Netanyahu fará de tudo para se manter no poder, dizem analistas
Primeiro-ministro de Israel deve usar aliança com bloco ultraconservador para obter imunidade parlamentar e se proteger de processo por corrupção
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu usou das mais variadas táticas para conquistar sua reeleição na votação para o Parlamento israelense nesta semana. A forma como tratou as eleições e como vem reagindo às acusações de corrupção e abuso de poder demonstra que também será capaz de tudo para permanecer no cargo pelos próximos cinco anos de seu novo mandato.
O resultado da votação da última terça-feira 9 consagrou Bibi como o próximo líder de Israel. As eleições também formaram um dos Parlamentos mais conservadores da história do país, com os partidos ultra-ortodoxos e da extrema-direita levando ao menos 20 assentos.
Em sua atual coalizão, Netanyahu já conta com o apoio dos parlamentares da direita e, se nada mudar, deve mantê-los ao seu lado nos próximos anos.
Com essa base, o primeiro-ministro pode batalhar para conquistar a imunidade parlamentar que precisa para evitar as acusações de corrupção que pairam sobre o seu governo. Ao todo, os investigadores apuram três casos contra Bibi, dois deles envolvendo pagamentos e concessão de favores para meios de comunicação em troca de uma cobertura favorável a seu governo.
Por causa das eleições, o premiê havia pedido ao secretário de Justiça, Avichai Mandelblit, que “congelasse” os procedimentos contra ele temporariamente. Já nesta quinta-feira, 11, porém, seus advogados foram convocados para receber oficialmente as evidências dos casos para preparar a defesa do premiê.
Netanyahu ainda não foi acusado oficialmente, e seu indiciamento dependerá do resultado de uma audiência que ainda não tem data marcada, mas que deve acontecer ainda neste ano.
Na sessão, Bibi e sua defesa podem tentar persuadir Mandelblit a não indiciá-lo oficialmente. Especialistas concordam, contudo, que a melhor chance para o premiê se livrar das acusações está na imunidade parlamentar.
Em Israel, os parlamentares não contam com privilégios perante à Justiça. O primeiro-ministro, contudo, poderia recorrer à aprovação de uma polêmica legislação que daria a ele imunidade enquanto estiver no cargo, a chamada “Lei Francesa”.
“Netanyahu não vai deixar sua carreira acabar indo para a prisão”, afirmou a analista chefe de política do Canal 2 de Israel, Dana Weiss, em teleconferência organizada pelo Winson Center, de Washington.
“Ele vai se juntar a sua coalizão de direita e, juntos, vão fazer o que for necessário para dar a imunidade a ele”, completou a especialista, que apresenta um programa de notícias em uma das maiores emissoras do país.
Campanha agressiva
Weiss destaca que o primeiro-ministro já demonstrou que está disposto a lutar de forma agressiva pela sua sobrevivência. Nos meses anteriores às eleições, Netanyahu apostou em uma propaganda pesada contra seu principal adversário Benjamin Gantz, ex-chefe do Estado-Maior do Exército e líder do partido centrista Kahol Lavan.
O premiê chegou a veicular anúncios acusando o militar de ser “louco” e “mentalmente instável”. Também insinuou em repetidas ocasiões que seu rival poderia liderar uma aproximação com o Irã, o que jamais havia sido aventado por Gantz.
No dia da eleição, Bibi e seu partido, o Likud, enviaram mensagens de celular para seus eleitores pedindo que comparecessem às urnas para ajudá-lo a derrotar “os esquerdistas” – posições das quais os militantes do Khahol Lavan se distanciam. Como último recurso, o premiê foi até a uma praia e exigiu que os banhistas saíssem da água para votar em sua legenda.
“Não houve nenhuma barreira que ele não fosse capaz de cruzar nesta campanha”, afirma Dana Weiss.
Anexação de território
Três dias antes das eleições, Benjamin Netanyahu afirmou que, se vencesse, poderia anexar partes do território palestino ocupado da Cisjordânia.
Em entrevista à cadeia de televisão israelense 12, Netanyahu foi indagado se tinha um projeto de anexar as colônias israelenses na Cisjordânia, ao que ele respondeu afirmativamente. “Aplicarei a soberania (israelense) sem fazer distinções entre os (maiores) blocos de colônias e os assentamentos isolados”, declarou.
Há cerca de 400 mil israelenses vivendo na Cisjordânia, território habitado majoritariamente por palestinos (cerca de 2,5 milhões), que exigem a criação de um Estado próprio. Especialistas consideram a presença de Israel no território como um dos principais obstáculos para alcançar a paz no Oriente Médio.
A anexação da Cisjordânia por Israel poderia significar o fim definitivo da chamada solução de dois Estados, isto é, a coexistência do Estado de Israel e do Estado Palestino com fronteiras definidas e soberanias respeitadas.
A medida, contudo, poderia ser usada por Netanyahu em sua busca por imunidade parlamentar, segundo David Horovitz, editor do jornal The Times of Israel e especialista em política israelense.
Os partidos ultra-ortodoxos defendem o controle de Israel sobre muitos desses territórios e estariam dispostos a trocar seus votos em favor de Bibi por medidas radicais do premiê em relação à Palestina.
“Netanyahu poderia condicionar a anexação de ocupações na Cisjordânia a acordos com partidos da coalizão para protegê-lo de um processo”, diz Horovitz.