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Instalação de base dos EUA no Brasil gera críticas entre militares

Chanceler Ernesto Araújo confirmou intenções do presidente Jair Bolsonaro em negociar construção da base

Por Estadão Conteúdo
Atualizado em 5 jan 2019, 14h12 - Publicado em 5 jan 2019, 12h15

A possibilidade de o governo do Brasil ceder espaço territorial para instalação no país de uma base militar dos Estados Unidos é desnecessária e inoportuna na opinião de três generais e três oficiais superiores ouvidos nesta sexta-feira, 4.

Admitida em entrevista ao SBT pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo chanceler Ernesto Araújo como uma questão a ser estudada no futuro, a ideia não se afina com a política nacional de Defesa.

Na prática, a iniciativa pode ser um fator complicador nas delicadas discussões bilaterais para uso do Centro de Lançamento de Alcântara, da Força Aérea, no Maranhão.

A posição do complexo e as condições climáticas favoráveis na maior parte do ano contribuem para redução significativa dos custos da operação comercial do transporte espacial para posicionamento de satélites. Os americanos gostariam de um aluguel de longo prazo. Os brasileiros querem vender serviços em regime de cooperação – todavia, sem ceder o controle da base.

Durante os anos finais da 2.ª Guerra Mundial, a aviação dos Aliados, liderada pelos Estados Unidos em larga proporção, negociou a construção em Parnamirim, no Rio Grande do Norte, de uma gigantesca base aérea. Duas pistas, 700 prédios, 4.600 combatentes e tráfego diário de 400 a 600 aeronaves para lançar ataques contra objetivos no norte da África e sul da Europa.

Em 1945, nos termos do acordo firmado entre os presidentes Getúlio Vargas e Franklin Roosevelt, aviões e pessoal americanos saíram das instalações. Nos quatro anos de operação conjunta da base, a população da capital, Natal, dobrara de 40.000 habitantes para 80.000.

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Documentos do Departamento de Estado registram uma tentativa de prorrogação do pacto de colaboração, em 1946, por um período de 50 anos. A chancelaria do Brasil informou a Washington que a então recém-criada FAB tinha planos próprios para o conjunto. Ao longo do tempo, nenhum outro tratado do mesmo tipo foi negociado.

As Forças Armadas mantêm acordos com organizações militares estrangeiras para receber grupos de treinamento especializado – por exemplo, em disciplinas de guerra na selva – ou para exercícios combinados de combate aéreo. E é só.

Instalação da base americana

O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, afirmou nesta sexta-feira 4, durante encontro do Grupo de Lima – bloco de países latino-americanos que monitoram a crise na Venezuela -, que o presidente Jair Bolsonaro “não exclui a possibilidade” da instalação de uma base militar americana no Brasil. Segundo Araújo, caso isso aconteça, faria parte de “agenda mais ampla” do país com os Estados Unidos.

“O presidente não exclui esse tipo de possibilidade. Temos todo interesse em aumentar a cooperação com Estados Unidos em todas as áreas. Isso é algo que tem que ser conversado. Não haveria problema na questão de uma presença desse tipo”, afirmou Araújo, em Lima, quando questionado sobre o assunto.

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O Ministério da Defesa, no entanto, disse que desconhece qualquer tratativa desse tipo.

Anteontem, Bolsonaro foi questionado sobre o tema em entrevista ao SBT e afirmou que a instalação poderia ocorrer no futuro. O presidente admitiu uma aproximação bélica com os Estados Unidos. “A questão física pode ser até simbólica”, disse Bolsonaro.

De acordo com o chanceler, o tema poderia ser discutido até março, caso Bolsonaro encontre o presidente Donald Trump, em viagem oficial.

“(A base) seria parte de uma agenda muito mais ampla que queremos ter com EUA, que creio que os EUA querem ter conosco. Então, quando tivermos essa visita, esperamos que a tenhamos como o presidente quer, até março, haverá uma agenda que cobrirá além de cooperação e defesa, segurança, temas de comercio e economia.”

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Ontem, Bolsonaro voltou a se manifestar favoravelmente à instalação de uma base militar dos Estados Unidos em território brasileiro. Defensor da aproximação diplomática e comercial com os EUA e admirador de Trump, Bolsonaro disse considerar o povo americano “amigo” e vinculou um possível acordo futuro com o país a questões de segurança nacional.

Bolsonaro afirmou que existe interesse dos Estados Unidos em instalar uma nova base militar na América do Sul, dois dias depois de receber o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, em audiência reservada no Palácio do Planalto. Questionado se havia tratado do tema com autoridades americanas, Bolsonaro disse apenas que países vizinhos ao Brasil estão sendo prospectados para receber a unidade militar.

“Nós temos que nos preocupar com nossa segurança, com a nossa soberania, e eu tenho o povo americano como amigo”, disse Bolsonaro, depois de participar da cerimônia de transmissão do Comando da Aeronáutica, na Base Aérea de Brasília.

Defesa

A assessoria do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, informou que ele “não tem conhecimento de qualquer tratativa nesse sentido e que não tratou do tema com o presidente”.

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O Ministério disse que não seria possível avaliar vantagens e desvantagens para as Forças Armadas brasileiras “sem ter conhecimento de possíveis condicionantes envolvendo o tema”.

Oficiais das Forças Armadas consultados reagiram com surpresa à declaração do presidente. Eles avaliam que Bolsonaro falou em tom de especulação.

Os Estados Unidos têm cooperação militar com o Brasil e outros países sul-americanos, como Peru e Colômbia, onde mantêm bases militares.

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