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Investigação: dados do próprio Exército de Israel mostram que 83% dos mortos em Gaza são civis

Informações obtidas por grupo de jornais revelam que o IDF lista apenas 8.900 combatentes mortos até maio; porta-voz rejeita números

Por Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 ago 2025, 16h27 - Publicado em 21 ago 2025, 12h32

Uma investigação revelou nesta quinta-feira, 21, que dados do próprio Exército de Israel, o IDF, mostram que cinco em cada seis palestinos mortos pelas forças israelenses ao longo da guerra em Gaza eram civis. As informações do banco de dados confidencial da inteligência militar de Tel Aviv foram obtidas por um grupo formado pelo jornal britânico The Guardian, a revista israelense-palestina +972 e o jornal hebraico Local Call.

Os dados compreendem o período de 7 de outubro de 2023, quando o ataque do Hamas contra Israel fez eclodir o conflito, até o fim de maio deste ano. Nesses 19 meses, a inteligência israelense registrou 8.900 mortes, ou “mortes prováveis”, de combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica Palestina, outra facção do território.

Enquanto isso, o número total de baixas palestinas nesse período foi de 53 mil palestinos, segundo autoridades de saúde de Gaza, que não fazem distinção entre civis e terroristas. Ou seja, os militantes nomeados no banco de dados israelense são apenas 17% do total — o que significa que 83% são civis. O IDF costuma descartar os dados vindos de Gaza como “propaganda” do Hamas, mas fontes no Exército israelense disseram ao Local Call que a contagem do Ministério da Saúde no enclave é, sim, confiável.

Anteriormente, políticos e generais israelenses estimaram o número de militantes mortos em até 20 mil, ou chegaram a alegar que a proporção de civis para combatentes mortos era de 1:1.

Além disso, o banco de dados menciona 47.653 palestinos considerados ativos nas alas militares do Hamas e da Jihad Islâmica Palestina, com base em documentos internos dos grupos apreendidos em Gaza. E embora grande parte do enclave tenha sido reduzida a escombros, com dezenas de milhares de mortos, o banco lista quase 40 mil pessoas consideradas militantes pelo Exército ainda vivas. Esses documentos não foram verificados pela investigação dos grupos de mídia, enquanto o direito internacional proíbe o ataque a pessoas que não estejam envolvidas em combate, mesmo que essas figuras realmente tenham alguma conexão com os dois grupos.

“As pessoas são promovidas ao posto de terroristas após a morte”, disse ao Guardian uma fonte de inteligência que acompanhou invasões terrestres em Gaza. “Se eu tivesse dado ouvidos à brigada, teria chegado à conclusão de que havíamos matado 200% dos agentes do Hamas na área.”

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Pódio indesejado

A proporção de civis mortos em Gaza é alta em relação a outros conflitos modernos, mesmo na comparação com situações conhecidas por assassinatos indiscriminados, incluindo as guerras civis na Síria e no Sudão. E esse dado pode ter aumentado ainda mais desde maio, quando a GHF, empresa privada ligada aos Estados Unidos e coordenada pelos militares de Israel, substituiu as Nações Unidas na distribuição de alimentos no enclave. O escritório de Direitos Humanos da ONU diz que mais de 1.000 pessoas morreram, em sua maioria baleadas pelo IDF, perto dos centros de ajuda humanitária desde então.

Segundo o Programa de Dados de Conflitos de Uppsala (UCDP, na sigla em inglês), que monitora as baixas civis em todo o mundo desde 1989, a porcentagem de cidadãos comuns mortos em Gaza perde apenas apenas o cerco russo de Mariupol, no início da guerra na Ucrânia, o genocídio de Ruanda em 1994 e Srebenica, que viu um massacre de bósnios muçulmanos em 1995 no contexto do conflito da Bósnia (parte da dissolução da antiga Iugoslávia).

Isso está relacionado à natureza do conflito. Em Gaza, Israel combate o Hamas em cidades densamente povoadas. “Estamos falando de uma campanha de assassinatos seletivos, na verdade, em vez de batalhas, e elas são realizadas sem nenhuma preocupação com os civis”, afirmou Mary Kaldor, diretora do Programa de Pesquisa de Conflitos na London School of Economics, no Reino Unido.

A acadêmica falou ao Guardian que, por conta desse formato, a proporção de civis mortos no enclave está mais perto daquela vista nas guerras recentes no Sudão, Iêmen, Uganda e Síria, onde grande parte da violência foi direcionada contra a população. “Estas são guerras em que os grupos armados tendem a evitar a batalha. Eles não querem lutar entre si, querem controlar o território e fazem isso matando civis”, completou Kaldor.

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Enquanto isso, Neta Crawford, professora de Relações Internacionais da Universidade de Oxford e cofundadora do projeto Custos da Guerra, avalia que as táticas israelenses marcaram um abandono “preocupante” de décadas de práticas desenvolvidas para proteger civis em conflitos.

O que diz Israel

O jornal Local Call e a revista +972 entraram em contato com o IDF para confirmar as informações. Os militares israelenses não contestaram a existência do banco de dados nem as informações sobre o número de mortos do Hamas e da Jihad Islâmica Palestina. Uma declaração do Exército ao Guardian, no entanto, mudou a versão ao afirmar que “os números apresentados na reportagem estão incorretos”, sem especificar quais, e “não refletem os dados disponíveis nos sistemas do IDF”, sem detalhar quais sistemas.

O porta-voz da IDF para o Brasil, major da reserva Rafael Rozenszajn, também rejeitou as informações da reportagem, afirmando que as “contínuas e rigorosas” avaliações de inteligência sobre combatentes neutralizados não condizem com os dados obtidos pelo grupo de mídia por trás da investigação. Segundo ele, as alegações apresentadas “carecem de precisão” e “demonstram incompreensão sobre metodologias militares padrão”.

“Segundo dados do Hamas, aproximadamente 55 mil pessoas foram registradas como mortas. Nossa análise indica que, deste total, pelo menos 10 mil mortes ocorreram por causas naturais, cerca de 25 mil eram combatentes e em torno de 20 mil são civis. Este índice representa um padrão sem precedentes em operações militares urbanas similares”, garantiu Rozenszajn, acrescentando que o IDF opera como força militar profissional, seguindo protocolos operacionais reconhecidos internacionalmente.

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Número de mortos pode ser mais alto

Enquanto isso, organizações internacionais consideram que tanto Israel quanto autoridades de Gaza subestimam o número de mortos no conflito. Em janeiro, uma pesquisa publicada no prestigiado Lancet estimou que as baixas palestinas durante os primeiros nove meses da guerra Israel-Hamas era 40% superior aos anunciados. A análise estatística revisada por pares foi conduzida por acadêmicos da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e de outras instituições respeitadas.

Atualmente, o Ministério da Saúde de Gaza diz que mais de 62 mil pessoas morreram desde o início do conflito. Caso a proporção no estudo do Lancet se mantenha, o número real seria 86,8 mil mortos.

Na época da publicação, a pesquisa estimou que 60% das vítimas eram mulheres, crianças e pessoas com mais de 65 anos — consideradas civis —, mas não forneceu dados sobre combatentes entre os mortos.

Itzhak Brik, general aposentado entrevistado pelo Guardian, disse que os soldados israelenses em serviço sabem que os políticos exageram o número de terroristas mortos. Enquanto isso, Muhammad Shehada, analista palestino, afirmou ao jornal britânico que, até dezembro de 2024, apenas 6.500 pessoas das alas militar e política do Hamas e da Jihad Islâmica Palestina foram abatidas, segundo membros dos dois grupos.

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“Israel expande as fronteiras para poder definir cada um dos habitantes de Gaza como membro do Hamas”, declarou Shehada.

Nota de instituições a VEJA

Após a publicação desta reportagem, os grupos Hasbará Brasil e Juventude Judaica Organizada, bem como o rabino Pessach Kaufman, se manifestaram por escrito.

“A manchete publicada sugere que ‘o IDF afirmou’ que 83% dos mortos em Gaza seriam civis. Isso é incorreto. O número de 17% de combatentes citado pelo Guardian não é o total de militantes eliminados, mas apenas os nomeados em um banco parcial até maio. O ‘83% de civis’ é uma construção jornalística: uma subtração entre esse banco e os 53 mil mortos informados pelo Ministério da Saúde de Gaza, fonte controlada pelo Hamas e sem depuração metodológica. Assim, combatentes não identificados e outras facções foram simplesmente tratados como ‘civis’. O próprio Hamas admitiu 6 mil baixas em apenas quatro meses de guerra, e o IDF estima mais de 20 mil combatentes eliminados — números incompatíveis com a narrativa de ‘8.900 em 19 meses’. Não se trata de negar o custo humano, mas de exigir rigor. O ‘83%’ não é estatística oficial.”

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