MPRJ reabrirá inquérito contra deputado dos EUA que é filho de brasileiros
Justiça brasileira vai conseguir dar seguimento ao processo por estelionato após George Santos ser eleito, por finalmente conseguir localizar seu endereço
Apesar de ser acusado de estelionato desde 2008 no Rio de Janeiro e estar sob sombra de investigações de possíveis atividades criminosas durante sua campanha, o deputado eleito, George Santos, que é americano e filho de imigrantes brasileiros, vai tomar posse do cargo nesta terça-feira, 3.
Sua vitória, no entanto, pode sair pela culatra. O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) comunicou à VEJA nesta terça-feira que vai reabrir o processo contra Santos, justamente devido à validação de um endereço residencial necessária para assumir o posto no Congresso.
Em nota, o MPRJ afirmou que “o réu foi eleito deputado nos Estados Unidos da América e que, portanto, tem endereço certo, o que vai possibilitar sua citação e a reabertura do processo”. Para dar continuidade ao processo, um juiz precisa de uma carta rogatória ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
Para isso, porém, é preciso aguardar o fim do recesso da Justiça Estadual brasileira, que se encerra nesta sexta-feira, 6. Caso Santos não apresente defesa no Brasil, ele vai ser julgado à revelia, e a condenação máxima é de cinco anos de prisão e uma multa.
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O processo criminal foi divulgado pela primeira vez pelo jornal americano The New York Times. Na reportagem, foi revelado que um mês antes do seu aniversário de 20 anos, o republicano entrou em uma loja em Niterói, no Rio de Janeiro, e gastou mais de R$ 2 mil em roupas com um talão de cheques roubado.
Santos teria utilizado o talão de um dos pacientes de sua mãe, que na época trabalhava como enfermeira, e falsificado a assinatura. Em 2009, o congressista admitiu a fraude ao dono da loja e escreveu em seu perfil no Orkut que se arrependia do ato. No ano seguinte, ele e sua mãe confessaram o roubo à polícia.
A acusação foi aprovada em setembro de 2011, quando um juiz ordenou que o deputado respondesse ao caso. Mas Santos já estava nos Estados Unidos e trabalhava, segundo registros, na Dish Network College Point, no bairro do Queens, na cidade de Nova York, e seu endereço não pôde ser encontrado.
Na semana passada, novas irregularidades nos gastos de campanha surgiram no extenso currículo de acusações criminais de Santos. O parlamentar teria gastado US$ 40 mil dos fundos de campanha em voos e pagamentos de aluguel – despesas pessoais.
O filho de brasileiros também mentiu sobre sua formatura na faculdade e enganou seus eleitores ao afirmar ter trabalhado para a empresa Citigroup e o banco Goldman Sachs. Além disso, ele reconheceu que devia milhares de dólares por não pagar aluguel e retirou as alegações de que possuía várias propriedades. Apesar das confissões anteriores, Santos negou qualquer envolvimento criminal.
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“Não sou um criminoso aqui – nem aqui, nem no Brasil, nem em qualquer jurisdição do mundo”, afirmou ao Times. Já o advogado do deputado, Joe Murray, disse nesta segunda-feira que está “no processo de contratar um advogado [brasileiro] para tratar dessa alegada reclamação contra meu cliente”.
A condenação criminal por crime doloso não inabilita Santos de continuar no cargo. A última vez que um parlamentar foi exonerado do cargo no Congresso americano por infringir a lei foi em 2002, quando James Traficant Jr. foi destituído após ser condenado por extorsão e acusações de corrupção.