Mirando ‘controle total’, tropas russas capturam áreas ao leste da Ucrânia
Ofensiva faz parte de plano de domínio tanto sobre o sul ucraniano quanto sobre Donbas, onde concentram-se separatistas pró-Rússia, para corredor terrestre
Em avanços na ofensiva para controlar a região de Donbas, forças russas capturaram diversos vilarejos e aldeias ao leste da Ucrânia. Nesta quarta-feira, 27, o Ministério da Defesa russo afirmou que as tropas de Moscou expulsaram o Exército ucraniano de Velyka Komyshuvakha e Zavody, na região nordeste de Kharkiv, e ganharam controle sobre Zarichne e Novotoshkivske em Donetsk.
De acordo com a pasta, mísseis também destruíram um galpão na região de Zaphorizhzhia onde estavam “armas e munições estrangeiras fornecidas às tropas ucranianas pelos EUA e por países europeus”. A Força Aérea russa também teria destruído 59 alvos militares ucranianos durante a noite, segundo o ministério.
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Na semana passada, o comandante do Distrito Militar Central da Rússia, Rustam Minnekaev, explicitou o objetivo de assumir “controle total” tanto sobre o sul da Ucrânia quanto sobre Donbas, onde se concentram os separatistas pró-Rússia. O controle das áreas criaria um corredor terrestre conectando a Rússia à Crimeia, península anexada por Moscou em 2014, e daria às forças russas acesso à Transnístria, um estado separatista na Moldávia, onde um contingente de forças russas está alocado desde o início dos anos 1990.
Temores de que a guerra pudesse chegar até a Moldávia aumentaram depois que uma autoridade local disse que tiros foram disparados durante a noite do território ucraniano em direção a uma vila na região da Transnístria que abriga um depósito de munição russo.
Apesar de não se saber de fato quem está por trás dos ataques na região, há preocupação internacional de que a Moldávia pudesse ser o próximo alvo russo. A vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Hanna Malyar, acusou a Rússia de se preparar para usar a Transnístria como um local de ocupação temporária para as tropas.
O governo russo também disse que está retirando seu exército de Kiev, para se concentrar nas repúblicas de Donetsk e Luhansk, regiões separatistas pró-Rússia.
“Todas as tarefas da operação militar especial que estamos conduzindo em Donbas e na Ucrânia , lançada em 24 de fevereiro, serão cumpridas incondicionalmente”, disse o presidente russo, Vladimir Putin, durante discurso ao Parlamento nesta quarta-feira.
De acordo com o governador de Donbas, Pavlo Kyrylenko, as forças russas “continuam a disparar deliberadamente contra civis e a destruir infraestruturas críticas”.
A declaração segue uma série de acusações sobre possíveis crimes de guerra. Nesta semana, autoridades ucranianas denunciaram a existência de um suposto campo de concentração em Kharkiv, nordeste do país, de acordo com o veículo de comunicação ucraniano, Kyev Independent.
A cidade é dominada por forças russas, que estariam torturando moradores e os obrigando a cooperar com as tropas em um campo de concentração montado em uma fábrica.
Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, há evidências crescentes de crimes de guerra cometidos por tropas russas.
“As forças armadas russas bombardearam e atiraram indiscriminadamente contra áreas povoadas, matando civis e destruindo hospitais, escolas e outras infraestruturas não militares, ações que podem equivaler a crimes de guerra”, afirmou em comunicado o escritório comandado por Michelle Bachelet.
Monitores de direitos humanos das Nações Unidas na Ucrânia também identificaram uso de armas com efeitos indiscriminados pelas próprias forças armadas ucranianas, causando morte de civis no leste do país.
A Rússia, que descreve sua incursão como uma “operação militar especial” para desarmar e supostamente “desnazificar” a Ucrânia, nega ter como alvo civis ou cometer quaisquer crimes de guerra.
O escritório de direitos humanos das Nações Unidas disse que, desde o início da guerra, em 24 de fevereiro, até o dia 20 de abril, houve 5.264 vítimas civis – 2.345 foram mortos e 2.919 ficaram feridos. Entre as vítimas, 92,3% foram registradas em território controlado pelo governo e 7,7% nas regiões de Donetsk e Luhansk, controladas pelas forças armadas russas e grupos afiliados.