Irã impõe condições para manter acordo nuclear com a Europa
Líder supremo iraniano exige que as potências europeias protejam o comércio de petróleo iraniano das sanções que EUA devem reimpor
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, fixou na quarta-feira (23) uma série de condições para as potências europeias que desejarem a permanência de Teerã no acordo nuclear de 2015, depois da saída dos Estados Unidos. As condições incluem os passos necessários para proteger o comércio europeu com o país persa e garantir os negócios relacionados ao petróleo iraniano.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deixou neste mês o acordo nuclear de 2015, que suspendeu sanções sobre o Irã em troca de contenções de seu programa nuclear. Imediatamente, Washington anunciou novas sanções econômicas a Teerã.
As potências europeias não concordaram com a saída, pois veem o acordo internacional como a melhor chance de impedir Teerã de desenvolver uma arma nuclear e intensificaram esforços para preservá-lo. Além disso, suas empresas têm inúmeros negócios com o Irã.
“Bancos europeus devem salvaguardar comércio com a República Islâmica. Nós não queremos começar uma luta com estes três países (França, Alemanha e Reino Unido), mas tampouco confiamos neles”, disse Khamenei, ao impor as condições para salvar o pacto nuclear.
Ele estipulou que as potências europeias devam proteger vendas de petróleo iraniano de planos norte-americanos de afundá-las com as sanções globais sobre Teerã e continuar comprando petróleo iraniano.
Segundo o aiatolá, Reino Unido, França e Alemanha devem prometer que não irão buscar negociações sobre o programa de mísseis balísticos do Irã e sobre suas atividades regionais, ambos tópicos que não estão no pacto nuclear, mas agora passaram a ser exigidos por Washington.
Khamenei disse que, durante os últimos dois anos, os Estados Unidos “vinham repetidamente violado” o acordo nuclear enquanto os europeus permaneciam em silêncio. Ele pediu para a Europa “compensar o silêncio” e “se levantar contra (novas) sanções dos Estados Unidos”.
Também alertou que, se europeus não cumprirem essas exigências, o Irã irá retomar seu enriquecimento de urânio, pausado sob o acordo para minimizar o risco de Teerã desenvolver armas nucleares.
“EUA não honram seus compromissos”
Khamenei também criticou a rejeição de Washington do acordo nuclear, dizendo que a saída norte-americana mostrou que a República Islâmica não pode negociar com um país que não honra seus compromissos.
Em suas primeiras afirmações públicas desde que o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, exigiu que o Irã fizesse mudanças políticas amplas, Khamenei expressou repulsa com o que sugeriu ser a maneira arrogante com a qual o governo Trump havia abandonado o acordo.
“A República Islâmica não pode negociar com um governo que viola facilmente um tratado internacional, abandona sua assinatura e, em ato teatral, se vangloria do abandono na televisão”, disse em trechos de seus comentários publicados em seu portal na internet.
Em uma clara referência às exigências feitas por Pompeo de que a influência de Teerã no Oriente Médio deveria ser contida, Khamenei disse: “A presença do Irã na região é nossa profundidade estratégica e nenhum governo sensato irá abandonar suas características fortalecedoras”.
Pompeo ameaçou o Irã na segunda-feira com “as sanções mais fortes da história” se o país não diminuir atividades regionais, como apoio a grupos armados no Líbano, Iraque e Iêmen e ao governo sírio.
“A primeira experiência é que a República Islâmica não pode negociar com a América. Por quê? Porque a América não é leal aos seus compromissos”, disse.
“O Irã estava comprometido com o acordo. Eles (os norte-americanos) não têm desculpa. A Agência Internacional de Energia Atômica verificou repetidamente o comprometimento do Irã. Mas vocês veem que eles (norte-americanos) facilmente cancelaram este acordo internacional”.
Embora tenha dito não querer desistências de signatários europeus do acordo nuclear, Khamenei disse que a experiência havia mostrado que França, Alemanha e Reino Unido seguiram Washington nas “questões mais sensíveis”.
A França, uma das diversas potências europeias irritadas com a saída norte-americana do acordo nuclear, disse que o método de Washington de aplicar mais sanções sobre Teerã irá reforçar os linhas-duras dominantes do país, que eram opostos ao pacto desde o início.
O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, disse ao assessor de segurança nacional de Trump, John Bolton, que a Europa permanece “muito, muito unida” em apoiar o acordo porque teme a proliferação de armas atômicas em seus arredores.
(Com Reuters)