Número de jornalistas mortos em Gaza é maior do que soma de Guerras Mundiais, Vietnã e Ucrânia
Anas al-Sharif, da Al Jazeera, e outros membros da imprensa foram mortos em ataque aéreo israelense no domingo

Centenas de pessoas se reuniram para o funeral do jornalista da Al Jazeera, Anas al-Sharif, nesta segunda-feira, 11, e carregaram seu caixão pelas ruas da Cidade de Gaza, um dia depois dele e quatro colegas terem sido mortos em um ataque aéreo israelense. Ao todo, 192 profissionais da imprensa já morreram desde outubro de 2023, segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), um número quase três vezes maior que o total combinado da Primeira e da Segunda Guerra Mundial, que somaram 69 vítimas. Nas guerras do Vietnã, Camboja e Laos, foram 71; e na invasão russa à Ucrânia, que segue desde 2022, apenas 19.
Chamando Al Sharif de “um dos jornalistas mais corajosos de Gaza”, a Al Jazeera afirmou que a operação israelense, que teria como base uma suposta liderança do jornalista dentro de uma célula do grupo militante palestino Hamas, foi uma “tentativa desesperada de silenciar vozes em antecipação à ocupação de Gaza”. A relatora especial das Nações Unidas para a liberdade de opinião e expressão, Irene Khan, já havia declarado no mês passado que as alegações israelenses eram infundadas. Ele já havia integrado uma equipe da agência de notícias Reuters que, em 2024, ganhou o Prêmio Pulitzer na categoria Fotografia pela cobertura da guerra entre Israel-Hamas.
A Al Jazeera afirmou que Al-Sharif havia deixado uma mensagem nas redes sociais para ser publicada em caso de sua morte. Escrita no dia 6 de abril e publicada após sua morte, a postagem diz: “Vivi a dor em todos os seus detalhes, experimentei o sofrimento e a perda muitas vezes, mas nunca hesitei em transmitir a verdade como ela é, sem distorção ou falsificação. Que Alá seja testemunha contra aqueles que permaneceram em silêncio, aqueles que aceitaram nossa matança, aqueles que nos sufocaram e cujos corações permaneceram impassíveis diante dos restos mortais dispersos de nossas crianças e mulheres, sem fazer nada para impedir o massacre que nosso povo enfrenta há mais de um ano e meio”.
Além das mortes, 90 jornalistas foram presos por Israel desde outubro de 2023. A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) já apresentou quatro queixas contra Israel no Tribunal Penal Internacional, acusando Tel Aviv de promover um “massacre sem precedentes” e de impor bloqueios à entrada de jornalistas estrangeiros.
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Atualmente, repórteres estrangeiros só entram em Gaza em visitas organizadas pelo Exército, com poucas horas de duração e sujeitas à revisão e censura do material. No domingo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse preparar medidas para permitir a entrada de mais jornalistas, afirmando querer mostrar “as ações israelenses com os próprios olhos da imprensa”. Organizações de mídia, no entanto, alertam que não há garantias de independência no trabalho.
Em um comunicado no X (ex-Twitter), o escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas condenou o assassinato dos jornalistas, que classificou de uma “grave violação ao direito internacional humanitário”. “Israel deve respeitar e proteger todos os civis, incluindo jornalistas”, disse o texto.