Ministro israelense sinaliza anexação de partes de Gaza
Zeev Elkin sugeriu empreender a ação como 'ferramenta de pressão' contra o Hamas

O ministro do gabinete de segurança israelense Zeev Elkin sugeriu que Israel pode anexar partes de Gaza para aumentar a pressão contra o grupo terrorista Hamas. A declaração foi dada nesta quarta-feira, 30, um dia após o Reino Unido ameaçar reconhecer um estado palestino caso um cessar-fogo não seja alcançado.
“O mais doloroso para o nosso inimigo é perder terras”, disse o ministro, afirmando que o país poderia “esclarecer ao Hamas que, no momento em que fizerem joguinhos, perderão terras que nunca mais recuperarão”.
Ele definiu a ação como uma “ferramenta de pressão significativa” e acusou o grupo de prolongar as negociações de cessar-fogo para obter concessões israelenses.
O gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, é composto por figuras de extrema-direita que defendem abertamente a anexação de todo o território palestino. Na terça-feira, 29, o ministro das finanças do país, Bezalel Smotrich, disse que o reestabelecimento dos assentamentos judaicos em Gaza estava próximo de ocorrer, e a região é uma “parte inseparável da Terra de Israel”.
As conversas entre Hamas e Israel para uma trégua de 60 dias foram interrompidas na semana passada. Ambas as partes trocaram acusações de culpa pelo encerramento das tratativas, que também incluíam a libertação dos reféns mantidos em cárcere pelo grupo terrorista.
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Pressão internacional
A comunidade internacional pressiona cada vez mais o governo israelense para solucionar os altos índices de fome registrados na Faixa de Gaza em decorrência da guerra Israel-Hamas. Recentemente, a França disse que irá reconhecer um estado palestino em setembro. O Reino Unido afirmou que seguirá o exemplo francês caso uma trégua não seja estabelecida até esse mês.
Paris também emitiu uma declaração conjunta com a Arábia Saudita na terça-feira, 29, definindo uma série de medidas para a implementação da solução de dois estados. Apoiada pela Liga Árabe, a peça determina que, como parte do fim do conflito, o Hamas deveria entregar o controle de Gaza e suas armas à Autoridade Palestina.
Tanto Israel quanto Hamas reagiram à declaração. O governo de Benjamin Netanyahu descartou a possibilidade de deixar a Autoridade Palestina governar a Faixa de Gaza, e o Hamas rejeitou qualquer pedido de desarmamento.
Em declaração feita neste mês, Netanyahu disse que qualquer estado palestino é uma potencial plataforma para a destruição de Israel, afirmando que o controle da segurança na região deveria permanecer em mãos israelenses devido a isso.
Apesar de ser visto como simbólico, o reconhecimento é uma esperança para muitos moradores de Gaza. Em declaração à agência de notícias Reuters, o palestino Saed al–Akhras afirmou esperar que a medida inicie uma “mudança real na forma como os países ocidentais veem a causa palestina”
“Os palestinos vivem há mais de 70 anos sob matança, destruição e ocupação”, disse al-Akhras.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), a fome entre os palestinos alcançou a fase 5, a mais grave em seu ranking. Nesta quarta, o Ministério da Saúde de Gaza informou que mais sete pessoas morreram em decorrência da falta de alimentos, incluindo uma menina de dois anos.
Suposta recompensa
Israel afirma que o reconhecimento de um estado palestino é uma recompensa ao Hamas pelo ataque empreendido em outubro de 2023. Na terça, Netanyahu declarou abertamente que uma possível decisão ‘recompensa o terrorismo monstruoso do Hamas’.
A possibilidade também é rejeitada pelas famílias de reféns mantidos em cativeiro pelo grupo, que pedem a devolução de seus entes queridos antes de qualquer medida. “Tal reconhecimento não é um passo em direção à paz, mas sim uma clara violação do direito internacional e uma perigosa falha moral e política que legitima crimes de guerra”, declarou o Hostages Family Forum, organização que representa as famílias.