O silêncio absoluto de Milei sobre a saúde do conterrâneo papa Francisco
Presidente da Argentina ficou conhecido por disparar amargos insultos contra o pontífice ('agente do mal', 'imbecil') durante sua campanha eleitoral

Enquanto a saúde do papa Francisco passa por um momento delicado, e o mundo inteiro se comove, Javier Milei, seu conterrâneo argentino, não emitiu nem sequer uma manifestação de solidariedade. Depois de ensaiar uma reconciliação ao visitar o Vaticano no ano passado, tentando enterrar os insultos de “imbecil” e “representante do mal” que lançara ao pontífice durante a campanha pela Casa Rosada, o presidente ultraliberal agora silencia.
Na noite de terça-feira 25, durante uma grande missa na igreja de Santa Maria Addolorata – considerada um templo argentino, que fica na Praça Buenos Aires, em Roma –, não houve nenhuma homenagem ao santo padre. Nenhum outro membro do governo Milei abriu a boca, nem mesmo o embaixador argentino na capital italiana.
O silêncio cai mal, especialmente, depois do desprezo por Francisco tornar-se quase um slogan na campanha de Milei. Em todas as entrevistas, o então candidato afirmava que o pontífice tinha “afinidades com comunistas assassinos” e que ele “sempre está do lado do mal”. O argumento era simples e repetitivo: o papa defende temas ligados à justiça social e, para Milei, isso equivale a uma heresia.
Em 2020, ele criticou o pontífice, chamando-o de “imbecil” e alegando que era “comunista” e “o representante do mal na Terra”. Em entrevista ao jornal italiano La Stampa, Francisco contou que não se sentiu ofendido pelas declarações, argumentando que “as palavras na campanha eleitoral vão e vêm”. Ele também revelou que o pedido por um encontro no Vaticano, no ano passado, partiu do presidente.
Milei se define como católico, embora também diga que “pratica um pouco o judaísmo” e que sente afinidade com outras religiões. Assim que surgiu a oportunidade para uma visita, depois de eleito, acabaram-se os insultos. No Vaticano em fevereiro de 2024, ele aceitou uma audiência com Francisco e até se permitiu o gesto de pedir-lhe um abraço. Aquela imagem do líder argentino e sua irmã, Karina, considerada o cérebro por trás da operação, emocionados diante do papa foi um verdadeiro “plot twist”.
Tão abrupta foi a reviravolta que Milei teve que justificá-la. Em entrevista à televisão italiana, ele explicou na época que “reconsiderou algumas posições” e que entendeu que Jorge Mario Bergoglio é “a instituição argentina mais importante”. É verdade também que a bênção papal serviu para moderar sua imagem, para parecer menos agressivo e mais conciliador. No entanto, ele nunca se desculpou.
Agora que Francisco sofre com uma pneumonia bilateral e problemas renais, seria de se esperar um gesto do presidente argentino. Até mesmo figuras políticas que têm divergências com papa Francisco demonstraram respeito por seu estado de saúde, mas Milei faz vista grossa, com um silêncio que diz mais do que mil palavras.