Everest tem recorde de licenças de escalada e periga fila na zona da morte
Superlotação foi fator-chave quando nove pessoas morreram em 2019; país emitiu 463 autorizações para escalar a montanha entre março e maio
O Nepal emitiu um número recorde de autorizações para escalar o Monte Everest na atual temporada e levantou temores de um engarrafamento na subida final através da “zona da morte”, até o cume do pico mais alto do mundo.
A superlotação e o alto número de alpinistas relativamente inexperientes foram citados como fatores-chave quando nove pessoas morreram no pico de 8.849 metros em maio de 2019. Aquela foi uma das estações mais mortais em anos.
Quem quiser escalar o Everest até o final de maio, quando o clima ainda costuma ser favorável, deve obter uma autorização do governo do Nepal até o final deste mês. Até agora, o Nepal concedeu um recorde de 463 autorizações entre março e maio, superando as 409 de 2021.
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Especialistas avaliam que engarrafamentos na rota de escalada podem levar os alpinistas a ficarem sem oxigênio e enfrentarem exaustão na chamada “zona da morte”, quando a altitude ultrapassa 8.000 metros, onde o ar é rarefeito demais para sobreviver por muito tempo sem oxigênio suplementar.
O maior risco de atrasos ocorre no Hillary Step, uma rocha íngreme de 12 metros, apenas 180 metros abaixo do cume.
Lar de oito dos 14 picos mais altos do mundo, o Nepal é frequentemente criticado por alguns alpinistas por permitir que qualquer um que possa pagar a taxa de US$ 11.000 (R$ 55.000) para escalar o Everest – uma acusação que o governo nega.
Este ano, os chineses receberam o maior número de licenças (96), e os alpinistas americanos ficaram em segundo lugar, com 87, enquanto os alpinistas da Índia receberam 40.
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A segunda temporada de escalada vai de setembro a novembro, mas não é tão popular.
Para cada alpinista, normalmente há pelo menos um guia Sherpas, parte de uma etnia local de origem tibetana.
A escalada é uma fonte de renda importante para o país pobre, onde cerca de 500.000 pessoas trabalham no turismo, e o número de licenças tem aumentado continuamente.
Até agora neste ano, o Nepal concedeu licenças a 1.046 alpinistas para 24 picos, rendendo ao governo US$ 5,6 milhões (R$ 28 milhões), dos quais US$ 5 milhões (R$ 25 milhões) vieram apenas do Everest.
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Cada alpinista gasta pelo menos US$ 26.700 (R$ 133.270) em uma expedição no Nepal, incluindo taxas de permissão, combustível, alimentação, guias e viagens locais, de acordo com a agência de Notícias Reuters.
Yubaraj Khatiwada, diretor do Departamento de Turismo do Nepal, rejeitou as críticas ao número de autorizações concedidas e disse que uma equipe de médicos e funcionários do governo estaria posicionada no acampamento base do Everest pela primeira vez, para administrar as atividades de escalada durante a temporada.
Ele disse ainda que o governo está considerando introduzir uma exigência para os alpinistas escalarem pelo menos um pico de 6.000 metros no Nepal antes de tentar o Everest.