Matar cães para consumo tornou-se ilegal na Coreia do Sul
Tribunal sul-coreano deu primeiro passo para proibir o abate de cachorros ao condenar uma granja por matar animais sem motivo
Matar cachorros para o consumo de sua carne passou a ser ilegal na Coreia do Sul, decidiu um tribunal. A medida, que contraria um costume gastronômico, foi recebida por defensores dos animais como um primeiro passo para a proibição do consumo de carne canina.
A carne de cachorros é uma iguaria na tradição culinária da Coreia do Sul, onde se estima o consumo de quase 1 milhão de cães por ano. Cortes de carne de cachorro são oferecidos nas gôndolas dos supermercados, e pratos são servidos em restaurantes do país.
A Care, uma associação sul-coreana de defesa dos animais, denunciou uma unidade da cidade de Bucheon por violar a regulamentação sanitária e por matar os animais sem motivo. O tribunal declarou a culpa da granja e o pagamento de multa de 3 milhões de wons (2.650 dólares) em abril.
Kim Kyung-eun, advogado da Care, celebrou a decisão, que foi divulgada somente nesta semana.
“É muito importante porque esta é a primeira decisão da Justiça que estipula que matar cães por sua carne é ilegal por si só”. “A decisão abre o caminho para que o consumo de carne canina seja declarado completamente ilegal”, completou.
A diretora da Care, Park So-youn, disse que pretende fazer um censo para apresentar ações similares no país. Um deputado apresentou nesta semana um projeto de lei na Assembleia Nacional para proibir o consumo da carne de cachorro no país.
A tradição, no entanto, está em queda. Um número cada vez maior de sul-coreanos considera o cachorro um animal de estimação e não mais uma fonte de proteína destinada à mesa. Para os mais jovens, conectados com elementos da cultura ocidental, comer carne de cachorro é um tabu.
Uma pesquisa de 2017 mostrou que 70% dos sul-coreanos não comem carne de cachorro e que apenas 40% são favoráveis à proibição do consumo.
Os números refletem as divisões em outras sociedades asiáticas. Na China, começa nesta quinta-feira o festival anual de carne canina de Yulin, alvo de críticas ocidentais. Taiwan proibiu no ano passado o consumo de carne de cães.
Mas o tema ocupa uma zona cinzenta no âmbito jurídico sul-coreano, que não registra nenhuma proibição específica.
Antes dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang, em fevereiro, as autoridades alegaram regras sanitárias e leis de proteção aos animais para proibir métodos cruéis de sacrifício dos animais em granjas e restaurantes.
Alguns sul-coreanos, no entanto, criticam a iniciativa e citam o peso cultural. A carne canina é considerada energética pelos defensores do consumo. A decisão de Bucheon irritou os criadores.
“É um escândalo. Não podemos aceitar uma decisão que afirma que matar cães por sua carne é igual a matar animais por capricho”, declarou Cho Hwan-ro, representante de uma associação de criadores que deseja a legalização do consumo e a autorização de matadouros específicos.
(Com AFP)