Nomeação de esposa de Ortega como chefe do Exército fortalece domínio sobre Nicarágua
A mando o casal, Forças Armadas tiveram influência decisiva na repressão de protestos contra o governo em 2018, quando mais de 350 pessoas morreram

Copresidente da Nicarágua ao lado do marido, o ditador Daniel Ortega, Rosario Murillo foi nomeada na terça-feira chefe suprema das Forças Armadas, em uma decisão aprovada em caráter de urgência pelo Congresso, controlado pelo regime. A mudança, na prática, fortalece ainda mais o domínio do casal, que já controla todos os poderes do Estado.
A designação foi formalizada por meio de uma reforma do Código de Organização, Jurisdição e Previdência Social Militar, proposta pelo Executivo e aprovada por unanimidade e urgência pela Assembleia Nacional, que conta com a maioria dos filiados oficiais do partido.
“O Exército estará subordinado à autoridade civil exercida pela Presidência da República como Comando Supremo do Exército da Nicarágua”, diz a decisão, vista pela agência EFE.
Além do recém-conquistado comando do Exército, Murillo também controla ministérios e decide nomeações e demissões de funcionários públicos, com uma influência decisiva na repressão de protestos contra o governo em 2018, quando mais de 350 pessoas morreram, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
As nomeações a cargos importantes se dão ainda no eixo familiar. O atual chefe de polícia, cujo mandato foi estendido no ano passado, é o comissário-geral Francisco Díaz, cuja filha Blanca Díaz é casada com Maurice Ortega-Murillo, um dos filhos do casal presidencial. Ele foi empossado pouco antes dos protestos de 2018.
No mês passado, o Grupo de Especialistas em Direitos Humanos das Nações Unidas sobre a Nicarágua (GHREN) desmantelou em relatório as declarações do governo de que as Forças Armadas não teriam participado da repressão aos protestos. Os especialistas documentaram que a repressão de 2018 foi planejada e ordenada pelos mais altos níveis do governo. Tanto Ortega quanto Murillo deram a ordem para atacar os manifestantes, o que levou ao uso desproporcional e sistemático da violência e levou à prática de crimes contra a humanidade que estão atualmente sendo processados por um tribunal na Argentina.
O relatório observa que o Exército nicaraguense não apenas colaborou com a Polícia Nacional e grupos armados pró-governo, mas também assumiu um papel fundamental na estratégia de repressão. Entre as ações documentadas estão “o uso de armas letais, operações de inteligência, treinamento de civis e intervenção direta nas operações”.