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Itamaraty emite alarme a diplomatas bem posicionados nos governos do PT

Chanceler Ernesto Araújo exonera chefe da Divisão da Europa Ocidental por ter trabalhado em área comandada por Marco Aurélio Garcia

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 23 out 2019, 17h34 - Publicado em 23 out 2019, 14h30

Um novo alarme de “caça às bruxas” soa no Itamaraty desde a terça-feira 22. O Diário Oficial da União trouxe impressa a exoneração de Audo Araújo Faleiro, ministro de segunda classe da carreira diplomática, do cargo de chefe da Divisão de Europa Ocidental. Ele assumira o posto seis dias antes, depois do aval da  Casa Civil, que escrutinada sua folha de serviços de 23 anos. A milícia digital da extrema-direita, porém, encontrou motivo para assassinar sua reputação: Faleiro trabalhou por seis anos na assessoria internacional da Presidência da República durante os governos do PT, sob o comando de Marco Aurélio Garcia, e antes servira na embaixada brasileira na Venezuela.

O caso repercutiu imediatamente no Itamaraty. A portaria de exoneração foi assinada pelo chanceler Ernesto Araújo que, em sua tese no Curso de Altos Estudos do ministério elogiara a política externa do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que atuara no gabinete de Mauro Vieira quando ministro das Relações Exteriores de Dilma Rousseff. Vários diplomatas em posições muito mais relevantes do que as assumidas por Faleiro durante os governos petistas estão em cargos de prestígio na atual estrutura do Itamaraty, com direito ao adicional por função de confiança. Ainda não se tornaram alvos da milícia digital. Mas podem ser os próximos linchados.

Outros diplomatas em bons cargos durante as gestões de Lula e de Rousseff mesmo sem engajamento à orientação da esquerda, caíram no ostracismo. Vários deles esperam por um posto na sala 203 do anexo 1 do Itamaraty, batizada como “Parque dos Dinossauros”. Há ainda os que estão alocados em áreas administrativas, mas sem função específica. Todos esses profissionais concursados e com vasta experiência recebem seus salários-base sem exercer nenhuma sem função específica enquanto esperam uma nomeação.

Fontes do Itamaraty disseram que Faleiro foi comunicado por seus superiores sobre a decisão do ministro das Relações Exteriores na sexta-feira, 18. Atuara apenas três dias na Divisão de Europa Ocidental, um cargo abaixo de seu patamar na carreira, mas que poderia ser uma alavanca para sua promoção a ministro de primeira classe (mais comumente chamado de embaixador). Viera de Paris, onde servira por quatro anos na embaixada brasileira. Faleiro poderia contribuir para a recuperação das relações entre Brasil e França, desgastada pelos atritos entre os presidentes Jair Bolsonaro e Emmanuel Macron em torno dos incêndios na Amazônia. Como diplomata, cumpre ordens, mesmo contrariado. Seus colegas garantem que ele não é filiado a partidos nem tem perfis em redes sociais. Procurado, Faleiro preferiu não fazer comentários.

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Sua vinculação com Garcia havia sido apontada em nota pelo portal de notícias O Antagonista no dia 17, com o rosto do chanceler estampado. Dois vídeos foram anexados. Em um deles, Faleiro explica a política externa petista, em espanhol, a um grupo. No segundo, comenta sua participação em um encontro da ala Articulação, do PT, no qual representou Garcia. Pelo Twitter, o site divulgara a mesma nota com o título “Ernesto Araújo nomeia ex-assessor de Marco Aurélio Garcia para chefiar relações com a Europa”. Foi retuitado 13 vezes, recebeu 50 comentários, espalhou-se nas redes.

O diplomata deverá fazer companhia a outra vítima da atual gestão do Itamaraty, o embaixador Paulo Roberto de Almeida, que passa seus dias na Biblioteca do ministério. Almeida foi exonerado do cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri) em março por ter publicado em seu blog três artigos: do embaixador aposentado Rubens Ricupero e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticando Araújo e do próprio chanceler rebatendo os outros dois. Foi alocado na Divisão de Arquivos, no segundo subsolo do Anexo 2 do Itamaraty, onde celular e wifi não funcionam. Por isso, prefere a convivência com os livros. Agora, com Faleiro dividindo a mesa.

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