Kamala formaliza vitória de Trump após Congresso certificar resultado eleitoral
Processo ocorre exatos quatro anos após horda de vândalos trumpistas tentar impedir oficialização da eleição de Joe Biden

A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, anunciou oficialmente a vitória do republicano Donald Trump na disputa presidencial americana de 2024, após o Congresso certificar os resultados do pleito. O processo ocorre exatos quatro anos após uma horda de vândalos trumpistas invadir o Capitólio, sede do Legislativo, em Washington, D.C., na tentativa de impedir a formalização da eleição do atual presidente, Joe Biden.
“O estado da votação para o presidente dos Estados Unidos, conforme entregue ao presidente do Senado, é o seguinte: o número total de eleitores nomeados para votar para presidente dos Estados Unidos é 538. Dentro desse número total, a maioria é 270. Os votos para presidente dos Estados Unidos são os seguintes: Donald J. Trump, do estado da Flórida, recebeu 312 votos”, disse Harris.
Aplausos altos irromperam dos republicanos. Harris — que, como vice, também é presidente do Senado — observou o plenário por um tempo e, então, bateu o martelo pedindo silêncio.
“Kamala D. Harris, do estado da Califórnia, recebeu 226 votos”, ela então disse, provocando aplausos dos democratas.
Os resultados da eleição cerimonial para vice-presidente também foram anunciados. Colega de chapa de Trump, o senador J.D. Vance, do estado de Ohio, alcançou 312 votos, como ele. Tim Walz, governador do estado de Minnesota, que concorreu ao lado de Kamala, recebeu 226.
“Esse anúncio do estado da votação pelo presidente do Senado será considerado uma declaração suficiente das pessoas eleitas presidente e vice-presidente dos Estados Unidos, cada um para um mandato começando no dia 20 de janeiro de 2025, e será inserido junto com a lista de votos nos diários da Câmara e do Senado”, completou Harris, encerrando a sessão conjunta da Câmara e do Senado.
Processo tranquilo sob sombra do passado
Ao contrário da última certificação, em 2021, desta vez não eram esperadas objeções ou violências. Mas uma sombra ainda paira sobre Trump e Washington a respeito do passado que, segundo o presidente Biden, muitos tentam apagar. No domingo, o mandatário denunciou, em artigo de opinião publicado no jornal americano The Washington Post, o que chamou de “esforços implacáveis” para minimizar o que aconteceu há quatro anos no Capitólio, quando apoiadores de Trump tentaram, na marra, impedir a certificação da vitória do democrata, resultando em sete mortes e mais de 2,8 milhões de dólares em danos.
O republicano continua fazendo falsas alegações, sem provas, de que perdeu a eleição de 2020 devido a uma suposta fraude eleitoral.
“Por grande parte de nossa história, esse processo foi tratado como uma formalidade, um ato rotineiro. Depois do que todos nós testemunhamos em 6 de janeiro de 2021, sabemos que nunca mais podemos tomá-lo como garantido”, disse Biden. “Devemos lembrar da sabedoria do ditado de que qualquer nação que esquece seu passado está condenada a repeti-lo.”
Perguntado, um pouco antes, se vê o seu sucessor como uma ameaça à democracia, ele respondeu: “Eu acho que o que ele fez foi uma ameaça genuína à democracia. Tenho esperança de que já tenhamos superado isso”. Apesar da fala, fontes disseram à agência Associated Press que, mesmo antes da eleição presidencial, a equipe de Biden debate se ele deveria conceder indultos preventivos a uma série de inimigos de Trump para protegê-los de “represálias”.
As autoridades da Casa Branca não acreditam que os possíveis beneficiários tenham de fato cometido crimes, mas estão cada vez mais preocupadas com as repetidas ameaças de vingança feitas por Trump.
O republicano, que ainda não reconhece a derrota em 2020, por sua vez, prometeu conceder perdão a alguns dos mais de 1.500 trumpistas acusados de participar da invasão em 2021. Ao ser levado à prisão na primeira semana de dezembro, um dos invasores, Philip Grillo, disse à mídia americana que acredita que “o presidente eleito vai me tirar da cadeia assim que tomar posse”.
Grande parte dos infratores que podem receber perdões é formada por pessoas acusadas de delitos menores, como invasão de propriedade, mas que não foram acusadas de violência, segundo especialistas jurídicos ouvidos pela agência de notícias Reuters. Alguns réus de alto perfil que enfrentaram apenas acusações de delito menor incluem o fundador do Cowboys for Trump e ex-oficial eleito republicano Couy Griffin, do Novo México, e Rebecca Lavrenz, apelidada de “J6 Praying Grandma”, que Trump disse ter sido “injustamente visada”.
Mais de 170 pessoas foram acusadas de usar armas ou ferir policiais no ataque de 6 de janeiro. Um deles é Julian Khater, que foi condenado a mais de seis anos de prisão por realizar um ataque com spray de pimenta contra três policiais, incluindo Brian Sicknick, que morreu no dia seguinte.