Maduro intensifica repressão, mas diz que Caracas está tranquila
A oposição convocou uma nova manifestação popular para o sábado, 8
O pior cego é aquele que não quer ver. Manifestantes contrários ao presidente Nicolás Maduro se enfrentavam novamente nesta quinta-feira com agentes da Guarda Nacional na Venezuela. Em capital, Caracas, os confrontos começaram quando uma manifestação, que juntou milhares de pessoas, tentou chegar até a Defensoria Pública para pedir seu respaldo ao processo de destituição de sete magistrados do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), que na semana passada retirou a imunidade dos deputados, anulou os poderes da Assembleia e assumiu brevemente as atribuições legislativas do país.
Enquanto isso, em um encontro com líderes religiosos, no estado de Miranda, Maduro afirmou que a capital seguia “na mais absoluta paz e tranquilidade”.
Para impedir o avanço da multidão, a polícia montou barricadas e lançou bombas de gás lacrimogêneo e jatos de águas. Os manifestantes, muitos deles com os rostos cobertos, responderam com pedras.
Os opositores se concentraram em uma estrada na altura do bairro de Altamira, segundo o plano original, mas dirigentes como o ex-candidato à presidência Henrique Capriles pediram que alterassem a rota, rumo à Defensoria, localizada em uma área histórica no centro da cidade. O governo costuma impedir fortemente qualquer mobilização nessa região, que o chavismo considera seu reduto e onde se concentram as sedes dos poderes públicos.
Nas redes sociais, opositores registraram a violenta repressão de Maduro e denunciaram uso de bombas de gás lacrimogênio, feitas no Brasil, com data de validade vencida. A prática não é novidade e foi divulgada por manifestantes em protestos anteriores.
Apesar do agravamento da repressão às manifestações, a oposição convocou nova mobilização para o próximo sábado, dia 08.
Destituição improvável
Na quarta-feira, a Assembleia Nacional da Venezuela, de maioria opositora ao governo de Maduro, aprovou o início do procedimento para a remoção de sete juízes do Tribunal Superior de Justiça (TSJ) por “responsabilidade na ruptura da ordem constitucional” do país ao assumir as funções parlamentares em suas sentenças.
Em um clima político cada vez mais tenso, o debate no Congresso teve a participação da bancada chavista, minoritária. Os opositores conseguiram a aprovação do acordo, baseado na acusação de que os juízes planejaram um “golpe de Estado” contra o Legislativo.
O processo, no entanto, tem poucas chances de ter sucesso.
O deputado opositor Juan Miguel Matheus, que apresentou a proposta, esclareceu que a aprovação do acordo é apenas o início do processo e que não ocorreria a remoção imediata dos juízes. O próximo passo, de acordo com a Constituição, é conseguir a ratificação do Poder Cidadão, uma instância que negou a ruptura da ordem constitucional por parte do TSJ. Caberá ao Poder Cidadão e à Procuradoria Geral tramitar a solicitação sobre a qualificação de faltas graves dos magistrados.
(Com AFP e EFE)