Líderes podem ser ‘sensíveis e gentis’, diz Ardern em discurso final
Com uma fala emocionante, a ex-primeira-ministra da Nova Zelândia se despediu do parlamento nesta quarta-feira
A ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, deixou o parlamento nesta quarta-feira, 5, com um discurso emocional e motivador, pedindo uma abertura do ramo da política também para aqueles se veem como líderes natos. Segundo ela, os líderes também podem ser “sensíveis e gentis”.
“Você pode ser ansioso, sensível, gentil e seguir seu coração. Você pode ser mãe, ou não, uma ex-mórmon, ou não, uma nerd, uma chorona, uma pessoa que gosta de abraços. Você pode ser todas essas coisas, e não apenas estar aqui, mas você pode liderar”, disse Ardern ao parlamento. “Achei que precisaria mudar drasticamente para sobreviver. Estou aqui para te dizer, você pode ser essa pessoa e pode estar aqui.”
Em seu discurso final ao país, Ardern se abriu sobre suas lutas como primeira-ministra. Ela contou sobre suas preocupações, que causavam níveis de ansiedade tão altos que a impediam até de comer. A ex-primeira-ministra se refere ao cargo como “um papel que nunca pensei que deveria ter”.
Abrangendo o pessoal e o político, ela também falou sobre suas lutas com fertilização in vitro e infertilidade e o impacto do seu cargo em sua família, bem como os desafios da sua liderança: a pandemia de Covid-19, os tiroteios na mesquita de Christchurch e a erupção vulcânica em Whakaari. Ela descreveu sua entrada na política como “um cruzamento entre o senso de dever de dirigir um trem de carga em movimento e ser atropelado por um”.
+ A milionária campanha da Nova Zelândia para ajudar jovens com términos
“As razões pelas quais vim aqui… estão todas no meu primeiro discurso – mudança climática, pobreza infantil, desigualdade. Afinal, sou uma política baseada em convicções”, disse Ardern. “Apesar disso, eu me acostumei com meu tempo como primeira-ministra sendo dedicado em uma lista diferente: um ataque terrorista doméstico; uma erupção vulcânica; uma pandemia; uma série de eventos em que as pessoas passaram por seus momentos mais dolorosos ou traumáticos.”
A política deixa um legado complexo no país. A sua resposta a pandemia de Covid-19, desastres naturais e aos ataques terroristas de Christchurch conquistaram reconhecimento e aclamação internacional. Porém, um progresso lento na crise imobiliária, emergência climática e na desigualdade também trouxeram críticas para a então primeira-ministra.
O progresso do governo em relação à pobreza infantil desde que Ardern assumiu o cargo foi significativo, mas limitado. Além disso, o combate às mudanças climáticas está lento no país. A Nova Zelândia anunciou sua primeira queda trimestral nas emissões globais de gases de efeito estufa nesta semana, seguindo uma série de aumentos sucessivos.
+ Ciclone Gabrielle é pior tempestade da Nova Zelândia no século, diz premiê
Sobre a pandemia de Covid-19, Ardern comemorou a conquista de garantir uma das taxas de mortalidade mais baixas do mundo. Porém, ela também comentou que no período enfrentou forte oposição, chegando a receber ameaças de mortes.
Na terça-feira 4, Ardern disse que esperava que sua renúncia pudesse “baixar a temperatura” da política da Nova Zelândia. Em suas últimas aparições como líder do país, diversos manifestantes protestaram contra suas políticas.
Em seu discurso final, nenhum manifestante era visível nos gramados do parlamento. Ardern foi aplaudida de pé pelos colegas do parlamento, que se juntaram para cantar canções tradicionais maori.