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Liga Árabe alerta Bolsonaro contra mudança de embaixada em Israel

Presidente eleito recebeu carta do secretário-geral, afirmando que transição para Jerusalém pode prejudicar relações comerciais

Por Da Redação
Atualizado em 11 dez 2018, 15h38 - Publicado em 11 dez 2018, 09h22

A Liga Árabe alertou o presidente eleito Jair Bolsonaro, em carta, para o risco de que a transferência da embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém prejudique as relações com os países árabes, disse um diplomata à agência Reuters.

A Liga Árabe é uma organização de Estados árabes fundada em 1945 com o objetivo de reforçar e coordenar os laços econômicos, sociais, políticos e culturais entre os seus membros. Atualmente possuí 22 Estados-membros, incluindo a Palestina.

A carta a Bolsonaro, assinada pelo secretário-geral da liga, Ahmed Aboul-Gheit, foi entregue ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil, segundo o diplomata árabe que pediu para não ser identificado.

Embaixadores de nações árabes se reunirão em Brasília nesta terça-feira, 11, para discutir o plano de Bolsonaro de transferir a embaixada de Tel-Aviv e reconhecer Jerusalém como a capital de Israel,em alinhamento com a posição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Tal movimento seria uma forte mudança na política externa brasileira, que tradicionalmente apoia uma solução de dois Estados para o conflito israelo-palestino.

“O mundo árabe tem muito respeito pelo Brasil e queremos não apenas manter as relações, mas também melhorá-las e diversificá-las. Mas a intenção de transferir a embaixada para Jerusalém pode prejudicá-las”, disse o diplomata.

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Comércio

O Brasil é um dos maiores exportadores de carne Halal do mundo e esse comércio pode enfrentar problemas se Bolsonaro irritar os países árabes com a transferência da embaixada. Isso poderia afetar fortemente as exportações para os principais mercados do Oriente Médio das empresas BRF e JBS.

O lobby dos exportadores de carne tem pressionado o presidente eleito a não fazer isso, e ele pareceu ter mudado de ideia por algum período.

Mas seu filho Eduardo Bolsonaro disse, durante uma recente visita a Washington, que a mudança da embaixada “não é uma questão de se, mas de quando”, indicando que a decisão já estava tomada.

A declaração do deputado federal reeleito foi feita antes da visita o genro de Trump, Jared Kushner, na Casa Branca. Kushner foi um dos principais articuladores da mudança da embaixada americana para Jerusalém.

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Os alimentos Halal são aqueles permitidos pela religião islâmica. Entre as carnes, os muçulmanos só comem frango ou carne bovina se o animal tiver sido degolado com o corpo voltado à cidade sagrada de Meca, ainda vivo, e pelas mãos de um muçulmano praticante, geralmente árabe. Antes do abate de cada bicho, o degolador pede autorização a Deus, em árabe, como forma de mostrar obediência e agradecimento pela comida. Peixes são considerados Halal por natureza, porque saem da água vivos. Já os suínos são considerados impuros pelo modo como se alimentam, por estarem ligados a ambientes de sujeira.

As relações comerciais entre os países árabes e o Brasil, contudo, não se limitam à venda de carnes Halal. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que, de janeiro a setembro deste ano, o Brasil exportou para o Oriente Médio — excluído Israel — um total de 9,6 bilhões de dólares em produtos. O Irã foi o sexto maior comprador de bens brasileiros, com 4,6 bilhões dólares.

Já Israel importou 256 milhões de dólares do Brasil no mesmo período, o que coloca o país no posto de 64º maior mercado do Brasil.

Disputa por Jerusalém

O status de Jerusalém é central no conflito palestino-israelense. Israel a controlam desde 1967, mas os palestinos reivindicam a parte oriental da cidade sagrada como capital de seu futuro Estado.

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A comunidade internacional, como forma de se manter neutra no conflito, encoraja as nações a manterem suas embaixadas em Israel na cidade de Tel-Aviv, principal centro comercial do país.

A decisão de Donald Trump em mudar a representação diplomática para Jerusalém provocou muitas críticas internacionais e trouxe ainda mais tensão para o conflito na região. Desde então, a Autoridade Palestina e outras lideranças da região têm se recusado a continuar as negociações com os israelenses.

Em entrevista a VEJA, o embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Zeben, afirmou que as intenções do governo brasileiro em mudar sua embaixada são lamentáveis.

“Jerusalém é uma cidade ocupada. As Nações Unidas não reconhecem a soberania israelense sobre a cidade. E é uma tradição do Brasil, desde 1947, respeitar o direito internacional e não dar esse reconhecimento. Isso não é linha do PT, da direita ou da esquerda, mas uma tradição diplomática”, afirmou o embaixador.

“Teremos a maior boa vontade de explicar ao futuro governo brasileiro a posição palestina”, completou Zeben.

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