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Liga Árabe exorta Brasil a não mudar embaixada para Jerusalém

Organismo regional condenou a Austrália por reconhecer a cidade como capital de Israel e espera demover Jair Bolsonaro

Por Da Redação
Atualizado em 18 dez 2018, 18h38 - Publicado em 18 dez 2018, 17h23

A Liga Árabe decidiu nesta terça-feira, 18, enviar cartas urgentes aos governos do Brasil e da Austrália para pedir-lhes que não reconheçam Jerusalém como capital de Israel e que cumpram as leis e resoluções internacionais. Ambos os países sinalizaram com a mudança de suas embaixadas de Tel-Aviv para a cidade sagrada.

O organismo regional solicitou ao presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, que não aplique medidas que “solapem o status legal” de Jerusalém “para preservar os laços de amizade e as relações históricas dos países árabes e do Brasil”.

Bolsonaro anunciou que pretende transferir a embaixada do Brasil de Tel-Aviv para Jerusalém, seguindo o exemplo dos Estados Unidos, que inaugurou sua representação em maio, durante as festividades dos setenta anos de fundação do Estado de Israel.

A resolução da Liga Árabe foi aprovada durante uma reunião extraordinária dos delegados permanentes convocada para analisar a “escalada” do conflito entre Israel e Palestina.

A Liga é uma organização de Estados árabes fundada em 1945 com o objetivo de reforçar e coordenar os laços econômicos, sociais, políticos e culturais entre os seus integrantes. Atualmente possuí 22 Estados-membros, incluindo a Palestina.

A reunião extraordinária do Conselho da Liga, em nível de embaixadores, também decidiu “enviar uma delegação governamental de alto nível (…) para encontrar autoridades brasileiras e australianas”.

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Além disso, pediu aos embaixadores árabes no Brasil e na Austrália que mantenham seus contatos com ministérios de Relações Exteriores, parlamentos e partidos políticos dos respectivos países para informar sobre a postura árabe em relação a Jerusalém.

Ao mesmo tempo, a Liga Árabe condenou a decisão da Austrália de reconhecer Jerusalém Ocidental como capital de Israel, anunciada no sábado passado, e pediu uma retratação.

A Austrália só reconheceu como capital de Israel o lado oeste de Jerusalém, excluindo a parte oriental, ocupada na Guerra dos Seis Dias, de 1967, e anexada unilateralmente em 1980, em uma decisão não reconhecida pela comunidade internacional que levou a ONU a pedir a saída de todas as embaixadas da cidade.

Ao contrário dos Estados Unidos, o governo australiano anunciou que, por enquanto, não transferirá sua embaixada. Apenas buscará uma sede para o futuro.

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A Liga também pediu ao Conselho de Segurança da ONU que “assuma suas responsabilidades, colocando pressão sobre Israel, a força de ocupação (na Cisjordânia), para parar sua agressão contra o povo palestino imediatamente”.

A situação do Brasil

Na semana passada, a Liga Árabe já havia alertado Jair Bolsonaro para o fato de que a mudança da embaixada brasileira para Jerusalém poderia prejudicar as relações com os países árabes. A organização enviou uma carta ao presidente eleito, assinada pelo secretário-geral da liga, Ahmed Aboul-Gheit.

O Brasil é um dos maiores exportadores de carne Halal do mundo, e esse comércio pode enfrentar problemas se Bolsonaro irritar os países árabes com a transferência da embaixada. Isso poderia afetar fortemente as exportações para os principais mercados do Oriente Médio das empresas BRF e JBS.

Os alimentos Halal são aqueles permitidos pela religião islâmica. Entre as carnes, os muçulmanos só comem frango ou carne bovina se o animal tiver sido degolado com o corpo voltado à cidade sagrada de Meca, ainda vivo, e pelas mãos de um muçulmano praticante, geralmente árabe.

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Antes do abate de cada animal, o degolador pede autorização a Deus, em árabe, como forma de mostrar obediência e agradecimento pelo alimento. Peixes são considerados Halal por natureza, porque saem da água vivos. Já os suínos são considerados impuros pelo modo como se alimentam.

As relações comerciais entre os países árabes e o Brasil, contudo, não se limitam à venda de carnes Halal. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que, de janeiro a setembro deste ano, o Brasil exportou para o Oriente Médio — excluído Israel — um total de 9,6 bilhões de dólares em produtos. O Irã foi o sexto maior comprador de bens brasileiros, com 4,6 bilhões de dólares.

Já Israel importou 256 milhões de dólares do Brasil no mesmo período, o que coloca o país no posto de 64º maior mercado do Brasil.

Disputa por Jerusalém

O status de Jerusalém é central no conflito palestino-israelense. Israel a controla desde 1967, mas os palestinos reivindicam a parte oriental da cidade sagrada como capital de seu futuro Estado.

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A comunidade internacional, como forma de se manter neutra no conflito, encoraja as nações a manterem suas embaixadas em Israel na cidade de Tel-Aviv, principal centro comercial do país.

A decisão de Donald Trump de mudar a representação diplomática para Jerusalém provocou muitas críticas internacionais e trouxe ainda mais tensão para o conflito na região. Desde então, a Autoridade Palestina e outras lideranças da região têm se recusado a continuar as negociações com os israelenses.

Atualmente, em Jerusalém há duas embaixadas, a dos EUA e a da Guatemala.

Em entrevista a VEJA, o embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Zeben, afirmou que as intenções do governo brasileiro em mudar sua embaixada são lamentáveis.

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“Jerusalém é uma cidade ocupada. As Nações Unidas não reconhecem a soberania israelense sobre a cidade. E é uma tradição do Brasil, desde 1947, respeitar o direito internacional e não dar esse reconhecimento. Isso não é linha do PT, da direita ou da esquerda, mas uma tradição diplomática”, afirmou o embaixador.

“Teremos a maior boa vontade de explicar ao futuro governo brasileiro a posição palestina”, completou Zeben.

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