O que são as ‘tarifas recíprocas’ anunciadas por Trump, que podem afetar o Brasil
Medida pode trazer um amplo aumento tarifário para economias emergentes, que pagam menos por produtos dos EUA do que cobram pelos seus

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou no início da semana que faria um anúncio nesta quarta-feira, 12, sobre “tarifas recíprocas“, cumprindo uma promessa de campanha de impor taxas sobre importações americanas equivalentes às cobradas por parceiros comerciais sobre exportações de Washington. O decreto, porém, deve ser assinado nesta quinta-feira, 13, antes da visita oficial do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, segundo Karoline Leavitt, porta-voz da Casa Branca.
A medida pode trazer um amplo aumento tarifário para economias de mercado emergentes, incluindo o Brasil. Na segunda-feira, Trump anunciou a imposição de tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio – decisão que já deve impactar diretamente o Brasil, segundo maior fornecedor da commodity para os americanos.
O que são as tarifas recíprocas?
As tarifas recíprocas funcionam como uma forma de retaliação comercial: os Estados Unidos passariam a cobrar sobre importações estrangeiras o mesmo percentual de tarifas que esses países aplicam sobre produtos americanos.
Na semana passada, o diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Kevin Hassett, citou dados que mostram que empresas americanas gastaram US$ 370 bilhões (mais de R$ 2,13 trilhões) em taxas em 2023, enquanto as estrangeiras pagaram apenas US$ 57 bilhões (cerca de R$ 329 bilhões) nos Estados Unidos. “Isso não é reciprocidade de maneira alguma”, disparou Hasset.
O governo Trump alega que as tarifas recíprocas são a “única maneira justa de fazer comércio, pois dessa forma ninguém sai prejudicado”.
No domingo, o republicano comunicou que faria um anúncio detalhado sobre a nova etapa do tarifaço nesta quarta-feira, acrescentando que “haverá reciprocidade com todos os países”.
Quem será afetado?
Como os detalhes da proposta não foram divulgados, ainda não se sabe quais países seriam afetados no primeiro momento. O impacto das tarifas recíprocas dependem da estratégia adotada pelo presidente americano. Caso o governo Trump siga as taxas médias aplicadas a todos os produtos, economias de mercado emergentes que impõe impostos altos sobre os produtos vendidos aos Estados Unidos devem sentir um amplo aumento tarifário.
Um dos países mais afetados seria a Índia, que foi o 8º maior exportador para os Estados Unidos em 2022. O país tem tarifa média de 9,5% sobre os produtos americanos, enquanto Washington cobra apenas 3% sobre as mercadorias indianas. As principais exportações indianas incluem diamantes, borracha, plástico e têxteis, setores que podem sofrer um impacto significativo.
Trump já criticou a Índia como um “grande abusador” no comércio e Hassett, do Conselho Econômico Nacional, disse à emissora americana CNBC que as taxas de Nova Délhi eram tão altas que bloqueavam as importações.
A União Europeia também pode ser um dos principais alvos da política de Trump. Atualmente, os Estados Unidos impõem imposto de 2,5% sobre a importação de veículos europeus, como os das montadoras BMW, Mercedes-Benz e Volkswagen, enquanto as nações do bloco europeu aplicam taxa de 10% sobre automóveis americanos. Ou seja, com tarifas recíprocas, a taxação de veículos europeus quadruplicaria.
Caso o governo americano decida adotar uma abordagem baseada em países específicos, acredita-se que as vinte nações que têm acordos de livre comércio com os Estados Unidos – incluindo Austrália, Canadá, Colômbia, Israel, Coreia do Sul, México e Panamá – não seriam afetadas.
Brasil na mira?
Se o critério para a adoção das tarifas recíprocas for o desequilíbrio na alíquota, o Brasil também pode ser afetado.
Atualmente, os Estados Unidos têm uma tarifa média de importação de 2% sobre bens industriais. Metade de todas as compras de bens industriais, que representam 94% das importações americanas, é isenta de impostos.
Já tarifa média de importação aplicada aos produtos brasileiros no exterior é de 4,6%, segundo um estudo de 2021 da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Além de ser 2,6 pontos percentuais maior que a americana, também se destaca em relação à média dos demais países analisados pelo estudo, que é de 2,3%.
Entre os 18 países selecionados pelo levantamento, o Brasil é aquele que está submetido à terceira maior tarifa de importação (4,6%) quando busca acessar mercados estrangeiros. A nação está atrás apenas da Argentina (5,3%) e da Índia (4,8%).
Com exceção da Argentina e do Brasil, os demais países latino-americanos chamam a atenção pela baixa tarifa média aos seus exportados: Colômbia (1,2%), Chile (1,2%), Peru (1,1%) e México (0,4%). No grupo do BRICS, a alíquota brasileira é a segunda maior, atrás da Índia, mas inferior à das demais economias: China (3,7%), África do Sul (2,4%) e Rússia (2,0%).
Aumento da inflação
As tarifas recíprocas também podem elevar a inflação nos Estados Unidos, visto que o aumento no preço de mercadorias importadas será repassado aos consumidores por meio de preços mais altos.
De acordo com estimativas do Deutsche Bank, um aumento de 3,3 pontos percentuais na tarifa efetiva poderia resultar em um acréscimo de 0,5 ponto percentual na inflação anual do índice de preços de Despesas de Consumo Pessoal (PCE, na sigla em inglês).
Esse efeito inflacionário pode impactar diretamente a política monetária americana. Em dezembro, o PCE central já estava em 2,8%, acima da meta de 2% do Federal Reserve (Fed), a autoridade financeira dos Estados Unidos. Se as tarifas recíprocas elevarem ainda mais essa taxa, o banco pode enfrentar dificuldades para reduzir as taxas de juros, uma medida que Trump defende como forma de impulsionar o crescimento econômico.