Milei não menciona Lula em discurso na CPAC, mas cutuca filhos do petista
O presidente da Argentina discursou em fórum conservador com presença do aliado Jair Bolsonaro, em Santa Catarina
O presidente da Argentina, Javier Milei, compareceu neste domingo, 7, à Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês), fórum da extrema direita cuja edição brasileira foi fundada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL). No seu discurso, ele não mencionou seu homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem não marcou agenda oficial na primeira visita oficial ao Brasil, no município catarinense de Balneário Camboriú, e mantém há semanas uma troca de ofensas.
“Os socialistas e a casta política tremem”, disse ele ao subir ao palco do Expocentro Balneário Camboriú, dançando ao som de música rock.
Segundo os organizadores do evento, o auditório com capacidade para 3 mil pessoas estava lotado. E a plateia recebeu o argentino como uma estrela, gritando, assoviando e aplaudindo o ultraliberal.
Descrevendo o que chamou de “receita econômica, social e cultural” do socialismo, que ele disse estar fadada ao fracasso, Milei destilou críticas aos governos de esquerda na América Latina. Citou a Bolívia, acusando o presidente, Luis Arce, de ter orquestrado um “falso golpe” para aumentar “alguns pontos” na sua aprovação. Citou o Chile, lamentando que o modelo econômico liberal esteja “ameaçado” pelo presidente Gabriel Boric, de esquerda. Citou também o Brasil, mas tomou cuidado para não mencionar o nome de Lula.
Uma fonte brasileira com conhecimento do estado das relações entre os líderes afirmou a VEJA que seria “gravíssimo” se Milei ofendesse Lula em solo brasileiro, e que haveria “consequências” para o ato.
O chefe da Casa Rosada afirmou que a cara do “socialismo do século XXI” são políticos que enriquecem, e veem seus filhos enriquecendo, de forma contraditória com a narrativa contra o capitalismo. “Basta olhar o que acontece no próprio Brasil”, cutucou, em aparente referência aos filhos de Lula, donos de empresas que foram alvo, inclusive, da Lava Jato.
Milei também denunciou o que chamou de “perseguição” ao ex-presidente e aliado ideológico Jair Bolsonaro (PL), com quem manteve reuniões neste domingo. Segundo ele, governos de esquerda instrumentalizam e politizam o Judiciário para servir aos seus próprios interesses.
Ausência no Mercosul
Para participar da CPAC, Milei vai faltar a uma cúpula do Mercosul, bloco que inclui Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia, que ocorrerá em Assunção na segunda-feira, 8. Além disso, ele não marcou agenda oficial com seu homólogo, Luiz Inácio Lula da Silva, na primeira passagem pelo Brasil.
Milei e Lula nunca se encontraram diretamente. Atualmente, além disso, aumentaram a escala de uma contínua briga entre os líderes vizinhos.
Em postagem no X intitulada “Dinossauro perfeitamente idiota”, Milei defendeu nesta terça-feira 3 suas críticas anteriores a Lula, a quem voltou a chamar de “corrupto” e “comunista”. Ele também acusou o petista de “interferência” na corrida presidencial argentina de 2023. O argentino, porém, não especificou o nome a quem se refere como dinossauro.
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Durantes as eleições presidenciais argentinas, a família Bolsonaro apoiou a candidatura de Milei, com quem também manteve reuniões presenciais e virtuais no período. Além disso, o mandatário argentino também convidou Jair Bolsonaro para sua cerimônia de posse. Enquanto isso, Lula apoiou o ex-ministro da Economia, o peronista Sergio Massa, no pleito e não compareceu à posse de Milei.
Relações difíceis
Depois de uma melhora de relacionamento entre Brasil e Argentina, o encontro de Milei com Bolsonaro e a ausência do mandatário na cúpula do Mercosul podem representar uma piora das relações bilaterais entre os dois países.
Na semana passada, Lula disse acreditar que Milei deve a ele e aos brasileiros um pedido de desculpas por ter dito “um monte de coisas estúpidas” sobre o Brasil, principal parceiro comercial da Argentina. Em uma declaração em entrevista ao UOL sobre a repatriação de 180 brasileiros foragidos por envolvimento nos atos golpistas do dia 8 de janeiro de 2023, Lula afirmou que tenta lidar com a situação da “forma mais diplomática possível”, mas que ainda não tinha conversado com Milei.
Em resposta, o argentino se recusou a pedir perdão ao homólogo brasileiro e o descreveu como um “canhoto” com “ego inflado”. O imbróglio ocorreu após a Polícia Federal pedir a extradição de foragidos do ataque de 8 de Janeiro que pediram asilo político à Argentina.