Mudança climática deixou ondas de calor mortais 35 vezes mais prováveis
Estudo da World Weather Attribution aponta que frequência do fenômeno nos EUA e no México já é quatro vezes maior do que há 25 anos
As mudanças climáticas tornaram as ondas de calor mortais 35 vezes mais prováveis nos Estados Unidos, no México e na América Central, de acordo com uma pesquisa da organização World Weather Attribution (WWA), publicada nesta quinta-feira, 20.
Nas últimas semanas, temperaturas extremas atingiram diversas áreas do México, Estados Unidos, Honduras, El Salvador, Guatemala e Belize, deixando dezenas de milhões de pessoas em situação de risco. A pesquisa aponta que a probabilidade de ondas de calor afetarem todos esses países entre maio e junho já é quatro vezes maior do que há 25 anos, quando o planeta estava 0,5ºC mais frio.
De acordo com o estudo, a queima de combustíveis fósseis e outras atividades humanas, como o desmatamento e a agricultura industrializada, são os principais responsáveis pelo aumento da frequência e intensidade do calor extremo. Além disso, a falta de uma ação política significativa para eliminar os combustíveis fósseis tornará as ondas de calor mortais “muito comuns em um mundo 2ºC mais quente”, completou o texto.
“Graças aos políticos covardes, que constantemente cedem ao lobby dos combustíveis fósseis, o mundo continua queimando enormes quantidades de petróleo, gás e carvão”, disse Friederike Otto, coautora do estudo e professora de ciência do clima no Grantham Institute, no Imperial College London.
O calor extremo pode provocar doenças cardiovasculares, respiratórias e renais, além de ameaçar a estabilidade do fornecimento de energia elétrica, essencial para o funcionamento das instalações de saúde.
“Além de reduzir as emissões, governos e cidades precisam tomar medidas para se tornarem mais resilientes ao calor”, disse Izidine Pinto, coautor e pesquisador do Instituto Meteorológico Real dos Países Baixos.
Calor na América do Norte e Central
Os pesquisadores da WWA analisaram as temperaturas máximas de cinco dias na América do Norte e Central durante os meses de maio e junho. A principal descoberta foi que o aquecimento global tornou as temperaturas cerca de 1,4ºC mais altas durante os períodos de calor extremo em comparação com os tempos pré-industriais.
O calor se intensificou ainda mais durante a noite, com temperaturas cerca de 1,6ºC mais quentes (um aumento de 200 vezes). Isso, segundo o estudo, impede o corpo de descansar.
No México, pelo menos 125 pessoas morreram e milhares sofreram por insolação desde março, devido a temperaturas que ultrapassaram os 50ºC. A onda de calor intensificou a seca e a poluição do ar no país, além de provocar escassez de água, incêndios florestais, a morte de animais e quedas de energia.
Mais de 34 milhões de pessoas estão sob alerta de calor em todo o sudoeste dos Estados Unidos atualmente. Na cidade mais quente do país, Phoenix, 72 suspeitas de mortes por calor estavam sendo investigadas até 8 de junho, número 18% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado.
A situação na América Central é ainda mais precária, devido à sua geografia, aos altos níveis de pobreza e à desigualdade e falta de sistemas de prevenção e alerta de desastres. Na Guatemala, as temperaturas atingiram 45ºC, provocando o fechamento temporário de escolas e uma grave seca. Já em Honduras, a grande quantidade de incêndios florestais provocados pelo calor intenso resultou na pior qualidade do ar já registrada na capital, Tegucigalpa.