Macron diz que Notre-Dame será reconstruída em 5 anos
Com incêndio, presidente da França cancela anúncio de pacote de redução de impostos para aplacar protestos dos 'coletes amarelos'
O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou nesta terça-feira, 16, que a Catedral de Notre-Dame será reconstruída em cinco anos. A igreja foi parcialmente destruída em um incêndio nesta segunda-feira 15 e, desde então, doações anunciadas por companhias francesas e por milionários para financiar sua reconstrução já ultrapassaram os 600 milhões de euros (2,6 bilhões de reais).
“Nós reconstruiremos Notre-Dame ainda mais bonita do que é hoje, e eu quero tudo pronto nos próximos cinco anos”, afirmou Macron. “O incêndio de Notre-Dame nos lembra que nossa história nunca acaba e que sempre teremos desafios a superar”, completou.
Macron lembrou que, ao longo de sua história, a França construiu cidades, portos e igrejas, muitos dos quais “queimados por revoluções, guerras e devido a erros humanos”. Um dos exemplos é a Catedral de Rouen, construída entre os séculos XI e XVI. A igreja foi abatida por incêndios em 1822 e 1940. Em 1944, foi bombardeada pelas tropas aliadas. Sua reconstrução foi finalizada apenas em 1956.
“Todas as vezes, nós os reconstruímos”, disse Macron.
Devastação
A catedral de Notre-Dame, joia arquitetônica medieval e um dos pontos turísticos mais conhecidos de Paris, foi gravemente desfigurada pelo fogo.
Mais de 400 bombeiros impediram o colapso total da igreja, que começou a ser construída no século XII e sobreviveu a guerras, a revoluções, à ação do tempo e ao ingresso de 13 milhões de turistas por ano. Uma investigação preliminar indica que o fogo começou de maneira acidental.
Diante das chamas, os parisienses se reuniram nas margens do Rio Sena e sobre pontes para assistir, incrédulos, às chamas consumirem a catedral. Parte deles entoou a Ave Maria. Muitos choravam, enquanto o fogo se espalhava pelo prédio, que começou a ser construído em 1163 e foi concluído em 1345.
Fogo controlado
O secretário de Estado do Interior, Laurent Nuñez, afirmou à imprensa que o fogo foi controlado por volta das 7 horas (2 horas no horário de Brasília) desta terça-feira, 16. No entanto, ainda não se sabe “como sua estrutura resistirá.”.
“Foi descartado o perigo de fogo. A preocupação agora é saber como a estrutura foi afetada pelo incêndio gravíssimo dessa noite”, declarou Nuñez.
Por sua vez, o ministro da Cultura, Franck Riester, disse que dois terços do telhado se perderam. “A princípio, o incêndio não é criminoso. O fogo parece ter começado onde estavam os andaimes erguidos para restaurar a que, acabou totalmente destruída”.
Riester ainda confirmou que os vitrais da catedral sofreram danos, mas não foram destruídos. Ele não deu informações sobre o estado dos grandes quadros que enfeitavam o interior da igreja. Devido a seu tamanho, eles não puderam ser retirados.
Discurso cancelado
Macron tinha um pronunciamento em rede nacional marcado para o fim do dia de ontem, mas teve de desmarcá-lo depois que o incêndio começou. Segundo a imprensa francesa, o presidente pretendia anunciar uma série de medidas em favor da classe média, em particular uma redução de impostos.
O Palácio do Eliseu negou-se a comentar o conteúdo do discurso, que vazou em vários veículos da imprensa local. Um porta-voz do governo limitou-se a dizer que não há uma nova data para o pronunciamento de Macron.
A principal medida do pacote, segundo a Rádio France Info, seria o fim de uma série de isenções que beneficiam os contribuintes ricos. Com a arrecadação, o governo planeja cobrir uma nova redução do imposto de renda da classe média. O governo também se comprometeria a diminuir os gastos públicos para bancar a queda na arrecadação.
O pronunciamento faria parte de uma estratégia de Macron para responder à crise provocada pelos protestos dos coletes amarelos.
Outra das propostas incluídas no discurso cancelado é a indexação das aposentadorias menores de 2.000 euros mensais à taxa de inflação. A medida seria uma mensagem direta aos aposentados de baixa renda, que votaram em peso em Macron nas eleições presidenciais de 2017 e se sentem prejudicados pelo governo.
O orçamento de 2019 previa um aumento de 0,3% para a Previdência, muito abaixo da previsão da inflação, que deve ficar em 1,6%.
O pacote de Macron incluía medidas para agradar aos moradores das zonas rurais, que também passaram a integrar o movimento dos coletes amarelos. No discurso, o presidente se comprometeria a não fechar mais escolas e hospitais distantes das capitais até o fim do mandato.
(Com Estadão Conteúdo e EFE)