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Morre o príncipe Philip, aos 99 anos

Marido da rainha Elizabeth II, monarca não estava bem de saúde nos últimos anos. Causa da morte ainda não foi revelada

Por Caio Mattos e Julia Braun
Atualizado em 9 abr 2021, 12h21 - Publicado em 9 abr 2021, 08h20

Marido da rainha Elizabeth II, o príncipe Philip faleceu aos 99 anos nesta sexta-feira, 9. A saúde do monarca, que completaria 100 anos em junho, vinha se deteriorando nos últimos anos. 

O Palácio de Buckingham, que anunciou o falecimento, não confirmou ainda a causa da morte. Segundo o comunicado, o duque de Edimburgo morreu de “forma pacífica” no Castelo de Windsor.

“É com profunda tristeza que Sua Majestade a Rainha anuncia a morte de seu amado marido, Sua Alteza Real, o Príncipe Philip, Duque de Edimburgo”, diz o comunicado de Buckingham. “Novos anúncios serão feitos no momento oportuno. A Família Real se reúne a pessoas de todo o mundo no luto pela sua perda”.

Príncipe Philip da Grécia e da Dinamarca, bisneto da rainha Victoria, era casado há 73 anos com Elizabeth. Nos últimos anos viu sua saúde se deteriorar e foi levado ao hospital diversas vezes. Em maio de 2017 abdicou de suas funções reais, e desde então não participava de eventos públicos. 

Em fevereiro, ele passou mal e foi internado como “medida de precaução”. Ele foi transferido de hospital e passou por uma cirurgia cardíaca, mas recebeu alta depois de um mês.

O príncipe que queria ser rei

Philip nasceu em uma casa real de origem alemã, mas nunca desfrutou tanto quanto outros do fato de ser membro da nobreza europeia. Pelo contrário, aos 18 meses de vida, já era um refugiado político.

Nascido na ilha grega de Corfu em 1921, era o sexto na linha de sucessão ao trono da Grécia quando seu tio, o rei Constantino I, e o regime monárquico foram depostos em um golpe militar. Andrea, pai de Philip, quase foi condenado à pena capital.

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Philip em sua juventude, fantasiado para uma produção escolar de MacBeth - Julho de 1935
Philip em sua juventude, fantasiado para uma produção escolar de MacBeth – Julho de 1935 (Fox Photos/Getty Images)

O pequeno príncipe, seus pais e suas quatro irmãs foram transferidos para um navio da marinha britânica graças ao rei George V, do Reino Unido, primo de Andrea e, por coincidência, avô da rainha Elizabeth II, que nasceu quatro anos mais tarde. Philip foi levado em uma caixa de laranjas, servindo como um berço improvisado     

Desapossada, a família primeiro foi alojada por parentes distantes em Paris. Mas, até seus 10 anos, Philip foi abrigado por diferentes familiares em diversos países. Quando perguntado em uma entrevista sobre qual língua falava em casa, o príncipe respondeu: “O que você quer dizer com ‘em casa’?”.

Philip não foi órfão apenas de terra, mas de pais. Alice, mãe do príncipe, adoeceu devido ao trauma do exílio da Grécia; estima-se que ela tenha sofrido depressão. Alice foi internada quando Philip tinha nove anos, em 1930. Entre 1932 e 1937, eles não se viram em nenhum momento, nem trocaram correspondência.

Enquanto isso, Andrea abandonou sua família ou como Hugo Vickers, biógrafo de Alice, descreveu — “renunciou seu papel como marido”. Os pais de Philip nunca se divorciaram formalmente, mas Andrea viveu com uma amante no sul da França após o internamento de sua esposa. 

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Dentre seus parentes de primeiro grau, Philip teve mais contato com sua irmã Cecile. Ela que veio a falecer em um acidente aéreo quando Philip tinha 16 anos era casada com um príncipe alemão e ambos eram membros do Partido Nazista. Outras duas irmãs também se casaram com nazistas e, pelo menos, uma delas se filiou ao partido de Hitler.

“A família se rompeu. Minha mãe estava doente, minhas irmãs casadas e meu pai no sul da França. Eu só tinha que lidar com isso”, disse Philip em uma entrevista.

Nesse contexto, o jovem príncipe de um reino sem terra foi enviado ao Reino Unido e foi estudar em Gordonstoun, um internato na Escócia. Aos 18 anos, em 1939, Philip se alistou na Marinha Real Britânica e foi lutar na Segunda Guerra Mundial. Até o final do conflito, o príncipe foi promovido a primeiro-tenente.

Enquanto Philip salvava a tripulação do HMS Wallace de um bombardeio nazista segundo relatos, sua mãe — que havia sido liberada do internamento há alguns anos — escondia uma família de amigos judeus em sua casa em Atenas, então ocupada pelos italianos.

Após o fim do conflito, o príncipe pediu a mão da então princesa Elizabeth ao pai dela, o rei George VI, do Reino Unido. Durante a guerra, Philip e Elizabeth, que já se conheciam desde 1934 — quando ambos, ainda criança, participaram de um casamento —, trocaram correspondências amorosas.

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Embora o príncipe fosse nascido no exterior e não possuísse nenhuma fortuna, o rei aceitou o pedido. A cerimônia do casamento se deu no dia 20 de novembro de 1947 na Abadia de Westminster. Cerca de 2.000 convidado e mais de 200 milhões de espectadores ligados na rádio BBC acompanharam o evento. Nenhuma das irmãs de Philip foi convidada. 

Rainha Elizabeth II e príncipe Philip em Liverpool em maio de 1961
Rainha Elizabeth II e príncipe Philip em Liverpool em maio de 1961 (George Freston/Getty Images)

Para se casar com Elizabeth e se tornar o Duque de Edimburgo, Philip se converteu à religião da coroa britânica, o cristianismo anglicano. Ele também se naturalizou cidadão do Reino Unido, adotando o sobrenome Mountbatten, que é uma versão anglicizada do sobrenome alemão de sua família materna, Battenberg.

Elizabeth foi coroada rainha seis anos depois. Desde então, o príncipe Philip viveu sob a inevitável sombra de sua mulher, a monarca mais longeva da história do Reino Unido. Por ser apenas o cônjuge, ele não podia deter nenhum dos poderes simbólicos da realeza sobre a política britânica. 

Então, o príncipe que talvez quisesse ser rei se voltou para a vida pública. Em 1961, Philip se tornou o primeiro membro da família real a ser entrevistado na televisão. Ele conversou com o jornalista Richard Dimbleby, da emissora BBC, para o programa Panorama, que está no ar até os dias de hoje.

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Embora o assunto principal da entrevista fosse um programa educacional da Commonwealth comunidade de 53 membros, dentre eles, 50 ex-territórios britânicos, como Canadá e Austrália —, Philip já era um ambientalista reconhecido. Em abril daquele ano, ele se tornara o primeiro presidente da organização não-governamental World Wildlife Fund no Reino Unido.

Em 1974, quando Philip e a rainha Elizabeth II visitaram o arquipélago de Vanuatu, no Oceano Pacífico, a imagem do príncipe ascendeu a um novo patamar. Uma tribo da ilha vanuatense de Tanna o identificou como “o verdadeiro messias”, pois, segundo a profecia local, o salvador seria, supostamente, alguém casado com uma mulher “poderosa”.

Desde então, os nativos de Tanna cultuaram Philip, que já os presenteou com algums autorretratos em fotografia. O príncipe nunca pisou na ilha de seus “seguidores”, que é apenas uma das mais de 80 pertencentes a Vanuatu. Eles tiveram que se contentar com seu filho, Charles, que os visitou no início de 2018.

Controvérsias e acusações de infidelidade

Philip e Elizabeth II em cerimônia em Londres em 2015
Philip e Elizabeth II em cerimônia em Londres em 2015 (Chris Jackson/Getty Images)

Uma fonte de gafes, o príncipe perguntou aos habitantes das Ilhas Cayman, no Caribe, se eles eram “descendentes de piratas”. Philip ironizou desde a situação dos desempregados britânicos durante a recessão de 1981 à dos paraguaios sob a ditadura de Alfredo Stroessner. Em 1997, ele chamou o chanceler alemão de Reichskanzler, título usado pela última vez por Hitler.

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O duque de Edimburgo sempre foi um homem polêmico e aproveitou-se disso. Os comentaristas mais próximos da monarquia dizem que tinha um grande senso de humor e espírito livre. 

Há dezenas de histórias curiosas e conflitos atribuídos a Philip. O mais famoso deles é o que manteve por anos com seu filho, Charles. Por diversas vezes ele já deixou claro que não gosta das atitudes do herdeiro do trono, a quem não pode passar seu sobrenome alemão. O maior conflito entre os dois começou quando Charles decidiu casar-se com Diana. O duque foi um grandes inimigos de Lady Di no palácio.

Há também muitos comentários e controvérsias sobre sua relação com Elizabeth. Um documentário exibido há dois anos, pelo Canal 5 da TV britânica, revelou episódios de traição de Philip, incluindo uma viagem com uma mulher misteriosa no iate Britannia. O filme ainda fala de noites em que o príncipe passou em uma discoteca do Soho, onde se relacionava com as showgirls.

No passado, também comentou-se sobre uma relação com a atriz austro-húngara radicada nos Estados Unidos, Zsa Zsa Gabor. O membro da realeza também teria se envolvido com a atriz Patricia Hodge.

Especialistas em Família Real afirmam que foi com Lady Penny Brabourne, 30 anos mais jovem, que ele encontrou o amor na maturidade. Com o nome de batismo de Penélope Romsey, a condessa Mountbatten da Birmânia oficialmente tinha uma grande amizade com Phillip, mas algumas fotos mostraram que eles eram muito próximos.

A infidelidade do duque também é abordada, mas sem se tirar conclusões sobre sua veracidade, na série The Crown, da Netflix, que foi premiada com três Globos de Ouro.

Mesmo assim, como relata a revista americana Vanity Fair, “nunca houve prova empírica de que Philip tenha traído [a rainha Elizabeth II], e a família real tem ignorado as acusações na maioira das vezes”. Por outro lado, diz o ator britânico Matt Smith, que interpreta o duque em The Crown, “eu acho que eles [família real] são muito bons em silenciar algo quando eles precisam que seja silenciado”.

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