Israel empossa novo chefe do Exército com cessar-fogo de Gaza em jogo
Antigo comandante renunciou ao cargo após assumir responsabilidade por falhas de segurança que levaram ao ataque do Hamas contra Israel

Israel empossou o novo comandante de seu Exército nesta quarta-feira, 5, em meio a um impasse sobre o já frágil cessar-fogo em Gaza. A incerteza sobre a continuidade da trégua, visto que ainda não há acordo para libertar o restante dos reféns em posse do Hamas nem indicação de um caminho futuro para a estabilização do enclave palestino, aumentou o risco de uma retomada dos combates.
Eyal Zamir, um ex-comandante de tanques que havia se aposentado após 28 anos com a patente de major-general, antes de ser chamado de volta ao serviço, foi promovido a tenente-general antes de assumir formalmente o comando das Forças Armadas. Ele substituiu o general Herzi Halevi, que renunciou ao cargo devido às falhas de segurança que contribuíram para a mortandade dos ataques de 7 de outubro de 2023 contra comunidades do sul israelense.
“A missão ainda não está completa”, declarou ele em um discurso ao assumir o comando, dizendo que o Hamas ainda não havia sido derrotado. “Não perdoaremos, não esqueceremos. Esta é uma guerra existencial. Persistiremos em nossa campanha para trazer nossos reféns para casa e derrotar nossos inimigos”, acrescentou.
Os combates em Gaza foram interrompidos em 19 de janeiro sob uma trégua mediada pelo Catar, Egito e pelos Estados Unidos, que permitiu a troca de 33 reféns israelenses e cinco tailandeses por cerca de 2 mil palestinos detidos em prisões de Israel. Um cessar-fogo separado também interrompeu, no final do ano passado, uma guerra relacionada no sul do Líbano, que eclodiu depois que o Hezbollah, milícia apoiada pelo Irã, passou a atacar os israelenses em solidariedade ao Hamas.
No entanto, autoridades israelenses alertaram que suas forças podem retomar os combates se não houvesse um acordo para trazer de volta os 59 reféns que continuam em cativeiro, metade dos quais acredita-se estarem vivos. Os soldados israelenses recuaram de algumas de suas posições em Gaza, mas as negociações sobre a fase 2 do acordo, que pretendia tratar da libertação dos reféns e a retirada total de Israel do enclave, não começaram.
Tel Aviv pediu uma extensão da primeira fase da trégua até a Páscoa judaica, em abril, para permitir a libertação dos reféns restantes. O Hamas, por sua vez, insistiu em prosseguir com as negociações sobre o fim permanente da guerra antes de soltar mais cativos.
Responsabilização
A nomeação de Zamir ocorre num contexto em que uma série de inquéritos oficiais começaram a examinar as falhas do Estado que permitiram que milhares de homens armados liderados pelo Hamas invadissem Israel em 7 de outubro de 2023, matando 1.200 pessoas e capturando 251 reféns. O episódio é considerado um dos maiores desastres militares e de segurança da história do país.
Herzi Halevi liderou as Forças Armadas israelenses em sua campanha em Gaza, que matou mais de 48 mil palestinos e destruiu grande parte do enclave, deslocando 90% da população. Mas ele anunciou em janeiro, logo após o anúncio do cessar-fogo em Gaza, que deixaria o posto, aceitando a responsabilidade pela resposta ineficaz dos militares ao ataque do Hamas.
Nesta quarta-feira, ele exigiu um exame mais amplo das falhas no fatídico 7 de outubro. “O estabelecimento de uma comissão estadual de inquérito é necessário e essencial — não para atribuir culpas, mas antes de tudo, para entender a raiz dos problemas e permitir a correção”, disse.
Tanto as Forças de Defesa de Israel (FDI, na sigla em inglês) quanto a agência de segurança doméstica Shin Bet reconheceram que sua responsabilidade pelo ataque. Um relatório da Shin Bet divulgado na terça-feira 4 também atribuiu culpa parcial ao governo pelo episódio. Mas o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, até agora não admitiu erros e resistiu a uma investigação mais ampla.
O novo comandante do Exército também terá que responder a acusações de órgãos internacionais, incluindo as Nações Unidas, de que militares israelenses cometeram crimes de guerra durante a campanha em Gaza. Israel rejeitou as alegações, que disse serem motivadas por hostilidade política em relação ao país, embora tenha indiciado alguns reservistas por abuso grave de detidos.