Maior rival de Erdogan, prefeito de Istambul é preso e oposição turca denuncia ‘golpe’
Ação contra Ekrem Imamoglu vem na esteira de meses de repressões contra figuras oposicionistas em toda Turquia

O principal rival político do presidente da Turquia, Tayyip Recep Erdogan, foi preso nesta quarta-feira, 19, sob acusações que incluem corrupção e auxílio a um grupo terrorista. A oposição chamou a detenção de Ekrem Imamoglu, o popular prefeito de Istambul, de “um golpe contra nosso próximo presidente”.
A ação contra Imamoglu vem na esteira de meses de repressões por via judicial contra figuras da oposição em todo o país, que foi denunciada como uma tentativa de tirar seus nomes das próximas eleições. Como parte disso, Umit Ozdag, líder do nacionalista Partido da Vitória, está detido desde janeiro.
Em reação ao ocorrido, a lira turca caiu 12%, para uma baixa histórica de 42 liras por dólar, ressaltando preocupações internacionais sobre a erosão do estado de direito no mercado emergente e membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que Erdogan governa há 22 anos.
O governo negou as acusações da oposição e sustentou que o judiciário é independente.
Quem é o prefeito de Istambul?
Imamoglu, 54 anos, à frente de Erdogan em algumas pesquisas de opinião, é alvo de duas investigações separadas que também incluem acusações de liderar uma organização criminosa, suborno e fraude em licitações. Sua detenção ocorreu um dia após a Universidade de Istambul anular seu diploma, o que o impediria de concorrer em eleições.
Em um vídeo postado nas redes sociais, o prefeito há dois mandatos no poder disse que continuaria firme diante da pressão. A principal legenda da oposição, o Partido Republicano do Povo (CHP), estava pronto para nomeá-lo, em questão de dias, como candidato presidencial para desafiar Erdogan nas próximas eleições.
Embora o pleito seja apenas em 2028, o atual presidente atingiu seu limite de dois mandatos, depois de ter ocupado anteriormente o cargo de primeiro-ministro. Se ele quiser concorrer novamente, precisa convocar uma eleição antecipada antes do fim do mandato, ou mudar a Constituição.
Erdogan foi reeleito no ano passado, mas mesmo assim enfrentou reveses. O CHP de Imamoglu varreu as principais cidades da Turquia e derrotou sua sigla, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AK), em antigos redutos nas eleições municipais nacionais.
“Tentativa de golpe”
O líder do CHP, Ozgur Ozel, chamou a detenção de Imamoglu de uma “tentativa de golpe” e pediu que os grupos de oposição se unissem. O partido indicou que seguirá com os planos de indicar o prefeito de Istambul como candidato presidencial no domingo, 23.
“A Turquia está passando por um golpe contra o próximo presidente. Estamos enfrentando uma tentativa de golpe aqui”, declarou.
A ONG Human Rights Watch qualificou as acusações contra o prefeito como “falsas e politicamente motivadas”, dizendo que ele deve ser libertado imediatamente.
Investigação
De acordo com uma declaração do gabinete do promotor de Istambul, um total de 100 pessoas, incluindo jornalistas e empresários, são suspeitas de envolvimento em atividades criminosas relacionadas a certas licitações concedidas pelo município. O prefeito da capital estaria envolvido.
Imamoglu e outros seis políticos também são acusados de ajudar o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que é considerado uma organização terrorista pela Turquia e seus aliados ocidentais.
No mês passado, o PKK declarou um cessar-fogo em resposta ao apelo de seu líder preso, Abdullah Ocalan, marcando um grande passo para encerrar um conflito interno que deixou mais de 40 mil mortos.
O gabinete do governador de Istambul proibiu todas as reuniões e protestos na cidade por quatro dias. A Turquia também restringiu o acesso às redes sociais, incluindo o X (ex-Twitter), YouTube, Instagram e TikTok, segundo um observatório da internet.