O novo capítulo na onda de fracassos dos empreendimentos do príncipe Harry
A presidente de sua ONG africana o acusa de 'bullying' para afastá-la

Quando, há cinco anos, abdicaram da posição de royals do mais alto escalão, fizeram as malas e se mudaram para a América do Norte, Harry e Meghan, os duques de Sussex, provavelmente anteviam um futuro dourado: seriam admirados pela rebeldia, bajulados pelos títulos da realeza e agraciados com prestígio e riqueza nas novas iniciativas no mundo plebeu. Não deu certo. Seja por incompetência do casal, seja pela inexorável campanha movida contra eles pelo Palácio de Buckingham, na surdina, e pelos tabloides, descaradamente, o fato é que, desde que deram as costas aos nobres parentes, tudo em que põem a mão dá errado. Nem obra de caridade escapa: no embate mais recente, que foi parar na Justiça, o príncipe é acusado por Sophie Chandauka, presidente do conselho da Sentebale, entidade beneficente fundada por ele, de intimidação e misoginia com o objetivo de afastá-la do cargo. “Há gente neste mundo que se comporta como se estivesse acima da lei e maltrata as pessoas”, disse ela em um comunicado. Dias depois, em entrevista, deu nome aos bois, denunciando Harry por “bullying e assédio em larga escala”.
A Sentebale foi fundada e tinha como patronos Harry e Seeiso, irmão do rei do Lesoto, pequeno país no sul da África. Sua missão, hoje ampliada para nações vizinhas, é ajudar crianças locais que perderam os pais para a aids, uma causa abraçada pelas mães dos dois príncipes. As desavenças com os métodos de trabalho de Chandauka, advogada nascida no Zimbábue e renomada no mundo corporativo, não são novas — entre as alegações contra ela está a de que gastou 500 000 libras em consultorias para mudar o foco das doações à instituição, sem sucesso. Sem meios legais para demiti-la, o conselho da Sentebale pediu que renunciasse. Ela se negou e, no início de abril, o próprio conselho renunciou, no que foi seguido por Seeiso e Harry — “com o coração partido”, segundo ele declarou na época.
Chandauka reagiu atribuindo ao príncipe britânico a liderança de uma manobra para tentar afastá-la, por pura e simples vingança. Como prova, publicou mensagens envolvendo o episódio constrangedor ocorrido há um ano, em uma partida de polo beneficente em Miami. Meghan resolveu aparecer na última hora e, no momento da entrega de medalhas, subiu ao palco e pediu a Chandauka que trocasse de lugar, para ficar do lado de Harry. O vídeo da cena repercutiu (mal) nas redes e, segundo a advogada, Harry passou a pressioná-la, em seguidas e “imperiosas” mensagens, para negar a intromissão e defender a duquesa, o que ela não fez. A briga no conselho da Sentebale está sendo analisada por um tribunal inglês e pela Comissão de Caridade do Reino Unido, órgão independente que fiscaliza instituições beneficentes britânicas (a ONG está registrada no país).
Na ronda dos tribunais, na terça-feira 8, Harry viajou da Califórnia, onde mora, para Londres, onde quase não põe os pés, para acompanhar outro processo (ele também abriu uma guerra judicial contra os tabloides ingleses), este exigindo que a polícia britânica providencie proteção oficial a ele e à família quando estiverem no país, prerrogativa que foi retirada quando decidiram ir embora. O príncipe desencantado amarga ainda uma série de insucessos em produções para a Netflix, com quem os Sussex assinaram um contrato milionário — no que é acompanhado pela mulher, Meghan. À frente de um reality show de culinária e wellness qualificado de insípido pela crítica, ela acaba de lançar uma muito prometida marca de geleia que o tribunal das redes sociais também reprovou. Veredicto: aguada demais.
Publicado em VEJA de 11 de abril de 2025, edição nº 2939