Kim Jong-un faz raro pedido de desculpas após morte de sul-coreano
Em carta divulgada por Seul, Pyongyang admite que soldados atiraram quase 10 vezes contra homem que entrou ilegalmente nas águas do país
O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, fez um raro pedido de desculpas nesta sexta-feira, 25, após o “inesperado e vergonhoso” assassinato de um sul-coreano no mar, anunciou o governo de Seul, em uma maneira de apaziguar a indignação do vizinho do Sul.
O pedido de desculpas de Pyongyang, em particular do próprio Kim, é algo extremamente incomum e foi divulgado em um momento de congelamento das relações entre as Coreias, assim como das negociações entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos pela questão nuclear.
O líder norte-coreano afirmou que “lamenta profundamente o imprevisto e vergonhoso assunto” e pediu desculpas “por ter decepcionado o presidente Moon Jae-in e os sul-coreanos”, informou o governo de Seul.
Suh Hoon, assessor de Segurança Nacional da Coreia do Sul, leu uma carta do departamento do partido governante norte-coreano responsável pelas relações com o vizinho do Sul. Na carta, Pyongyang admite que soldados atiraram quase 10 vezes contra um homem que entrou ilegalmente nas águas do país e se negou a declarar corretamente sua identidade. Os guardas da fronteira abriram fogo como foram ordenados, segundo a carta.
Pyongyang não confirmou o teor da carta e a imprensa estatal norte-coreana não mencionou o evento.
De acordo com analistas, a Coreia do Norte está tentando usar a mensagem para apaziguar o vizinho do Sul, onde o assassinato, o primeiro do exército norte-coreano em 10 anos, provocou indignação.
Em novembro de 2010, o exército de Pyongyang bombardeou a ilha sul-coreana de Yeonpyeong e matou quatro pessoas, dois civis e dois soldados. Alguns meses antes, um navio de guerra, o “Cheonan”, foi torpedeado, de acordo com Seul, por um submarino norte-coreano, um ataque que matou 46 marinheiro. Pyongyang sempre negou qualquer envolvimento.
A vítima, que trabalhava para a indústria pesqueira, morreu na terça-feira 22 e o corpo, deixado no mar em um primeiro momento, foi queimado mais tarde por temores de contaminação pelo novo coronavírus. Até o momento, a Coreia do Norte, que fechou as fronteiras no fim de janeiro, afirma que não registrou nenhum caso de Covid-19 em seu território. Não se sabe se isso se deve às restrições de locomoção impostas aos cidadãos, ou se o país vinha escondendo possíveis infecções.
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Clique e AssineEm julho, no entanto, o país admitiu um possível caso. De acordo com um relatório da agência de notícias oficial do governo comunista, um cidadão norte-coreano que fugiu para a Coreia do Sul e retornou ilegalmente ao país poderia ter sido infectado. Já a Coreia do Sul soma 23.455 casos, incluindo 395 mortes.
Ahn Chan-il, um desertor que virou um investigador com base em Seul, afirmou que é “extremamente raro que o comandante supremo do Norte peça desculpas, especialmente aos sul-coreanos e seu presidente”.
“Acredito que é a primeira vez desde 1976”, disse, em referência ao caso conhecido como “assassinato do machado”, a morte de dois soldados americanos por soldados norte-coreanos na Zona Desmilitarizada (DMZ).
Leif-Eric Easley, professor da Universidade de Ewha em Seul, disse que o suposto pedido de desculpas de Kim “reduz o risco de uma escalada entre as duas Coreias e mantém as esperanças de reconciliação de Moon”.
“É um gesto diplomático que evita um possível conflito a curto prazo e preserva a possibilidade de obter benefícios a longo prazo de Seul”, completou.
O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, que sempre defendeu relações melhores com Pyongyang, chamou o ato de “chocante” e intolerável.
(Com AFP)