Na ONU, Irã denuncia “terrorismo econômico” dos Estados Unidos
Governo americano comemora a inflação de 52% e a queda de 6% do PIB no Irã como resultados das suas sanções contra o país
Ao falar perante a Assembléia-Geral das Nações Unidas nesta quarta-feira, 25, o presidente iraniano, Hassan Rohani, denunciou o “terrorismo econômico” dos Estados Unidos contra seu país, na forma das sanções econômicas aplicadas desde a saída americana unilateral do acordo nuclear, em 2018.
Rohani transmitiu aos países presentes na assembléia a opinião do líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, de que seu país nunca “negociará com um inimigo” – os Estados Unidos, no caso – e questionou a moral do governo americano ao comemorar “a morte silenciosa de uma grande nação”.
Na última quarta-feira 20, o Departamento de Estado americano publicou no Twitter um vídeo curto mostrando os resultados da campanha de “máxima pressão” contra o governo iraniano. Na peça, o departamento aponta o aumento da inflação em 52% ao ano no país, a queda de 6% no Produto Interno Bruto (PIB), a diminuição na produção de barris de petróleo e a perda do valor da moeda iraniana. Segundo o governo americano, esses resultados econômicos mostram que a política de sanções contra Teerã está provocando resultado positivos e contribuirão para que a República Islâmica “se comporte como um país normal”.
“Eu venho de um país que defende e resiste ao mais cruel terrorismo econômico. (Os Estados Unidos) recorreram à pirataria internacional ao usar indevidamente o sistema bancário internacional”, afirmou Rohani.
O presidente iraniano diz que o país nunca se rendeu à forças estrangeiras e, por isso, não iniciará negociações enquanto os Estados Unidos não retirarem as sanções e voltarem a cumprir sua parte do Plano Conjunto de Ação Global (JCPOA), o acordo nuclear de 2015.
“Não podemos negociar com pessoas que se responsabilizam por aplicar as sanções mais duras da história e que atentam contra a dignidade e prosperidade da nossa nação. Nós nunca iremos esquecer esses crimes e esses criminosos”, disse Rohani.
O presidente iraniano citou a Resolução 2231 do Conselho de Segurança da ONU, que endossa o JCPOA. Para ele, os Estados Unidos violaram o texto, abrindo uma lacuna em que a “soberania, a política e a independência econômica de todos os países no mundo” estariam sob o risco de interferência estrangeira.
Apesar das duras críticas contra os Estados Unidos, Rohani mostrou que o Irã pode renegociar pontos do acordo. Em seu discurso, disse que, se os americanos demandarem maiores garantias de que Teerã não buscará a bomba atômica, deverão oferecer mais.
A União Europeia tenta salvar o acordo nuclear ao criar um mecanismo para driblar as sanções americanas, mas até o momento não conseguiu apresentar uma proposta promissora. Para pressionar os europeus, o Irã anuncia etapas de descumprimento do acordo, enriquecendo urânio e estocando combustível nuclear acima do limite estipulado pelo acordo. Porém, “a nossa paciência tem limite”, advertiu Rohani na ONU.
“Enquanto os Estados Unidos desrespeitam o Conselho de Segurança e a Europa se mostra incapaz, a única via que nos sobra é nos apegarmos à nossa dignidade nacional, nosso orgulho e na nossa força”, afirmou.
Golfo Pérsico
O presidente iraniano afirmou que um dos objetivos de Teerã na região é manter a paz entre seus vizinhos, incluindo a rival Arábia Saudita, por meio da formação de uma “Coalizão da Esperança” entre os países do Golfo. Essa coalizão garantiria a livre navegação e a segurança no Estreito de Hormuz, onde passa cerca 20% do petróleo do mundo.
Entretanto, esse plano só dará certo, segundo Rohani, se os Estados Unidos retirarem seu contingente militar da região. Os americanos, sublinhou ele, são a fonte de toda tensão no Oriente Médio.
“A solução para alcançarmos a paz na Península Arábica, a segurança no Golfo Pérsico e a estabilidade no Oriente Médio deve ser buscada dentro da região, em vez de fora dela. Nossos problemas são maiores e mais importantes do que os Estados Unidos conseguem resolver”, concluiu.
Apesar do aceno aos países árabes, o cenário de uma aliança entre Teerã e Riad para garantir a segurança no Golfo Pérsico parece estar distante. Há pouco mais de uma semana, um ataque contra as refinarias de petróleo da saudita Aramco comprometeu a produção de petróleo do país árabe e quase deflagrou um conflito aberto entre os dois países. Mesmo que os rebeldes houthis do Iêmen tenham reconhecido a autoria do ataque, o governo da Arábia Saudita e seus aliados, como Estados Unidos e países europeus, acreditam que o Irã foi o responsável.