Maduro chega a reunião com líder da Guiana mediada pelo Brasil
Líder venezuelano desembarcou em São Vicente e Granadinas para discutir questão de Essequibo, território do país vizinho que ele quer anexar
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, desembarcou nesta quinta-feira, 14, no país caribenho São Vicente e Granadinas, para uma reunião com o presidente da Guiana, Irfaan Ali. O encontro, mediado pelo Brasil, será o primeiro cara a cara entre os líderes desde que Caracas anunciou a anexação do território guianense de Essequibo, mediante um referendo contestado pela comunidade internacional.
“Chegamos a São Vicente e Granadinas com a bandeira da paz e o mandato do povo venezuelano em alto”, declarou o líder venezuelano no X, antigo Twitter. Ele foi recebido no aeroporto da capital Kingstown pelo primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves, também atual presidente de turno da Comunidade de Estados Latino-Americanos (Celac).
#EnVivo 📹 | Llegamos a San Vicente y Las Granadinas, con la bandera de la Paz y el mandato del pueblo venezolano en alto. https://t.co/h4FEgxaX9o
— Nicolás Maduro (@NicolasMaduro) December 14, 2023
Reunião
A região, que equivale a dois terços da Guiana, é reivindicada há anos pela Venezuela. No início de dezembro, o governo Maduro aprovou em referendo a incorporação da área ao território de seu país, e desde então, a disputa foi acirrada.
Sob a iminência de um conflito armado na fronteira com o Brasil, os dois líderes realizarão nesta quinta o primeiro diálogo direto a respeito de Essequibo, marcado para as 12h (horário de Brasília). O Brasil deve mediar a reunião, e o governo enviou o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, ao encontro.
Em declarações nos últimos dias, contudo, Venezuela e Guiana se mostraram intransigentes em relação às suas demandas. Irfaan Ali disse que não vai querer tratar de Essequibo no encontro, enquanto Maduro prometeu defender o “direito legítimo” de seu país sobre o território. Mesmo assim, o encontro tem sido visto como um primeiro passo para aplacar os ânimos de uma crise inflamada.
A disputa
A região conturbada, de 160 mil km², compõe 74% do território da Guiana, país que administra a área desde 1996, ano em que declarou independência do Reino Unido. A Venezuela contrapõe que o local foi retirado de seu domínio pela arbitrária sentença de Paris, de 1899.
A disputa voltou a esquentar em 2015, quando foi descoberto petróleo na região de Essequibo. Estima-se que, por lá, existam reservas de 11 bilhões de barris. A maior parte estaria “offshore”, ou seja, no mar. Por causa das reservas fósseis, a Guiana tornou-se o país sul-americano que mais cresce nos últimos anos.
Na última sexta-feira 8, Maduro assinou um conjunto de decretos para transformar a região de Essequibo no estado venezuelano de “Guiana Essequiba”. Uma semana antes, o líder de Caracas já havia bradado a “vitória esmagadora” do plano de tomada do território após a divulgação do resultado do controverso plebiscito realizado entre os eleitores do país – mais de 95% daqueles que foram às urnas votaram a favor da criação do novo estado.
Os decretos buscam, então, colocar um ponto final da história, com data marcada: 2030. Segundo Maduro, a escolha do calendário tem como objetivo “cumprir o mandato do povo que votou pelo sim”, referindo-se ao referendo de domingo. A consulta pública, no entanto, não possui valor vinculativo e, portanto, não oferece um sinal verde para que o esquerdista coloque as polêmicas intenções em prática.