Líder da oposição da Venezuela diz que genro foi sequestrado pelo regime de Maduro
Denúncia de Edmundo González acontece poucos dias antes da data da posse do atual presidente em novo mandato, marcada para a próxima sexta-feira

Edmundo González Urrutia, porta-voz da oposição da Venezuela que disputou as eleições presidenciais contra Nicolás Maduro em julho passado e, segundo projetos internacionais e independentes de checagem de votos, teria vencido a eleição, denunciou nesta terça-feira, 7, que seu genro teria sido sequestrado enquanto deixava os filhos na escola.
“Nesta manhã, meu genro, Rafael Tudares, foi sequestrado. Rafael estava indo para a escola dos meus netos para deixá-los para o início das aulas. Homens encapuzados e vestidos de preto o interceptaram, colocaram-no em uma caminhonete dourada, placa AA54E2C, e o levaram embora. Neste momento, ele está desaparecido”, disse em publicação nas redes sociais.
A denúncia de González acontece poucos dias antes da data da posse de Maduro, marcada para a próxima sexta-feira, 10. Desde setembro, o ex-diplomata de 75 anos está exilado na Espanha, mas reiterou diversas vezes que voltará a Caracas para ascender ao cargo na data da posse, declarando-se o vencedor das eleições.
O Conselho Nacional Eleitoral e o Tribunal Superior de Justiça, ambos cooptados por forças pró-Maduro, declararam o líder bolivariano reeleito para um terceiro mandato de seis anos na votação de julho. A oposição, porém, contestou o resultado oficial, que não foi respaldado por evidências. Já a Plataforma Unitária Democrática (PUD), coalizão de onze partidos que se uniram contra o atual regime no pleito com González como porta-voz, divulgou o que diz ser 80% das atas eleitorais, que mostram que seu candidato venceu com folga.
+ Reeleição de Maduro não foi legítima, diz Comissão Interamericana de Direitos Humanos
Nesta terça-feira, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão ligado à Organização dos Estados Americanos (OEA), divulgou um relatório em que conclui que a reeleição de Maduro não tem “legitimidade democrática”.
O governo tem resistido à intensa pressão interna e no exterior para divulgar os resultados desagregados, por seção eleitoral, da votação que comprovem sua suposta vitória. Uma onda de protestos tomou as ruas de toda a Venezuela após a eleição e sofreram intensa repressão: em meio a confrontos com a polícia, 28 pessoas morreram, 200 ficaram feridas e mais de 2.400 foram presas.
O documento da CIDH, intitulado “Venezuela: graves violações dos direitos humanos no contexto eleitoral”, alega que a eleição presidencial em julho foi marcada por uma estratégia repressiva do regime de Maduro que constitui terrorismo de Estado.
“A repressão estatal inclui práticas de terrorismo estatal destinadas especialmente a incutir terror nos cidadãos e a silenciar vozes dissidentes. Entre as violações documentadas estão: execuções extrajudiciais, desaparecimentos forçados de curta duração, detenções arbitrárias, tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos e degradantes, cancelamento de passaportes, mortes violentas e inúmeras violações das garantias judiciais e da liberdade de expressão”, listou a CIDH.