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Medo de desabastecimento de alimentos assusta Líbano após explosão

Detonação destruiu o principal silo de grãos no porto de Beirute, que recebia cerca de 60% das importações, além de outras estruturas importantes

Por Da Redação
Atualizado em 6 ago 2020, 13h16 - Publicado em 6 ago 2020, 12h58

O medo de desabastecimento de produtos e alimentos paira sobre a população do Líbano após a explosão no porto da capital Beirute que deixou mais de 130 mortos na terça-feira 4. A detonação destruiu o principal silo de armazenamento de grãos. O porto da capital libanesa era responsável por receber 60% das importações do país, e o preço de sua reconstrução é estimado em até 5 bilhões de dólares.

No porto também fica o maior elevador de grãos da cidade, além de importantes estruturas. Trata-se de uma torre contendo um elevador de caçamba, que recolhe os grãos e os despeja em um silo ou outra forma de depósito. A instalação foi seriamente danificada.

Os silos também têm grande importância para o país, já que armazenam cerca de 85% dos cereais do país, segundo a emissora britânica BBC. Eles têm capacidade total para estocagem de 120.000 toneladas de grãos.

O trigo é responsável por mais de 80% das importações agrícolas do Líbano, seguido por milho e cevada. A maior parte do trigo entra no país pelo porto que foi atingido. Sendo assim, cresceram os temores de insegurança alimentar generalizada.

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‘Não há crise’

Apesar da devastação no porto, causada pelas 2.750 toneladas de nitrato de amônio armazenadas de forma irregular, o governo libanês disse que o porto de Tripoli receberá os navios e que não há o risco de desabastecimento.

O ministro da Economia, Raoul Nehme, disse que não há o risco de desabastecimento. “Não há crise de pão ou farinha”, disse. “Nós temos estoques suficientes e barcos a caminho para cobrir as necessidades do Líbano no longo prazo”.

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Nehme afirmou que as reservas de grãos nos silos restantes do Líbano são suficientes para “pouco menos de um mês”, mas disse que o silo destruído continha apenas 15.000 toneladas de grãos. O silo tem capacidade para 120.000 toneladas.

Acredita-se que os silos não continham grandes quantidades de grãos no momento da explosão, já que o país tentava suprir a falta de pão que surgiu recentemente devido à atual crise financeira.

Ahmed Tamer, diretor do porto de Trípoli, a segunda maior instalação do Líbano, disse que seu porto não possui armazenamento para grãos, mas as cargas podem ser levadas para armazéns a 2 km de distância. No momento, o país tenta transferir quatro navios que transportam 25.000 toneladas de farinha, disse um representante do governo a emissora LBCI.

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“Tememos que haja um enorme problema na cadeia de suprimento, a menos que haja um consenso internacional para nos salvar”, afirmou Hani Bohsali, chefe de um sindicato de importadores.

Inflação e pobreza

Mesmo com a promessa de que os alimentos não sofrerão escassez, a perda do porto e a devastação da cidade tendem a elevar a inflação e a pobreza no país. Segundo dados do governo, a inflação nos preços de alimentos fechou, em junho, num total de 247%.

Agências humanitárias da Organização das Nações Unidas (ONU) se reuniram na quarta-feira 5 para coordenar esforços de socorro a Beirute, disse Tamara al-Rifai, porta-voz da agência palestina de refugiados UNRWA.

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“As pessoas são extremamente pobres, é cada vez mais difícil para qualquer um comprar comida e o fato de Beirute ser o maior porto do Líbano torna a situação muito ruim”, disse ela. “Estamos olhando para Trípoli, mas é um porto muito menor”.

As reservas de farinha eram suficientes para cobrir as necessidades do mercado por um mês e meio e havia quatro navios transportando 28.000 toneladas de trigo em direção ao Líbano, disse Ahmed Hattit, chefe do sindicato dos importadores de trigo, ao jornal Al-Akhbar.

Impacto político

Formado em janeiro de 2020, o governo do primeiro-ministro Hassan Diab, apresentado como um gabinete de tecnocratas, é acusado por seus críticos de estar sujeito ao Partido Corrente Patriótica Livre, cujo presidente é Michel Aoun, e a seu aliado, o Hezbollah.

O governo, que demora a implementar as reformas econômicas recomendadas pela comunidade internacional e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para tirar o país da crise, é questionado pela população. O ministro das Relações Exteriores, Nassif Hitti, renunciou ao cargo e acusou o governo de “falta de vontade real” para iniciar as reformas.

O desgaste do governo recém formado não fica somente nas esferas do poder. “A pandemia deu uma folga à classe política”, estima o cientista político Karim Emile Bitar.

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Diab chegou ao poder após a renúncia de seu antecessor, Saad Hariri, durante os protestos populares que eclodiram em 17 de outubro de 2019. O movimento perdeu força, devido à pandemia de Covid-19 e ao cansaço da população, pressionada pela degradação brutal de suas condições de vida.

(Com Reuters e AFP)

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