Nos 80 anos do Dia D, Biden traça paralelo entre Hitler e ‘tirano’ Putin
Viagem à França ganha novos contornos em meio à incessante guerra na Ucrânia e uma recente subida de tom de Moscou contra Washington
Em discurso na França para marcar os 80 anos do Dia D, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, traçou paralelos diretos entre a Alemanha nazista de Adolf Hitler e as ameaças enfrentadas hoje em dia pelas democracias ocidentais, como a invasão da Rússia à Ucrânia, comandada por Vladimir Putin.
“Conhecemos as forças obscuras contra as quais estes heróis lutaram há 80 anos. Elas nunca desaparecem”, disse Biden. “Agressão e ganância, o desejo de dominar e controlar, de mudar fronteiras pela força. Estas são perenes. E a luta entre uma ditadura e a liberdade é interminável”.
O Dia D marca a data do desembarque de 150.000 soldados aliados na costa da Normandia, na França – um evento marcante para a vitória sobre as forças nazistas na II Guerra Mundial. O aniversário deste ano provavelmente ficará marcado como a última grande comemoração desta data com a presença de veteranos vivos que lutaram contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial e agora estão com quase 100 anos de idade.
A viagem de Biden neste ano, no entanto, ganha novos contornos em meio à incessante guerra na Ucrânia e uma recente subida de tom de Moscou contra Washington.
Ao longo de seu discurso, o presidente americano mencionou especificamente a Ucrânia, dizendo que o país foi “invadido por um tirano determinado a dominar”, mas que os ucranianos estão “lutando com uma coragem extraordinária”. Durante a fala, Biden ressaltou que 350.000 soldados russos foram mortos ou feridos no conflito e que quase 1 milhão de pessoas fugiram da Rússia desde a invasão ao país vizinho, em fevereiro de 2022. Os números, no entanto, não são confirmados publicamente pelo Kremlin.
Segundo ele, se Estados Unidos e a Otan, a principal aliança militar ocidental, desistirem de apoiar a Ucrânia, toda a Europa será ameaçada.
“E não se engane, os autocratas do mundo estão observando de perto para ver o que acontece na Ucrânia. Para ver se deixamos esta agressão ilegal passar sem controle, não podemos deixar que isso aconteça. Render-se aos valentões, curvar-se aos ditadores é simplesmente impensável”, disse.
Os Estados Unidos se mantêm como os principais financiadores da defesa ucraniana, tendo enviado US$175 bilhões (cerca de R$925 bilhões) para o país desde a invasão da Rússia em 2022, e a França duplicou seu orçamento de defesa para a Ucrânia, além de retomar a produção de insumos militares críticos.
No início desta semana, no entanto, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, subiu o tom e ameaçou os Estados Unidos de enfrentarem “consequências fatais” caso permitam que a Ucrânia utilize armas fornecidas por Washington para realizar ataques contra o território russo.
A fala de Ryabkov é uma resposta à decisão de Biden, na semana passada, de flexibilizar algumas restrições relacionadas ao uso de armamentos dos Estados Unidos pela Ucrânia contra a Rússia. O chefe da Casa Branca anunciou que passaria a permitir ataque contra quaisquer alvos envolvidos na ofensiva em Kharkiv, cidade no nordeste ucraniano, mesmo que estejam dentro do território russo.
O presidente russo, Vladimir Putin, já havia alertado na semana passada para o risco de um conflito global mais profundo, afirmando que qualquer país do Ocidente que permitisse o uso de suas armas para atacar os rincões da Rússia estaria se envolvendo diretamente no conflito.
Putin fez “um aviso muito significativo e deve ser levado com a maior seriedade”, acrescentou Ryabkov. “Peço a estas figuras (nos Estados Unidos) para gastarem parte do seu tempo, que aparentemente gastam em algum tipo de videogame a julgar pela leveza de sua abordagem, no estudo detalhado do que foi dito por Putin”.