Irlanda decide que adotados podem ter informações sobre família biológica
Novo sistema do governo quebra sigilo de registros de adoção pela primeira vez e permitirá que milhares de irlandeses encontrem parentes perdidos
O governo da Irlanda anunciou nesta semana a criação de um novo sistema que permitirá que os adotados nascidos no país acessem, pela primeira vez, informações sobre sua origem. A nova medida deixará disponíveis online os dados do sistema de adoção irlandês, que estiveram sob sigilo por décadas.
Ativistas dos direitos de adoção afirmam que o programa tem o potencial de ser um passo significativo no reconhecimento do passado do país, quando mães solteiras foram pressionadas por décadas a desistir de seus bebês.
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Além de garantir aos adotados o acesso a qualquer informação que o Estado tenha sobre eles, o serviço também oferece o rastreamento gratuito para qualquer pessoa, incluindo mães biológicas que queiram encontrar filhos biológicos perdidos por meio do sistema. Os pedidos de informação podem levar até 30 dias para serem respondidos pelas autoridades.
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Até 1998, milhares de mulheres e meninas grávidas e solteiras na Irlanda foram confinadas a “casas de mães e bebês” administradas pela igreja, onde eram esperadas e muitas vezes pressionadas a desistir de seus bebês após o nascimento.
A maioria das crianças foi colocada para adoção, às vezes no exterior. Pelo menos 2.000 adotados nascidos na Irlanda foram levados para os Estados Unidos, de acordo com a Adoption Rights Alliance, um grupo ativista.
Um inquérito oficial publicado no ano passado reconheceu más condições, altas taxas de mortalidade e abusos nas instituições.
A Irlanda criou uma estrutura legal para adoção em 1953, sob a qual as autoridades dizem que mais de 48.000 pessoas foram adotadas. No entanto, estima-se que dezenas de milhares foram adotados ou criados informalmente antes disso, com algumas crianças registradas ilegalmente como filhos de seus pais adotivos.
O novo serviço recebeu mais de 1.000 solicitações nos primeiros três dias de funcionamento, de acordo com o órgão de adoção da Irlanda. No mês passado, cerca de 16.000 pessoas adotadas e pais biológicos registraram o desejo de serem contatados por parentes.
Claire McGettrick, cofundadora da Adoption Rights Alliance, organização ativista da causa, disse ao jornal The New York Times que muitos adotados irlandeses já haviam rastreado suas certidões de nascimento e, com elas, os nomes de suas mães (e às vezes pais).
Segundo McGettrick, centenas de pessoas ainda esperavam obter informações sobre seus nascimentos, primeiros anos de vida e cuidados de saúde, e a legalidade ou não de suas adoções.
Mas os ativistas pelos direitos da adoção reclamam que ainda existe um desequilíbrio entre mães biológicas e adotados. As mães só recebem informações se o filho registrar o interesse em ser rastreado.
Já os adotados podem obter a certidão de nascimento completa, incluindo o nome da mãe, mesmo que ela peça para não ser contatada, porque têm direito às suas próprias informações pessoais.
Os arquivos do sistema de adoção do país também serão realocado em novo local, como parte de um memorial para aqueles que sofreram ou morreram nos lares de mães e bebês.