Investigação indica omissão do dalai-lama em casos de assédio e corrupção
Jornalistas franceses ouviram 32 discípulos que dizem ter sofrido algum tipo de abuso por seus mestres
Um livro publicado na França na última quarta-feira, 14, denuncia a “lei do silêncio” envolvendo supostos abusos dentro da religião budista tibetana, incluindo violência sexual, privações e corrupção financeira, além de culpar o dalai-lama e seu principal assessor e tradutor, Matthieu Ricard, por omissão e inação.
Em Budismo, a Lei do Silêncio, os jornalistas franceses Élodie Emery e Wandrille Lanos investigaram alguns dos centros budistas que se espalharam pelos países ocidentais nos últimos 40 anos e recolheram o depoimento de 32 discípulos que relataram ter sofrido algum tipo de abuso, o que envolve pelo menos 13 mestres diferentes.
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O livro denuncia ainda casos de crianças que teriam sido retiradas de seus pais e teriam sido vítimas de violência. Em algumas situações, meninas teriam sido forçadas a se tornar parceiras sexuais de seus mestres.
Essa não é a primeira denúncia contra membros do budismo tibetano. O mestre Sogyal Rinpoche, morto em 2019 e fundador da Rigpa, rede de 130 centros espirituais, foi acusado por oito ex-discípulos de agressão sexual. Ele chegou a ser alvo de uma punição simbólica em 2017 e foi obrigado pelo dalai-lama a se aposentar antes da hora.
De acordo com os autores, os casos não se tratam de “derivas sectárias isoladas” e fazem parte de um sistema que corrompe todo o budismo tibetano. Para eles, a causa principal para isso acontecer é a inação e a omissão das principais lideranças religiosas budistas.
“Até agora, as autoridades espirituais tibetanas têm ignorado as vozes das vítimas, alegando repetidamente que o assunto não é de sua responsabilidade. Tentativas de dentro para abordar a questão do abuso sexual nas comunidades foram enfrentadas com frieza ou hostilidade direta”, escrevem os jornalistas.
Os autores frisam ainda os “40 anos de silêncio” do dalai-lama, que já havia sido alertado do comportamento abusivo de seus mestres em 1993, durante encontro com outros membros europeus e americanos.
O livro também questiona o motivo pelo qual Matthieu Ricard, conhecido como o homem mais feliz do mundo, não reagiu às denúncias na última década. Entrevistado na última quarta-feira pela rádio francesa France Inter, ele disse que era exagerado dizer que ele não tinha feito nada.
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Segundo ele, é importante que os “desvios” sejam denunciados, além de reconhecer que, devido à sua fama, deveria ter denunciado de maneira mais efusiva. Por fim, Ricard disse que o budismo carece de uma “estrutura institucional”.
“Há centenas, se não milhares, de centros budistas no mundo. Não há uma autoridade central. Todos estes centros são totalmente independentes”, afirmou.