O que se sabe sobre o acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas
Uma vez confirmado, acordo suspenderá as hostilidades na Faixa de Gaza e levará à libertação gradual de reféns e prisioneiros de ambas as partes

No contexto de guerra entre Israel e o Hamas, que se arrasta desde outubro de 2023, um acordo de cessar-fogo enfim tomou forma nesta quarta-feira, 15. Embora o anúncio formal feito pelo Catar, um dos principais mediadores do conflito, não tenha dado todos os detalhes sobre a implementação da trégua, a principal concessão de ambas as partes é uma pausa nas hostilidades em Gaza e a troca de reféns por prisioneiros palestinos. O acordo proporcionaria o primeiro alívio da guerra para o povo de Gaza em mais de um ano.
O que se mostra definitivo
O primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, informou que a primeira fase do acordo vai começar no próximo domingo, 19 de janeiro, e durará 42 dias. Ela incluirá o encerramento das hostilidades entre ambos os lados e a retirada das forças israelenses para o leste de Gaza, longe de áreas povoadas. Os militares de Tel Aviv se posicionarão, então, ao longo da fronteira do enclave.
Como parte da etapa inicial, o Hamas libertará 33 prisioneiros israelenses, incluindo mulheres civis, bem como crianças, idosos, civis feridos ou doentes. Em troca, Israel vai soltar vários prisioneiros palestinos detidos no país, disse ele. Anteriormente, informações vazadas pela mídia israelense indicaram que, em troca de cada mulher das suas Forças Armadas, Israel soltaria 50 prisioneiros palestinos, e mais 30 sairiam da prisão em troca de cada civil em cativeiro.
Essa fase incluirá ainda o retorno de palestinos para suas casas e facilitará o acesso de feridos e doentes a hospitais, para receber tratamento. Mais de 90% da população de Gaza, que antes da guerra era de 2,3 milhões de pessoas, foi deslocada internamente durante o conflito.
Além disso, está previsto um aumento do fluxo de ajuda humanitária, combustível e equipamentos de defesa civil para todas as partes da Faixa de Gaza, bem como a reabilitação de hospitais, centros de saúde e padarias, grande parte dos quais foi destruída ou debilitada devido a ataques aéreos.
O que ainda está no ar
Embora o acordo traga uma pausa bem-vinda para as populações afetadas, o futuro do cessar-fogo e a possibilidade de uma paz duradoura dependem de negociações adicionais.
Os militares israelenses, por exemplo, devem se retirar gradualmente dos grandes centros populacionais de Gaza na primeira fase, mas manterão presença ao longo da fronteira com o Egito, especificamente no Corredor Filadélfia, e na zona-tampão ao longo da fronteira com Israel.
A definição do tamanho dessa zona e o controle sobre ela ainda representam um ponto de discórdia nas negociações, que Al Thani garantiu que seria resolvido ainda nesta noite.
Longo prazo incerto
Outro ponto crucial para o sucesso do acordo é a segunda e terceira fase, que devem começar a ser tratadas após 16 dias da implementação da primeira fase e visam não só à liberação de mais reféns, mas também a uma eventual retirada total das forças israelenses de Gaza.
Al Thani afirmou que os detalhes das fases dois e três do acordo serão finalizados durante a implementação da fase um. Ele enfatizou a “necessidade de ambos os lados se comprometerem com a implementação de todos os três estágios” para “evitar derramamento de sangue civil”.
A segunda fase tem como foco libertar os prisioneiros restantes — cujas famílias temem que possíveis violações impeçam o procedimento. Já a etapa final aborda acordos de longo prazo, incluindo um governo alternativo em Gaza e esforços de reconstrução do enclave devastado.
Com mais de 46.000 palestinos mortos e mais de 110.000 feridos, segundo o Ministério da Saúde palestino, o cessar-fogo traz um alívio momentâneo, mas não uma solução definitiva. Israel não se comprometeu a acabar com a guerra no acordo, mas expressou seu compromisso em buscar a libertação total dos reféns. Ou seja, não há garantia de que o cessar-fogo continue além da primeira fase.
Proposta de roteiro pós-guerra
Na terça-feira, 14, o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, expôs o plano de Washington para o pós-guerra. O chefe da diplomacia americana, que será substituído pelo senador Marco Rubio no governo Trump, disse que o governo interino ficará nas mãos da Autoridade Palestina, mas que haveria uma parceria com as Nações Unidas e uma força de segurança com soldados de “nações parceiras”, para supervisionar os assuntos civis no enclave.
Depois, o governo interino entregaria o poder a uma Autoridade Palestina “reformada”. No entanto, Israel rejeitou repetidamente permitir que a organização, que administra áreas da Cisjordânia ocupada, assuma o governo de Gaza.
“Por muitos meses, temos trabalhado intensamente com nossos parceiros para desenvolver um plano pós-conflito detalhado que permitiria a Israel que se retirasse totalmente de Gaza, impedisse o Hamas de se reerguer e fornecesse governança para a reconstrução de Gaza”, disse Blinken.
Os Estados Unidos alertaram Israel de que o Hamas não poderia ser derrotado apenas com uma campanha militar, ele afirmou.
“Avaliamos que o Hamas recrutou quase tantos (combatentes) novos quanto perdeu. Essa é uma receita para uma insurgência duradoura e uma guerra perpétua”, disse ele.