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Lula diz que papa Francisco compartilha sua visão da guerra na Ucrânia

Ambos concordam que é preciso haver 'vários atores' envolvidos no diálogo sobre a paz, diz Lula após visita à Itália

Por Da Redação
Atualizado em 22 jun 2023, 13h08 - Publicado em 22 jun 2023, 10h08

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira, 22, que, na conversa que teve com o papa Francisco, no dia anterior, os dois se alinharam sobre o melhor caminho a seguir para alcançar a paz na Ucrânia. Segundo o petista, ambos acreditam que é preciso envolver “vários atores” nas negociações – um aceno ao que ele chama de “clube de paz”.

O mandatário brasileiro disse que ele e Francisco concordaram que é preciso haver diversas partes envolvidas no diálogo sobre o fim da guerra da Ucrânia, para chegar a um denominador comum que leve a um acordo entre Kiev e Moscou. Como de praxe, defendeu também a necessidade de uma nova ordem mundial que represente as transformações geopolíticas das últimas décadas.

“Estou de acordo com o papa Francisco: é preciso ter gente envolvida em discutir a questão da paz. É preciso colocar os atores numa mesa de negociação, parar de atirar e tentar encontrar uma solução pacífica”, disse, durante entrevista coletiva concedida em Roma, antes de seguir viagem para a França.

“Já conversamos com Índia, Indonésia, China, na perspectiva de criar uma consciência e um grupo que possa construir a paz. Nesse aspecto, o papa é uma pessoa extremamente importante”, completou.

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Lula destacou o papel de seu assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim, que fez viagem tanto à Ucrânia quanto à Rússia, nesses esforços. Segundo o presidente, Amorim se encontrou em Roma com o cardeal Matteo Zuppi, espécie de diplomata papal que Francisco enviou a Kiev.

O pontífice agora planeja enviar Zuppi também a Moscou e espera que Lula, por manter comunicações abertas com o presidente russo, Vladimir Putin, possa auxiliar na missão. O Vaticano enxerga Lula – e outros líderes, como o cubano Miguel Díaz-Canel, que também manteve audiência com o papa nesta semana – como peça-chave para chegar até os expoentes do Kremlin.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, no entanto, já refutou a ideia de um “clube de paz” por diversas vezes, dizendo que só voltaria a negociar com a Rússia se todo o exército deixasse o território ucraniano (incluindo a Crimeia, anexada por Moscou em 2014). Ele também comentou ironicamente a um canal de TV italiano, após ter sido recebido no Vaticano, que dispensava a mediação do papa.

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“Com todo o respeito à Sua Santidade, não precisamos de mediadores, precisamos de uma paz justa”, disse.

Para Zelensky, o único plano de paz viável é o da Ucrânia, que, além de completa integridade territorial, descarta a possibilidade de um cessar-fogo, como sugerem Lula e Francisco.

A mídia italiana questionou Lula sobre detalhes de seu plano de paz, e ele disse ser contra uma rendição total dos russos.

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“Num acordo de paz, os envolvidos têm que ganhar alguma coisa, ou então não tem acordo. Se você tem uma proposta em que alguém tem que ceder 100%, não é acordo, é rendição”, afirmou.

Na coletiva, o petista também disse que Celso Amorim participará, neste fim de semana, de uma cúpula na Dinamarca com representantes de países em desenvolvimento que advogam a postura de neutralidade no conflito. Além do Brasil, estarão presentes autoridades da Índia e da África do Sul – autoridades da China e Turquia também podem participar. Os Estados Unidos enviarão Jake Sullivan, assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, para o encontro.

O jornal britânico Financial Times reportou nesta quinta-feira que Sullivan “viaja para encontrar Índia, Brasil e outros do Sul Global a pedido de Kiev”. Segundo o veículo, Washington tem incentivado “os outros membros do Brics, fora a Rússia” a comparecer ao encontro em Copenhague.

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“A ofensiva diplomática vem no momento em que [Zelensky] reconhece que a muito saudada contraofensiva está progredindo mais lentamente do que o esperado”, explica o Financial Times.

Vizinho problema

Na coletiva, Lula também disse que se comprometeu com o papa Francisco a conversar com Daniel Ortega, líder da Nicarágua, sobre a controversa prisão do bispo Rolando Álvarez, que em fevereiro foi condenado a mais de 26 anos de prisão por crimes considerados “traição contra a pátria”.

“Pretendo falar com o Ortega a respeito de liberar o bispo. Não tem por que ficar impedido de exercer a sua função na igreja, não existe essa possibilidade, então eu vou tentar ajudar”, afirmou o líder brasileiro.

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Ortega é autor de uma série de ações contra a Igreja Católica no país, caracterizando-a como “uma máfia”. Em maio, seu governo congelou as contas bancárias de pelo menos três das nove dioceses da Nicarágua, para impedir seu funcionamento, e antes já havia banido celebrações da Quaresma e Semana Santa. Francisco chegou a classificar o governo sandinista como “ditadura grosseira”, em entrevista ao portal de notícias Infobae.

“A igreja está com problemas na Nicarágua, porque tem padre e bispo presos, e a única coisa que a igreja quer é que a Nicarágua libere o bispo para vir à Itália”, afirmou Lula. “Essas coisas nem sempre são fáceis porque nem todo mundo é grande para pedir desculpa. A palavra desculpa é simples, mas exige muita grandeza”, completou.

Aceno pragmático

Após o encontro marcado de última hora com a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, Lula usou a coletiva de imprensa para compartilhar suas impressões sobre ela – uma vocal crítica do petista. A líder do partido Irmãos da Itália, com raízes no movimento neofascista do pós-II Guerra, está muito mais próxima de valores defendidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus seguidores.

“Sinceramente, fiquei bem impressionado com a Giorgia, a primeira mulher primeira-ministra da Itália, o que é uma novidade extraordinária no meio de tanto homem”, disse. “Senti que é uma mulher que tem a cabeça no lugar. Temos que torcer para que ela dê certo na Itália, e a Itália possa crescer nas mãos dela.”

Lula acrescentou que convidou Meloni e o presidente italiano, Sergui Mattarella, para uma visita ao Brasil, ressaltando que reuniões entre chefes de Estado (apesar de a política de extrema direita ser líder de governo) não devem se basear na ideologia.

“Quando um chefe de Estado se encontra com outro chefe de Estado, não está em jogo a questão ideológica. Importa é que ela defende os interesses do povo italiano, e eu, os do Brasil. Venho aqui para discutir o que é importante fazer para que os dois países possam sair ganhando”, disse o presidente brasileiro.

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