Ministro israelense fala em ‘conquistar’ Gaza e reduzir população local pela metade
Bezalel Smotrich, das Finanças, também afirmou que retorno de Trump à Casa Branca abre 'possibilidade' para Israel impulsionar 'imigração' dos palestinos
O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, afirmou nesta terça-feira, 26, que metade da população palestina pode ser “encorajada” a deixar a Faixa de Gaza nos próximos dois anos. Na conferência “O Campo Nacional se Prepara para o Governo Trump”, organizada o Conselho Yesha, grupo que representa os municípios ocupados por Israel na Cisjordânia, Smotrich também defendeu a ocupação de Gaza.
“É possível e necessário conquistar Gaza, não devemos ter medo dessa palavra”, disse ele. “É possível e necessário assumir a responsabilidade civil lá. Esta é uma condição absolutamente necessária.”
O ministro alegou que a presença das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) no enclave é necessária para “combater o terrorismo, manter a segurança e evitar que Gaza seja uma ameaça ao Estado de Israel. Ele justificou o controle da população sob argumentos de que “o Hamas é, antes de tudo, um movimento civil que, além disso, construiu sua ala militar”.
Em contrapartida, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou em maio que a ocupação de Gaza “nunca esteve nos planos”, apesar dos clamores dos ultrarreligiosos de extrema direita que compõe sua coalizão de governo. Nesta terça, Smotrich rejeitou preocupações de que uma eventual ocupação seja um ônus para a economia e destilou críticas àqueles que usam o argumento dos custos para “tentar assustar” israelenses. O ministro destacou até que a decisão valeria a pena “mesmo que custe um pouco de dinheiro”.
“Eles me disseram: ‘Olha, pode custar 5 bilhões de shekels (R$ 8 bilhões).’ Olha, se o custo do controle de segurança for de 5 bilhões de shekels, eu comprarei agora mesmo… Se é isso que é preciso para garantir a segurança de Israel, então que assim seja”, declarou ao público.
+ Trump escolhe defensor de assentamentos como próximo embaixador dos EUA em Israel
Trump na Casa Branca
Smotrich abordou, ainda, a reeleição de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, dizendo que esse contexto abre a “possibilidade” de Israel impulsionar a “imigração voluntária” dos palestinos. No início deste mês, o republicano nomeou o ex-governador do Arkansas Mike Huckabee, assíduo defensor de assentamentos israelenses na Cisjordânia (considerados ilegais por grande parte da comunidade internacional), será o próximo embaixador em Israel.
“É um mundo diferente – todas as discussões no dia seguinte parecem diferentes, sob o controle total de Israel”, afirmou, referindo-se ao retorno de Trump à Casa Branca. “Esta é uma grande chave para a Judeia e Samaria (como os ultraortodoxos chamam a Cisjordânia) – haverá emigração voluntária de Gaza, está claro para todos que há um modelo”, completou.
Israel capturou parte da Cisjordânia em 1967, juntamente com a Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental, local que os palestinos buscam como o coração de um futuro Estado independente. Nas décadas seguintes, construiu dezenas de assentamentos judaicos que agora abrigam cerca de 500 mil israelenses, entre civis e militares, vivendo próximos de 2,5 milhões de palestinos.
De acordo com as convenções de Genebra sobre comportamento humanitário na guerra, é ilegal expropriar terras ocupadas para fins que não beneficiem os moradores ou realocar a população local à força. Na Cisjordânia, 18% das áreas ocupadas por Israel foram declaradas “zonas de tiro” para treinamento militar desde a década de 1970.