seu diploma em Direito. Faz parte do Parlamento estadual desde 1994 e, desde 2007, ocupou os ministérios estaduais do Meio Ambiente e Saúde, Finanças e Assuntos Europeus.

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Söder usa sua capacidade de comunicação e naturalidade para falar aos potenciais eleitores e aproveita qualquer aparição pública para fazer longos discursos sobre a força e a importância da Baviera para a Alemanha. Com 1,94 metro de altura, tampouco perde a oportunidade de aparecer em uma foto ou de chamar atenção com suas fantasiais para o Carnaval alemão.

A cada ano, ele surpreende seus eleitores. Em um deles, pintou o rosto de verde para se caracterizar como o ogro Shrek, personagem da animação da DreamWorks. Em outro, escolheu pintar-se de amarelo para encarnar o pai de família Homer, da série Os Simpsons, da Fox. Também já se fantasiou de Marilyn Monroe, de Mahatma Ghandi, de punk e de urso-polar, disfarce que lhe caiu muito bem.

Apesar de todos os seus esforços de marketing, as pesquisas de opinião recentes mostram que seu partido, o CSU, tem perdido apoio na Baviera. Uma sondagem do fim de julho mostrou que apenas 38% dos eleitores votariam na legenda, que vencera as eleições anteriores com 48% dos votos e conquistara a maioria dos assentos no Parlamento local.

Outra pesquisa, do Instituto Forsa, revela que a maior parte dos cidadãos da Baviera vê os conservadores do CSU como um problema maior do que os refugiados.

Assim como Trump, o candidato à reeleição na Baviera tem colecionado problemas com a imprensa local. Em várias ocasiões, Söder foi acusado de pressionar emissoras de televisão e outros meios de comunicação a fazer matérias e reportar fatos em tom favorável a ele.

Em 2012, a emissora Bayerischer Rundfunk cancelou uma reportagem sobre o governador depois de um de seus assessores ter reclamado do seu conteúdo “negativo”.

De acordo com a revista Der Spiegel, Söder também tentou em diversas ocasiões influenciar a forma como o CSU era retratado nas reportagens da emissora ZDF, entre 2003 e 2007, quando fazia parte do conselho dessa rede de televisão.

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